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O tempo em que os países vão à falência
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O tempo em que os países vão à falência
Pelo andar da carruagem, o preço a pagar pela troika de esquerda vai ser superior ao preço da troika original.
“No espaço de poucos meses, o Estado aumenta em cerca de 12,1 mil milhões de euros as necessidades de financiamento até 2019.”
Pedro Sousa Carvalho, Jornalista - 15/01/2016
Um povo que não entenda os riscos que corre, os reais problemas que tem ou pode vir a ter, que viva na ignorância de que os seus problemas são fáceis de resolver e de que o seu país nunca irá à falência é um povo que é ingénuo ou, então, pior do que irresponsável.
Vem isto a propósito de mais uma discussão acerca da elaboração de mais um Orçamento do Estado da República Portuguesa. Com muita gente a comportar-se como se Portugal não corresse riscos desse tipo – de falir. O que a esse propósito tem sido dito e utilizado no “racional” e no “irracional” da discussão, acerca da preparação do principal instrumento financeiro anual para a vida dos portugueses, é muito preocupante. E indicia que no espaço público e mediático e, em parte, na classe política existe quem queira persistir em vender ilusões aos portugueses. Tal e qual médicos irresponsáveis que escondem doenças graves e antes as substituem por meras dores de cabeça transitórias.
É um erro esse caminho. O caminho de esconder as verdadeiras doenças. Os problemas. Antes pelo contrário.
O caminho é enfrentar as doenças e os problemas para acabar de vez com ambos. É que vivemos mesmo num tempo em que os países vão à falência se não souberem tratar de si próprios como deve ser. Falência, com consequências previsíveis e outras imprevisíveis. Em que as pessoas que mais perderão serão as mais pobres e as mais desfavorecidas. É que longe vai o tempo em que países como o nosso tinham a certeza (e muito essa convicção) de que não iriam falir. Podiam ficar mais pobres. Mas não faliriam. Porque detinham nas suas mãos o domínio das decisões das clássicas políticas, desde logo nos domínios cambial, de rendimentos, de preços, etc. E porque tinham as suas fronteiras fechadas ao exterior. De entre muitas outras variáveis relevantes para a condução das suas políticas domésticas. O tempo em que só as empresas e as pessoas faliam já não existe. Hoje não é nada assim.
Antes pelo contrário. Num mundo cada vez mais complexo, exigente, aberto, concorrencial, onde os países competem uns com os outros e onde são cada vez mais interdependentes, um país como Portugal deve fazer das suas contas públicas equilibradas um fator competitivo determinante para a sua atratividade. Mas também para o seu bom nome e para consolidar o modelo económico consentâneo com a necessidade de criar mais crescimento económico e, consequentemente, mais emprego de qualidade. Quem em Portugal persistir em vender ao país que o caminho é diabolizar a Europa (dos milhões que nos tem dado em fundos comunitários e dos milhões que a troika que nos tem emprestado) e os mercados e as agências de rating (que nos financiam até em alguns devaneios nacionais) está a mentir e a prejudicar os interesses dos portugueses. E até a gerar falsas expectativas e a criar problemas desnecessários. Porque Portugal não deve, perante esses parceiros e interlocutores, comportar-se como quem, depois de se ter servido de um sócio maioritário e de um banco qualquer, lhes diz que, afinal, só cumpre e paga como quer e quando quer. Perante esta dialética discursiva e argumentativa no plano político e no plano mediático, deveremos concluir que deverá existir mais clareza junto da generalidade dos portugueses, sobretudo junto dos que têm menos qualificações nas matérias económicas, explicando através de uma linguagem simples e prática o que está em causa. É que a linguagem dos números é muito redutora e pouco percetível para o comum dos portugueses.
E todos os cuidados são poucos. E pelo andar da carruagem, o preço a pagar pela troika de esquerda vai ser superior ao preço da troika original. A festa da troika de esquerda já começa a fazer-se sentir. Tal como gente insuspeita tem referido e chamado a atenção. O pior que existe na vida de um país, de uma instituição, de uma empresa e de uma família é ignorar a realidade. Eu também gostava de viver num mundo sem guerras, catástrofes, fome, explorações, dor e sofrimento. Mas esse mundo não existe. Existe um outro que a realidade nos mostra todos os dias, gostemos mais ou menos do que nos é posto à frente dos olhos.
