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Emergência em Espanha
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Emergência em Espanha
Estará Espanha em situação de emergência? Qualquer pessoa com senso comum diria que não. A economia está a crescer no último trimestre do ano a um ritmo próximo do 1% - quase uns 4% em taxa homóloga - e fomos capazes de criar até 60% de todo o emprego da União Europeia. A inflação está em terreno mínimo. As exportações aumentam a bom ritmo. O défice público foi corrigido. O cenário seria esperançoso se não tivéssemos acabado de realizar umas eleições gerais nas quais os cidadãos promoveram um cenário político diabólico. O atual primeiro-ministro, o Sr. Rajoy, enfrenta dificuldades quase intransponíveis para voltar a formar governo, como aconteceu em Portugal com Passos Coelho, mas há uma diferença importante entre os dois países. Em Espanha, o Partido Socialista não soma os deputados suficientes para alcançar o poder com o Podemos - o partido de Pablo Iglesias, que é semelhante ao Bloco de Esquerda de Portugal - e com o que resta do antigo Partido Comunista: necessitaria para isso da confluência de outras formações políticas nacionalistas que dariam lugar a um executivo grotesco, muito mais do que o por-tuguês.
O mais original e perturbador da política espanhola, ao contrário do que aconteceu em Portugal, foi a irrupção do Podemos com 69 deputados e mais de cinco milhões de votos, que são muitos. A razão é que não se trata de um partido convencional. É imprevisível. O Po- demos, como o Bloco de Esquerda em Portugal, é um partido populista. O seu principal objetivo é chegar ao governo seja como for, é indiferente que seja a dizer uma coisa e o seu contrário. Apenas é leal ao seu objetivo genuíno, que é alcançar o poder a qualquer preço para impor a sua agenda, que é uma agenda muito clara: em primeiro lugar substituir o Partido Socialista - o progressismo convencional e ridículo de sempre - como referência da esquerda espanhola e, logo, estabelecer um Estado à venezuelana, espoliando os ricos para dar de comer aos pobres com a previsível consequência de miséria como a que assola o país ainda governado pelo Sr. Maduro. Na opinião do Podemos, a Espanha está em estado de emergência porque acontecem despejos sem que haja uma alternativa de habitação para os implicados, porque o ajustamento do défice público obrigou a cortar nas prestações sociais e porque, dito de maneira clara, há que estabelecer um plano de resgate para os cidadãos mais desprotegidos.
Naturalmente, tudo isto que o Podemos apresenta é falso. As entidades bancárias são as menos interessadas em ficar com as casas daqueles que não as podem pagar e só recorreram a esses despejos em casos extremos, quando não foi possível chegar a um acordo com os morosos. Por outro lado, o Sr. Rajoy manteve a despesa social em níveis muito altos a fim de evitar que as pessoas mais expostas à crise passassem mais aflições do que as necessárias. Tudo o que diz o Sr. Iglesias, tal como o Bloco de Esquerda em Portugal, é uma grande mentira, que à força de ser constantemente repetida acaba por ser assumida pela população como uma verdade, como previu Goebbels à época. Um plano como o prometido pela esquerda populista para permitir um governo de esquerda em Espanha acarretaria uns custos tremendos. Só poderia ser financiado com um aumento brutal dos impostos às classes média e alta, que já suportam uma das pressões fiscais mais elevadas da UE, e que reagiriam fugindo de Espanha em busca de refúgios menos hostis, deixando de investir ou incorrendo na evasão fiscal e na economia paralela. Nada é gratuito em economia, e são as propostas levadas a cabo na melhor das fés as que acabam por ter resultados mais penalizadores.
