Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 76 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 76 visitantes :: 2 motores de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
A ilusão da China
Página 1 de 1
A ilusão da China
A gestão que a China faz da sua taxa de câmbio continua a abalar os mercados financeiros.
A contínua incerteza sobre a desvalorização do yuan está a aumentar os receios de que as forças deflacionárias varram os mercados emergentes e provoquem um rude golpe nas economias desenvolvidas, onde as taxas de juro estão em zero ou próximas de zero (e que não podem ser reduzidas ainda mais em defesa da deflação importada). O impasse orçamental tanto na Europa como nos Estados Unidos está a fazer crescer esta angústia.
Mas o ataque de ansiedade com a taxa de câmbio é apenas um sintoma do facto de a transição chinesa - de uma estratégia assente nas exportações para uma impulsionada pelo consumo doméstico - estar a decorrer de uma forma muito menos suave do que o esperado.
Para algumas pessoas, as maravilhas do capitalismo com características chinesas continuam inalteradas. Estão certos de que, depois de mais de três décadas de crescimento direccionado pelo Estado, os líderes chineses sabem o que fazer para inverter a queda da sua economia.
A falta de realismo dos optimistas rivaliza com os partidários de uma economia baseada na oferta. Economia essa que aplicaria uma terapia de choque ao sector estatal chinês, que está em queda, e integraria de imediato o mercado de capitais do país, que está sub-desenvolvido, no turbulento sistema financeiro mundial actual. Isso é uma prescrição profundamente perigosa. O poder do mercado em transformar a China não vai libertar-se numa economia que está estagnada, onde tais medidas iriam agravar as forças deflacionárias e produzir uma calamidade.
A pressão descendente persiste sobre o yuan e é o reflexo do medo crescente do mercado de que os políticos chineses não tenham uma solução coerente para os dilemas que enfrentam. Por exemplo, a oscilação do yuan é uma opção perigosa. Apesar de tudo, com a economia chinesa a atravessar uma grande transformação económica, estimar uma taxa de câmbio equilibrada de longo prazo que vá ancorar a especulação é virtualmente impossível, em particular, devido às dúvidas persistentes sobre a qualidade dos dados, divulgação e processos políticos opacos.
Mas, se a indexação da taxa de câmbio ao cesto de moedas falhar em ancorar o yuan e em evitar uma forte depreciação da moeda, as consequências ao nível da deflação para a economia mundial vão ser profundas. Além disso, vai ter repercussões no sector exportador chinês e amortecer o impacto especulativo do enfraquecimento da moeda.
A chave para estabilizar a taxa de câmbio assenta na criação de uma política de desenvolvimento credível. Só assim a pressão sobre o yuan, e sobre as reservas em moeda estrangeira da China, vai diminuir porque os investidores, quer domésticos quer estrangeiros, vão ver um claro caminho em frente.
Estabelecer credibilidade política vai exigir diminuir os complicados incentivos microeconómicos do estado de controlo e de garantias. Vai exigir também renovar a procura agregada através de metas de política orçamental para apoiar os sectores económicos emergentes que vão sustentar o novo modelo de crescimento.
Mas, e como é habitual com a China, tal estratégia está repleta de contradições. Por exemplo, reduzir o tamanho do sector empresarial do Estado é necessário. Ainda assim, isso iria seguramente deprimir a procura agregada numa altura em que a procura é já leve. De igual forma, cortar o apoio orçamental (via empréstimos bancários directos do Governo) a empresas zombie libertaria capacidade orçamental e permitiria que recursos fossem direccionados para novos sectores que facilitem os serviços e o emprego urbano; mas isto iria exacerbar – pelo menos de início – a queda actual da procura.
Reduzir abruptamente o sector estatal e esperar alcançar uma transformação através da austeridade não é o caminho indicado. Historiadores de economia, em particular Michael A. Bernstein no seu estudo sobre a Grande Depressão nos Estados Unidos, demonstraram de forma convincente que uma economia em transição exige uma forte procura agregada para dar recursos aos novos sectores. Se tanto os velhos com os novos sectores de uma economia estiverem em queda, a formação de capital terá problemas, o investimento na melhoria do capital humano vai cair e o ajustamento estrutural vai atrasar-se. Uma procura agregada robusta é sempre essencial para uma transformação bem-sucedida.
