Sinais do tempo que passa

O pior cego é o que não quer ver. Convém lembrar que desde 1645 o Mundo inteiro aprendeu com um cego francês operado à córnea em Nimes, que o pior cego é o que não quer ver. É que quando conseguiu ver, ficou tão horrorizado com o Mundo que viu, que se revoltou com quem lhe recuperou a visão.

Primeiro Sinal. Começa hoje em Lisboa, no Convento do Beato, mais uma edição nacional do Portugal Fashion. 

Amanhã há mais, pela primeira vez nas magníficas instalações do CEIIA, em Matosinhos e na sexta e no sábado, os desfiles serão todos no não menos magnífico Edifício da Alfândega do Porto, menos o de Luís Buchinho, que ocorrerá na estação de recolha da STCP, em Massarelos. O maior e mais internacional evento de moda português que começou no Porto, há 21 anos, na sede da ANJE, já levou nesta estação a moda nacional às passarelas de Londres, Milão e Paris. A Moda Lisboa, que comemora este ano 25 anos, decorreu no passado fim de semana na cidade com o mesmo nome. Região de onde nunca saiu.

Segundo sinal. Foi no distrito do Porto, mais concretamente no Pavilhão Multiusos de Gondomar (onde o Festival Eros esteve em primeiras exibições) que o CDS/PP realizou mais um congresso. Paulo Portas, que liderou o partido fundado por Freitas do Amaral e Amaro da Costa durante 16 anos, decidiu retirar-se da vida política ativa. Chorado o líder, que também se deixou contagiar pela emoção do momento, deixando cair algumas lagrimas, o CDS mudou o sexo da liderança, mas promete continuar no mesmo género de atividade. Assunção Cristas ficou satisfeita por conseguir manter a unidade do partido sem ter a unanimidade no Conselho Nacional. O CDS trocou um homem só por uma mulher de família, família essa que fez questão de comparecer em peso em Gondomar. Não é o meu caso, mas há quem pense que a Direita também quis ter uma "engraçadinha".

Terceiro sinal. Para a Presidência da República, os portugueses só precisaram de uma primeira volta (e mais dois meses...) para trocarem uma família completa por um homem temporariamente só. Marcelo preferiu não se instalar no Palácio de Belém e optou por manter a família mais chegada, namorada incluída, longe das azáfamas presidenciais. Neste fim de semana que se seguiu à sua tomada de posse, abriu Belém a cerca de seis mil pessoas, que gostaram de gastar uma parte do seu fim de semana a matar essa curiosidade que tinham. Afinal, a família é Portugal.

Sinal da cruz. Quando foi a votos em Serpa, em lista do CDS, não conseguiu ficar com a maior parte do "queijo" eleitoral. Soubemos ontem ainda que como militante benfiquista quis levar José Eduardo Moniz para presidente desse clube. Agora, na hora da sua morte súbita, granjeou uma unanimidade impressionante. É pouco normal que as pessoas escolham estas horas delicadas para acertar contas do passado ou do presente, mas no caso de Nicolau Breyner a unanimidade na recordação elogiosa faz-nos crer que há uma enorme unidade na convicção que Nico nos deixou no auge da carreira, sem esqueletos no armário. Dizem que a morte costuma servir para convocar os elogios mais suspeitos, mas tenho para mim que como não sabemos o dia em que partimos, mais vale ter a vida sempre preparada para não passar vergonhas.

Sinal amarelo. O F. C. Porto realizou ontem mais uma assembleia-geral numas instalações que pareceram pequenas para a curiosidade dos sócios. Mas apesar das críticas aos críticos, ficou claro que há uma diferença nítida e já indisfarçável, entre o Pinto da Costa dos últimos três anos e o Pinto da Costa dos últimos 30. Ainda não apareceu ninguém com coragem para "ir a jogo", mas há muitos adeptos, simples adeptos como eu, que esperam um sinal para perceber qual dos "dois Pinto da Costa" vamos ter nos próximos três anos. Se o próprio presidente não for capaz de perceber isso, é muito mau sinal.

16.03.2016
MANUEL SERRÃO
Jornal de Notícias