Apesar das evidentes contradições do populismo, parece que, tal como em Portugal, os socialistas estão dispostos a chegar a um acordo com o partido de Pablo Iglesias. A razão é evidente: o programa não combinado, mas comum à esquerda é tirar a direita do poder. Derrubá-la a qualquer preço. Noutros países, por exemplo na Alemanha, há uma tradição antiga de pactos entre uns e outros em prol do interesse comum, mas o mesmo não acontece em Espanha. E não acontece porque, ao contrário do que também se passa desde sempre no Reino Unido, a esquerda jamais reconheceu mérito algum nos evidentes sucessos da direita. Como a esquerda governou em Espanha muitos mais anos, como acedeu ao governo pouco depois da morte de Franco, sempre acreditou ser a natural depo-sitária do poder e considera um atentado à natureza política que os cidadãos ousem arrebatar-lho.
A campanha eleitoral do Partido Socialista baseou-se em prometer que anularia tudo aquilo que a direita fez durante os últimos quatro anos: a reforma laboral, que tão bons efeitos teve no mercado de trabalho; a reforma da educação, que pela primeira vez na história trata de recriar um sistema baseado no mérito e no esforço dos estudantes a fim de produzir os melhores resultados possíveis; a austeridade orçamental, que nos permitiu cumprir com os planos de redução do défice público combinados com Bruxelas. Etecetera. Tudo isto é o que o Partido Socialista quer liquidar e o que torna realmente impossível um acordo com o Sr. Rajoy, pois seria algo assim como desmantelar os pilares que permitiram reconstruir a nação que o Sr. Zapatero deixou há quatro anos em risco de derrocada.
Não sabemos ainda quem governará Espanha. Mas temos algumas certezas. Por exemplo, governe quem governe, ocupará o poder por pouco tempo, pois a distribuição de deputados originada pelas eleições legislativas é um obstáculo insanável para levar por diante grandes projetos de mudança. Ou seja, estamos condenados a novas eleições em breve. Em segundo lugar, a economia espanhola, apesar da sua força e da sua tendência para o crescimento, vai enfraquecer como consequência do complexo cenário parlamentar. As piores crises económicas são as de origem política. Primeiro, porque as análises feitas são erradas, como é o caso do PSOE e do Podemos; segundo, porque, à partida, a agenda estabelecida é errada, e terceiro, porque se promove a instabilidade correspondente. Espanha continua a ser um país muito vulnerável. Se, como é previsível, as taxas de juro caminharem irremediavelmente para a subida, o preço das matérias-primas as acompanhar - uma coisa fatal para um país tão dependente do petróleo como o meu -, e formos incapazes, dada a aritmética política, de prosseguir com as reformas estruturais, estamos destinados a passar francamente mal.
04 DE JANEIRO DE 2016
00:05
Miguel Angel Belloso
Diário de Notícias
O mais original e perturbador da política espanhola, ao contrário do que aconteceu em Portugal, foi a irrupção do Podemos com 69 deputados e mais de cinco milhões de votos, que são muitos. A razão é que não se trata de um partido convencional. É imprevisível. O Po- demos, como o Bloco de Esquerda em Portugal, é um partido populista. O seu principal objetivo é chegar ao governo seja como for, é indiferente que seja a dizer uma coisa e o seu contrário. Apenas é leal ao seu objetivo genuíno, que é alcançar o poder a qualquer preço para impor a sua agenda, que é uma agenda muito clara: em primeiro lugar substituir o Partido Socialista - o progressismo convencional e ridículo de sempre - como referência da esquerda espanhola e, logo, estabelecer um Estado à venezuelana, espoliando os ricos para dar de comer aos pobres com a previsível consequência de miséria como a que assola o país ainda governado pelo Sr. Maduro. Na opinião do Podemos, a Espanha está em estado de emergência porque acontecem despejos sem que haja uma alternativa de habitação para os implicados, porque o ajustamento do défice público obrigou a cortar nas prestações sociais e porque, dito de maneira clara, há que estabelecer um plano de resgate para os cidadãos mais desprotegidos.
