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No supermercado, em busca do Estado de bem-estar
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No supermercado, em busca do Estado de bem-estar
Defender que o bem-estar social é um produto escasso a que só alguns deverão ter acesso é tão absurdo como defender de novo o regime esclavagista
1. Li recentemente uma crónica sobre teatro que se intitulava “Do paraíso ao supermercado: assim caiu o Estado de bem-estar”.
A crónica descreve apenas o teor de uma peça representada por uma companhia de teatro galega.
Não vou aqui falar dela, até porque a não vi.
Aquele título não me deixou, porém, indiferente, pelo que dele resultaram algumas congeminações que não posso calar.
2. Porque será que os donos das grandes cadeias de supermercados e os donos de outros grandes negócios insistem hoje, diretamente ou por via dos que os servem no plano político, mediático e cultural, na ideia angustiante de que não há condições para manter o Estado de bem-estar, aquele a que outros chamaram o Estado social?
A pergunta parece-me tão mais pertinente quanto terá sido precisamente o desenvolvimento do Estado social que permitiu o progresso do negócio dos grandes supermercados e de outras catedrais de consumo atuais.
Claro está que a própria ideia de Estado social tem muito que se lhe diga: na verdade, em nenhum momento e em nenhum lugar ele conseguiu, de facto, beneficiar todos e constituir-se assim como um verdadeiro estado geral de bem-estar.
Mesmo assim, todos conviremos que - agora que muitos dos que o apregoaram nos querem convencer de que o tempo das vacas gordas chegou ao fim - aquele projeto, mesmo inacabado e limitado no seu âmbito, se apresentou para muitos como uma possibilidade de justiça social progressiva, razoável e realista.
Dizer hoje que ele é inalcançável, pretender que o bem-estar social - o direito à saúde, a um horário de trabalho decente e a férias pagas, a um salário digno e capaz de permitir constituir e sustentar a família em condições de dignidade, o direito à educação pública e de qualidade e a uma pensão de reforma que possibilite manter o nível de vida adquirido durante o tempo de atividade laboral - é um bem escasso a que só alguns têm, doravante, a possibilidade de aceder, parece tão absurdo como absurdo seria defender de novo o regime esclavagista.
E, no entanto, é o que ouvimos, abismados, da boca deleitada de alguns pensadores e publicistas atuais.
As justificações apresentadas assentam sempre, é certo, em inevitáveis circunstâncias económicas e financeiras temporárias e incluem, no final, a promessa de regresso ao paraíso... um dia!?
Para tanto pede-se, todavia, aos cidadãos que abdiquem de todos os direitos - regalias, na sua linguagem -, pois sem isso jamais as portas do Éden se lhes abrirão de novo.
O problema é que as tais circunstâncias negativas se vão perpetuando, o horizonte do paraíso se vai todos os dias afastando e, no final, o que desse processo resulta não é o retorno à terra prometida, mas o empobrecimento geral e irreversível.
O empobrecimento geral da maioria - a tal para quem o bem-estar deve ser um produto escasso - mas, curiosamente ou talvez não, o enriquecimento descomunal de uma minoria cada vez menor.
Algumas perguntas parecem, portanto, pertinentes: em comparação com o tempo em que se ergueu o Estado social, de facto diminuiu a produção de riqueza a nível mundial; aumentaram desproporcionalmente os preços dos produtos que servem para prover as necessidades dos homens; houve algum crash tecnológico ou energético que fez diminuir drasticamente a produção de bens industriais; reduziu-se fortemente o número de técnicos capazes de assistir às necessidades sociais?
Se assim não foi, pois....?!!!
Jurista
Escreve à terça-feira
15/03/2016
António Cluny
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
1. Li recentemente uma crónica sobre teatro que se intitulava “Do paraíso ao supermercado: assim caiu o Estado de bem-estar”.
A crónica descreve apenas o teor de uma peça representada por uma companhia de teatro galega.
Não vou aqui falar dela, até porque a não vi.
Aquele título não me deixou, porém, indiferente, pelo que dele resultaram algumas congeminações que não posso calar.
2. Porque será que os donos das grandes cadeias de supermercados e os donos de outros grandes negócios insistem hoje, diretamente ou por via dos que os servem no plano político, mediático e cultural, na ideia angustiante de que não há condições para manter o Estado de bem-estar, aquele a que outros chamaram o Estado social?
A pergunta parece-me tão mais pertinente quanto terá sido precisamente o desenvolvimento do Estado social que permitiu o progresso do negócio dos grandes supermercados e de outras catedrais de consumo atuais.
Claro está que a própria ideia de Estado social tem muito que se lhe diga: na verdade, em nenhum momento e em nenhum lugar ele conseguiu, de facto, beneficiar todos e constituir-se assim como um verdadeiro estado geral de bem-estar.
Mesmo assim, todos conviremos que - agora que muitos dos que o apregoaram nos querem convencer de que o tempo das vacas gordas chegou ao fim - aquele projeto, mesmo inacabado e limitado no seu âmbito, se apresentou para muitos como uma possibilidade de justiça social progressiva, razoável e realista.
Dizer hoje que ele é inalcançável, pretender que o bem-estar social - o direito à saúde, a um horário de trabalho decente e a férias pagas, a um salário digno e capaz de permitir constituir e sustentar a família em condições de dignidade, o direito à educação pública e de qualidade e a uma pensão de reforma que possibilite manter o nível de vida adquirido durante o tempo de atividade laboral - é um bem escasso a que só alguns têm, doravante, a possibilidade de aceder, parece tão absurdo como absurdo seria defender de novo o regime esclavagista.
E, no entanto, é o que ouvimos, abismados, da boca deleitada de alguns pensadores e publicistas atuais.
As justificações apresentadas assentam sempre, é certo, em inevitáveis circunstâncias económicas e financeiras temporárias e incluem, no final, a promessa de regresso ao paraíso... um dia!?
Para tanto pede-se, todavia, aos cidadãos que abdiquem de todos os direitos - regalias, na sua linguagem -, pois sem isso jamais as portas do Éden se lhes abrirão de novo.
O problema é que as tais circunstâncias negativas se vão perpetuando, o horizonte do paraíso se vai todos os dias afastando e, no final, o que desse processo resulta não é o retorno à terra prometida, mas o empobrecimento geral e irreversível.
O empobrecimento geral da maioria - a tal para quem o bem-estar deve ser um produto escasso - mas, curiosamente ou talvez não, o enriquecimento descomunal de uma minoria cada vez menor.
Algumas perguntas parecem, portanto, pertinentes: em comparação com o tempo em que se ergueu o Estado social, de facto diminuiu a produção de riqueza a nível mundial; aumentaram desproporcionalmente os preços dos produtos que servem para prover as necessidades dos homens; houve algum crash tecnológico ou energético que fez diminuir drasticamente a produção de bens industriais; reduziu-se fortemente o número de técnicos capazes de assistir às necessidades sociais?
Se assim não foi, pois....?!!!
Jurista
Escreve à terça-feira
15/03/2016
António Cluny
opiniao@newsplex.pt
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