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Os sinais errados…
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Os sinais errados…
O FMI estima que as reversões e o recuo nas medidas adotadas durante o programa da troika, com incidência salarial, poderão custar ao país 1.400 milhões de euros? Ignora-se. As previsões do Banco de Portugal ou da OCDE são pessimistas? Pois, «previsões são previsões». E encerra-se o assunto.
Desde que inventou a ‘geringonça’, António Costa ( e o PS que traz a reboque da sua salvação) parece ter descoberto a fórmula mágica que opera o ‘milagre’ de «virar a página da ‘austeridade’», mesmo sem ninguém perceber como, exceto, talvez, o funcionalismo público que passa a trabalhar menos e recupera poder de compra.
A par de ‘reverter’, surgiu um outro verbo no vocabulário corrente do primeiro-ministro em exercício, que é ‘desvalorizar’. Os exemplos não dão descanso aos media. O FMI estima que as reversões e o recuo nas medidas adotadas durante o programa da troika, com incidência salarial, poderão custar ao país 1.400 milhões de euros? Ignora-se. As previsões do Banco de Portugal ou da OCDE são pessimistas? Pois, «previsões são previsões». E encerra-se o assunto.
As exportações estão em queda e a economia não descola? Desvaloriza-se e adiante se verá.
O investimento regride, com os capitais estrangeiros em fuga e os investidores portugueses a deitarem contas à vida? Anunciam-se milhões de fundos europeus em qualquer coisa, e na reabilitação urbana à custa da ‘almofada’ estratégica da Segurança Social.
O sistema financeiro está vulnerável e o comportamento dos bancos em Bolsa é instável e preocupante? A esquerda defende a nacionalização da banca, repetindo a história do PREC pós 25 de Abril, em versão revista e atualizada.
(Em contrapartida, a mesma esquerda, numa luminosa coerência, opõe-se a um inquérito parlamentar sobre os prejuízos acumulados na Caixa Geral de Depósitos, que lançaram o banco público numa urgente e pesada recapitalização).
A despesa está a agravar-se, como entra pelos olhos dentro de qualquer cidadão que saiba somar dois e dois? Nega-se primeiro e desvaloriza-se depois.
O regime das 35 horas para a função pública aprofunda a desigualdade com o setor privado e penaliza as contas do Estado? Desvaloriza-se e ameaça-se estender o regime aos privados, sem cuidar de saber se, por acaso, estes podem suportá-lo.
Baixar o IVA na restauração é um disparate, por obrigar a lançar mão de expedientes, agravando impostos indiretos para compensar a perda de receita? Mesmo assim faz-se, porque é necessário ‘cumprir uma promessa’. (Leia-se: captar mais uns votos agradecidos em próximas eleições).
Sucedem-se os temas ‘fraturantes’ que põem em causa valores tradicionais? Encolhe-se os ombros, e alinha-se para não parecer ‘bota de elástico’, nem hostilizar meia dúzia de iluminados, defensores da ‘diferença’. E por aí adiante.
Em seis meses de ‘geringonça’, a lista de sinais errados vai extensa. E promete engrossar, sem haver um plano de contingência para proteger o país das incertezas que se avizinham.
E não faltam. Desde os riscos do ‘Brexit’, se o referendo da próxima semana separar o Reino Unido da União, às tensões em Espanha se, dias depois, as eleições gerais repetirem o impasse político, agravando-o com as pulsões nacionalistas.
O ‘partido-Estado’ quer tomar conta do poder. E o PS, prisioneiro das suas contradições, perdeu a bússola.
Marcelo Rebelo de Sousa, talvez por culpa do seu irreprimível otimismo, passou a ser perseguido por uma sombra para onde quer que vá. António Costa não o larga, mesmo onde o protocolo – e a segurança do Estado – aconselharia que não estivessem juntos.
A popularidade em alta do Presidente é um poderoso íman para o Governo. Condescendente, tático, Marcelo aceita a ‘colagem’ para não ser suspeito de ‘tirar o tapete’ a Costa.
A dúvida que se coloca é se não estará a levar longe demais o seu espírito ‘ecuménico’, enquanto a esquerda festiva agradece a folga e se instala.
Quando Marcelo veta e devolve ao Parlamento a chamada lei ‘das barrigas de aluguer’, está a ser fiel às suas convicções. Mas ao deixar passar a lei das 35 horas, sem suscitar, ao menos, a constitucionalidade do diploma, o Presidente deixou a marinar o especialista em Direito Constitucional, apesar das reservas sobre o ‘acréscimo da despesa’ (…) «em tempo de consolidação orçamental e crescimento económico não garantidos».
Estes avisos, que fazem as delícias dos comentadores, soam a música celestial para António Costa, cuja razão de ser é segurar o poder, custe o que custar ao país.
A recente bravata parlamentar, a pretexto de sanções da União Europeia – e que não conseguiu, sequer, um texto consensual das bancadas –, contraria os esforços presidenciais para criar pontes onde, afinal, não existe vontade.
Sabe-se que a ‘geringonça’ tem todas as condições para chocar contra a parede. Só não se sabe quando e de que forma. Desgovernada, em contramão, não vai longe.
Como diz o povo – um bonito substantivo coletivo que Marcelo recuperou no 10 de Junho –, não há pior cego do que aquele que não quer ver...
Dinis de Abreu
opiniao@newsplex.pt
24 de junho 2016
SOL
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