Naturalmente, tudo isto que o Podemos apresenta é falso. As entidades bancárias são as menos interessadas em ficar com as casas daqueles que não as podem pagar e só recorreram a esses despejos em casos extremos, quando não foi possível chegar a um acordo com os morosos. Por outro lado, o Sr. Rajoy manteve a despesa social em níveis muito altos a fim de evitar que as pessoas mais expostas à crise passassem mais aflições do que as necessárias. Tudo o que diz o Sr. Iglesias, tal como o Bloco de Esquerda em Portugal, é uma grande mentira, que à força de ser constantemente repetida acaba por ser assumida pela população como uma verdade, como previu Goebbels à época. Um plano como o prometido pela esquerda populista para permitir um governo de esquerda em Espanha acarretaria uns custos tremendos. Só poderia ser financiado com um aumento brutal dos impostos às classes média e alta, que já suportam uma das pressões fiscais mais elevadas da UE, e que reagiriam fugindo de Espanha em busca de refúgios menos hostis, deixando de investir ou incorrendo na evasão fiscal e na economia paralela. Nada é gratuito em economia, e são as propostas levadas a cabo na melhor das fés as que acabam por ter resultados mais penalizadores.
Apesar das evidentes contradições do populismo, parece que, tal como em Portugal, os socialistas estão dispostos a chegar a um acordo com o partido de Pablo Iglesias. A razão é evidente: o programa não combinado, mas comum à esquerda é tirar a direita do poder. Derrubá-la a qualquer preço. Noutros países, por exemplo na Alemanha, há uma tradição antiga de pactos entre uns e outros em prol do interesse comum, mas o mesmo não acontece em Espanha. E não acontece porque, ao contrário do que também se passa desde sempre no Reino Unido, a esquerda jamais reconheceu mérito algum nos evidentes sucessos da direita. Como a esquerda governou em Espanha muitos mais anos, como acedeu ao governo pouco depois da morte de Franco, sempre acreditou ser a natural depo-sitária do poder e considera um atentado à natureza política que os cidadãos ousem arrebatar-lho.
A campanha eleitoral do Partido Socialista baseou-se em prometer que anularia tudo aquilo que a direita fez durante os últimos quatro anos: a reforma laboral, que tão bons efeitos teve no mercado de trabalho; a reforma da educação, que pela primeira vez na história trata de recriar um sistema baseado no mérito e no esforço dos estudantes a fim de produzir os melhores resultados possíveis; a austeridade orçamental, que nos permitiu cumprir com os planos de redução do défice público combinados com Bruxelas. Etecetera. Tudo isto é o que o Partido Socialista quer liquidar e o que torna realmente impossível um acordo com o Sr. Rajoy, pois seria algo assim como desmantelar os pilares que permitiram reconstruir a nação que o Sr. Zapatero deixou há quatro anos em risco de derrocada.
Não sabemos ainda quem governará Espanha. Mas temos algumas certezas. Por exemplo, governe quem governe, ocupará o poder por pouco tempo, pois a distribuição de deputados originada pelas eleições legislativas é um obstáculo insanável para levar por diante grandes projetos de mudança. Ou seja, estamos condenados a novas eleições em breve. Em segundo lugar, a economia espanhola, apesar da sua força e da sua tendência para o crescimento, vai enfraquecer como consequência do complexo cenário parlamentar. As piores crises económicas são as de origem política. Primeiro, porque as análises feitas são erradas, como é o caso do PSOE e do Podemos; segundo, porque, à partida, a agenda estabelecida é errada, e terceiro, porque se promove a instabilidade correspondente. Espanha continua a ser um país muito vulnerável. Se, como é previsível, as taxas de juro caminharem irremediavelmente para a subida, o preço das matérias-primas as acompanhar - uma coisa fatal para um país tão dependente do petróleo como o meu -, e formos incapazes, dada a aritmética política, de prosseguir com as reformas estruturais, estamos destinados a passar francamente mal.
04 DE JANEIRO DE 2016
00:05
Miguel Angel Belloso
Diário de Notícias
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