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Mensagem por Admin Seg Jan 04, 2016 12:07 pm

Vivemos tempos de anormalidade. A noção de risco é constantemente alterada, induzindo muitas pessoas em erro. É do conhecimento geral que, para ter mais rentabilidade, é necessário correr risco adicional.

O que ninguém está preparado, nem o investidor mais sofisticado, é que o custo desse risco adicional seja a perda da totalidade do seu capital. Em face de uma elite política, nacional e europeia, incapaz de assumir os riscos de reorganizar o sistema financeiro, tenta-se passar o risco para o próximo. Quem está na base da pirâmide, o depositante do banco, vê-se confrontado com a obrigatoriedade de saber de finanças, contabilidade e legislação. 

Foi-lhe incumbida a responsabilidade de avaliar se o balanço do seu banco tem risco suficiente para que as suas poupanças estejam seguras. Para tal, tem de ter conhecimento dos activos dos bancos e qual o nível de risco de cada um. Tem também de saber interpretar a legislação da resolução bancária, assim como o Regime Geral que rege as instituições financeiras. É ao mesmo depositante, alguns já reformados, que se pede que diversifique e invista noutros produtos que as instituições têm para oferecer – acções, fundos e obrigações. 

Portugal teve tudo para salvar o sistema financeiro – uma linha de crédito para intervir nos bancos, uma ‘troika’ que andou a verificar os activos com risco e maiores devedores, accionistas que confiaram e acorreram aos aumentos de capital e depositantes que mantiveram a sua confiança. Entretanto já lá vão duas resoluções. Na Grécia, que se encontra perante um sistema falido, nenhum banco foi, até agora, resolvido. Mas afinal o que anda a falhar por esta Europa? Por que razão não se exige ao BCE que cumpra o seu mandato de estabilização do sistema financeiro e utilize os milhares de milhões de euros ganhos com obrigações de tesouro para garantir segurança aos depositantes e investidores?

Depois da crise financeira, os políticos concentraram-se em legislar sobre tudo e mais alguma coisa, com excepção do que interessava – os conflitos de interesses.
O primeiro é a proibição da venda de produtos de uma instituição nos seus próprios balcões, nomeadamente acções e obrigações. Isto permitiria que fossem terceiros a analisar o risco da instituição, garantindo a independência, já que um gestor de conta não vai dizer que o banco onde trabalha tem risco. Mas imagina a CGD, o Santander ou o BCP a darem esta parte do negócio a terceiros? 

O segundo conflito de interesses reside no financiamento de accionistas, ou partes relacionadas, com interesses na instituição. Alguns dos casos alarmantes de crédito malparado resultam do financiamento para a compra de acções ou dívida do próprio banco, sem garantias que não as dos títulos comprados. A simples proibição deste tipo de operações protegeria o sistema financeiro dele próprio. 

O terceiro conflito de interesses está na atracção que os políticos têm pela banca. Muitos dos bancos que sucumbiram foram geridos ou influenciados por políticos. A separação clara entre gestor e político, proibindo a alternância de cargos entre os dois sectores, evitaria a guerra pelo poder e utilização das instituições para outros fins que não o de simples financiamento da economia.

Mais conflitos existiriam, mas a incapacidade de legislar sobre os mais simples deixa antever que 2016 não será um ano fácil. Votos de um excelente 2016.

00:05 h
Pedro Lino
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