Democracia ... para que serve?

Muitos países exploram o mais possível,as riquezas do nosso planeta, sem qualquer laivo de sensibilidade

As nossas democracias europeias, construídas desde o pós-guerra com muitas, boas e saudáveis intenções, providenciando para os seus Estados um permanente e dinâmico desenvolvimento, sustentado  - onde se procuraria encontrar a relativa e real sustentação - foram evoluindo no tempo, adaptando-se a tudo o que representa esse mesmo estado contínuo de evolução. As novas tecnologias foram invadindo os mercados, apareceram objectos totalmente novos - os telefones portáteis, por exemplo - demonstrando uma relativa facilidade na capacidade de enriquecimento da qualidade de vida das populações alvo. Apareceram máquinas disto, máquinas daquilo, televisões planas, computadores portáteis, jogos de sala de todo o género e feitio, ... um sem fim de opções, nessas novas tecnologias dedicadas ás pessoas, que pelas suas capacidades económicas, podiam usufruir delas. No relativo aos telefones portáteis, a cena foi contagiante, foi mesmo um “boom” planetário ... e não há ser vivo - europeu - que não tenha um telemóvel ... e há uns seres que têm mesmo dois - um que ninguém está autorizado a dar o número e outro, digamos, público. E assistimos agora ao aparecimento quase semanal de novos modelos de telefones, com uns extras  adicionais - que não sabemos para que servem - e quando acontece o lançamento dum novíssimo modelo - mesmo desconhecendo o funcionamento e qualidade futura do dito cujo - já está definitivamente esgotada a sua venda no mercado! E alternativa é a lista de espera!!!  Tudo acontece, com imensa velocidade, provocando depressões graves, em pessoas que por escassos segundos de atraso,  não conseguem adquirir essa nova obra da tecnologia em primeira mão.

Mas, o que as pessoas não sabem, é, como se fabrica, como funciona a confecção dum novo telemóvel! Reparam nos seus pormenores ... é mais leve, mais sensível, mais anatómico e simples - por vezes até fala - mas desconhecem como se chega a esta perfeita ... técnica de perfeição.

São fabricados com materiais raros, resistentes, leves, um deles chamado “COLTAN” - nome resultante da combinação das iniciais de dois minerais: a COLumbita e a TANtalita. É este tipo de minérios, que existem no planeta em pouca quantidade, particularmente em cerca de 80% num país africano: A República Democrática do Congo - que, se bem se lembram da Geografia na escola, fica ao norte de Angola, tem uma dimensão enorme, cerca de 5 ou 6 vezes o tamanho da Espanha, e faz fronteiras entre outros, com o Ruanda e o Uganda. Uganda e Ruanda que invadiram militarmente este país, ocupando uma grande parte do seu território para - exactamente - explorarem e venderem estes minérios aos países do mundo democrático e tecnologicamente organizado! Na extração do coltan - conhecido como o ouro cinzento - usando métodos primários e sem grandes maquinarias, preferem recrutar crianças e jovens - porque sendo mais pequenos, cabem melhor nas estreitas grutas das minas - mas que depois vão sucumbindo, nos acidentes, nas doenças e sendo substituídos por novos elementos. Diz-se que, por cada quilograma de coltan morrem duas crianças. E ao mesmo tempo, durante a invasão e ocupação militar, para poder chegar aos territórios onde estariam os tais minerais preciosos, devastaram a imensa selva do Congo, dizimando animais em números astronómicos, diminuindo a população de elefantes para 20% e a de gorilas para 10%. Mas que triste panorama, num já triste país com 70 milhões de habitantes e com uma esperança média de vida de 45 anos!

Não me perguntem quem ganha com isto tudo, porque vocês conhecem de cor as marcas todas, de telemóveis, de televisões, de computadores, de jogos, etc!

Usando o sistema político conhecido como o mais justo do Mundo: a Democracia (Demos - povo; Kratos - poder) e utilizando o tal poder que o povo deu, muitos países, os quais me inibo de enunciar, exploram o mais possível, as riquezas orgânicas e inorgânicas do nosso planeta, sem qualquer laivo de sensibilidade pelo ser humano e pelos seus pertences.

Será para isto que nos serve a democracia?

José Manuel Morna Ramos, Médico
Diário de Notícias da Madeira 
Sexta, 18 de Março de 2016