Escreve à segunda-feira
08/02/2016
Feliciano Barreiras Duarte
Jornal i
“No espaço de poucos meses, o Estado aumenta em cerca de 12,1 mil milhões de euros as necessidades de financiamento até 2019.”
Pedro Sousa Carvalho, Jornalista - 15/01/2016
Um povo que não entenda os riscos que corre, os reais problemas que tem ou pode vir a ter, que viva na ignorância de que os seus problemas são fáceis de resolver e de que o seu país nunca irá à falência é um povo que é ingénuo ou, então, pior do que irresponsável.
Vem isto a propósito de mais uma discussão acerca da elaboração de mais um Orçamento do Estado da República Portuguesa. Com muita gente a comportar-se como se Portugal não corresse riscos desse tipo – de falir. O que a esse propósito tem sido dito e utilizado no “racional” e no “irracional” da discussão, acerca da preparação do principal instrumento financeiro anual para a vida dos portugueses, é muito preocupante. E indicia que no espaço público e mediático e, em parte, na classe política existe quem queira persistir em vender ilusões aos portugueses. Tal e qual médicos irresponsáveis que escondem doenças graves e antes as substituem por meras dores de cabeça transitórias.
É um erro esse caminho. O caminho de esconder as verdadeiras doenças. Os problemas. Antes pelo contrário.
O caminho é enfrentar as doenças e os problemas para acabar de vez com ambos. É que vivemos mesmo num tempo em que os países vão à falência se não souberem tratar de si próprios como deve ser. Falência, com consequências previsíveis e outras imprevisíveis. Em que as pessoas que mais perderão serão as mais pobres e as mais desfavorecidas. É que longe vai o tempo em que países como o nosso tinham a certeza (e muito essa convicção) de que não iriam falir. Podiam ficar mais pobres. Mas não faliriam. Porque detinham nas suas mãos o domínio das decisões das clássicas políticas, desde logo nos domínios cambial, de rendimentos, de preços, etc. E porque tinham as suas fronteiras fechadas ao exterior. De entre muitas outras variáveis relevantes para a condução das suas políticas domésticas. O tempo em que só as empresas e as pessoas faliam já não existe. Hoje não é nada assim.
Antes pelo contrário. Num mundo cada vez mais complexo, exigente, aberto, concorrencial, onde os países competem uns com os outros e onde são cada vez mais interdependentes, um país como Portugal deve fazer das suas contas públicas equilibradas um fator competitivo determinante para a sua atratividade. Mas também para o seu bom nome e para consolidar o modelo económico consentâneo com a necessidade de criar mais crescimento económico e, consequentemente, mais emprego de qualidade. Quem em Portugal persistir em vender ao país que o caminho é diabolizar a Europa (dos milhões que nos tem dado em fundos comunitários e dos milhões que a troika que nos tem emprestado) e os mercados e as agências de rating (que nos financiam até em alguns devaneios nacionais) está a mentir e a prejudicar os interesses dos portugueses. E até a gerar falsas expectativas e a criar problemas desnecessários. Porque Portugal não deve, perante esses parceiros e interlocutores, comportar-se como quem, depois de se ter servido de um sócio maioritário e de um banco qualquer, lhes diz que, afinal, só cumpre e paga como quer e quando quer. Perante esta dialética discursiva e argumentativa no plano político e no plano mediático, deveremos concluir que deverá existir mais clareza junto da generalidade dos portugueses, sobretudo junto dos que têm menos qualificações nas matérias económicas, explicando através de uma linguagem simples e prática o que está em causa. É que a linguagem dos números é muito redutora e pouco percetível para o comum dos portugueses.
E todos os cuidados são poucos. E pelo andar da carruagem, o preço a pagar pela troika de esquerda vai ser superior ao preço da troika original. A festa da troika de esquerda já começa a fazer-se sentir. Tal como gente insuspeita tem referido e chamado a atenção. O pior que existe na vida de um país, de uma instituição, de uma empresa e de uma família é ignorar a realidade. Eu também gostava de viver num mundo sem guerras, catástrofes, fome, explorações, dor e sofrimento. Mas esse mundo não existe. Existe um outro que a realidade nos mostra todos os dias, gostemos mais ou menos do que nos é posto à frente dos olhos.
Escreve à segunda-feira
08/02/2016
Feliciano Barreiras Duarte
Jornal i
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