Há um outro grande obstáculo à transicção económica da China – um problema que quase ninguém se atreve a referir – a adoração generalizada à economia de mercado híbrida da China. De forma simples: os actuais incentivos de mercado que são confusos impedem a transformação pois favorecem as empresas detidas pelo Estado.
No início de 2012, quando a liderança chinesa deu passos no sentido de fortalecer a propriedade privada, as acções do sub-índice do sector privado ultrapassaram o sub-índice do sector público quer na bolsa de Xangai quer na bolsa de Hong Kong. Mas desde a Primavera de 2014, esta tendência inverteu-se e o sub-índice do sector detido pelo Estado ultrapassou o sub-índice do sector privado. À medida que a economia chinesa abranda e os riscos de incumprimento aumentam, o valor das garantias do Estado aumenta, direcionando o capital para fora do crescimento do sector privado.
Este sistema híbrido impede claramente o crédito de catalisar o desenvolvimento enquanto cria e sustenta interesses estabelecidos que se opõem às reformas. Este padrão é particularmente prejudicial porque uma transformação profunda vai certamente depender do financiamento do mercado de dívida soberana, que não pode funcionar apropriadamente até que as incertezas relacionadas com os passivos contingentes do Governo – e todas as garantias implícitas – tenham sido resolvidas.
A China tem o poder de estabilizar a sua taxa de câmbio através de reformas credíveis, em particular, políticas que redireccionem os recursos para renovar a procura interna e colocar recursos nos novos sectores de elevado valor. As reformas que a China precisa não podem ser conseguidas com uma queda ou através de uma desvalorização elevada da taxa de câmbio que esvazia o mundo num esforço vão para que o relógio volte para trás. Para uma época de um crescimento assente nas exportações que a estagnação da procura por parte do Ocidente tornou inviável.
Rob Johnson é Presidente do Instituto para o Novo Pensamento Económico e membro e director do Projecto Finanças Mundiais para o Instituto Franklin e Eleanor Roosevelt.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
ROB JOHNSON | 10 Março 2016, 20:30
Negócios
A contínua incerteza sobre a desvalorização do yuan está a aumentar os receios de que as forças deflacionárias varram os mercados emergentes e provoquem um rude golpe nas economias desenvolvidas, onde as taxas de juro estão em zero ou próximas de zero (e que não podem ser reduzidas ainda mais em defesa da deflação importada). O impasse orçamental tanto na Europa como nos Estados Unidos está a fazer crescer esta angústia.
Mas o ataque de ansiedade com a taxa de câmbio é apenas um sintoma do facto de a transição chinesa - de uma estratégia assente nas exportações para uma impulsionada pelo consumo doméstico - estar a decorrer de uma forma muito menos suave do que o esperado.
Para algumas pessoas, as maravilhas do capitalismo com características chinesas continuam inalteradas. Estão certos de que, depois de mais de três décadas de crescimento direccionado pelo Estado, os líderes chineses sabem o que fazer para inverter a queda da sua economia.
A falta de realismo dos optimistas rivaliza com os partidários de uma economia baseada na oferta. Economia essa que aplicaria uma terapia de choque ao sector estatal chinês, que está em queda, e integraria de imediato o mercado de capitais do país, que está sub-desenvolvido, no turbulento sistema financeiro mundial actual. Isso é uma prescrição profundamente perigosa. O poder do mercado em transformar a China não vai libertar-se numa economia que está estagnada, onde tais medidas iriam agravar as forças deflacionárias e produzir uma calamidade.
A pressão descendente persiste sobre o yuan e é o reflexo do medo crescente do mercado de que os políticos chineses não tenham uma solução coerente para os dilemas que enfrentam. Por exemplo, a oscilação do yuan é uma opção perigosa. Apesar de tudo, com a economia chinesa a atravessar uma grande transformação económica, estimar uma taxa de câmbio equilibrada de longo prazo que vá ancorar a especulação é virtualmente impossível, em particular, devido às dúvidas persistentes sobre a qualidade dos dados, divulgação e processos políticos opacos.
Mas, se a indexação da taxa de câmbio ao cesto de moedas falhar em ancorar o yuan e em evitar uma forte depreciação da moeda, as consequências ao nível da deflação para a economia mundial vão ser profundas. Além disso, vai ter repercussões no sector exportador chinês e amortecer o impacto especulativo do enfraquecimento da moeda.
A chave para estabilizar a taxa de câmbio assenta na criação de uma política de desenvolvimento credível. Só assim a pressão sobre o yuan, e sobre as reservas em moeda estrangeira da China, vai diminuir porque os investidores, quer domésticos quer estrangeiros, vão ver um claro caminho em frente.
Estabelecer credibilidade política vai exigir diminuir os complicados incentivos microeconómicos do estado de controlo e de garantias. Vai exigir também renovar a procura agregada através de metas de política orçamental para apoiar os sectores económicos emergentes que vão sustentar o novo modelo de crescimento.
Mas, e como é habitual com a China, tal estratégia está repleta de contradições. Por exemplo, reduzir o tamanho do sector empresarial do Estado é necessário. Ainda assim, isso iria seguramente deprimir a procura agregada numa altura em que a procura é já leve. De igual forma, cortar o apoio orçamental (via empréstimos bancários directos do Governo) a empresas zombie libertaria capacidade orçamental e permitiria que recursos fossem direccionados para novos sectores que facilitem os serviços e o emprego urbano; mas isto iria exacerbar – pelo menos de início – a queda actual da procura.
Reduzir abruptamente o sector estatal e esperar alcançar uma transformação através da austeridade não é o caminho indicado. Historiadores de economia, em particular Michael A. Bernstein no seu estudo sobre a Grande Depressão nos Estados Unidos, demonstraram de forma convincente que uma economia em transição exige uma forte procura agregada para dar recursos aos novos sectores. Se tanto os velhos com os novos sectores de uma economia estiverem em queda, a formação de capital terá problemas, o investimento na melhoria do capital humano vai cair e o ajustamento estrutural vai atrasar-se. Uma procura agregada robusta é sempre essencial para uma transformação bem-sucedida.
Há um outro grande obstáculo à transicção económica da China – um problema que quase ninguém se atreve a referir – a adoração generalizada à economia de mercado híbrida da China. De forma simples: os actuais incentivos de mercado que são confusos impedem a transformação pois favorecem as empresas detidas pelo Estado.
No início de 2012, quando a liderança chinesa deu passos no sentido de fortalecer a propriedade privada, as acções do sub-índice do sector privado ultrapassaram o sub-índice do sector público quer na bolsa de Xangai quer na bolsa de Hong Kong. Mas desde a Primavera de 2014, esta tendência inverteu-se e o sub-índice do sector detido pelo Estado ultrapassou o sub-índice do sector privado. À medida que a economia chinesa abranda e os riscos de incumprimento aumentam, o valor das garantias do Estado aumenta, direcionando o capital para fora do crescimento do sector privado.
Este sistema híbrido impede claramente o crédito de catalisar o desenvolvimento enquanto cria e sustenta interesses estabelecidos que se opõem às reformas. Este padrão é particularmente prejudicial porque uma transformação profunda vai certamente depender do financiamento do mercado de dívida soberana, que não pode funcionar apropriadamente até que as incertezas relacionadas com os passivos contingentes do Governo – e todas as garantias implícitas – tenham sido resolvidas.
A China tem o poder de estabilizar a sua taxa de câmbio através de reformas credíveis, em particular, políticas que redireccionem os recursos para renovar a procura interna e colocar recursos nos novos sectores de elevado valor. As reformas que a China precisa não podem ser conseguidas com uma queda ou através de uma desvalorização elevada da taxa de câmbio que esvazia o mundo num esforço vão para que o relógio volte para trás. Para uma época de um crescimento assente nas exportações que a estagnação da procura por parte do Ocidente tornou inviável.
Rob Johnson é Presidente do Instituto para o Novo Pensamento Económico e membro e director do Projecto Finanças Mundiais para o Instituto Franklin e Eleanor Roosevelt.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
ROB JOHNSON | 10 Março 2016, 20:30
Negócios
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin