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Partir o espelho, matar a bruxa e quebrar o feitiço
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Partir o espelho, matar a bruxa e quebrar o feitiço
Ninguém é verdadeiramente autónomo se não teve o privilégio de usufruir de uma boa dependência
Há pessoas que se constroem dentro de si próprias, não são capazes de olhar para além do seu minúsculo mundo só seu. Como a rainha da branca de neve, basta o espelho referir que existe alguém mais qualquer coisa que “eu” para o dia estar estragado, o seu e o dos que aparecem por perto. As contrariedades são dramas eternos e todos co-responsáveis pelos dias difíceis. Chegar perto só se for para confirmar a infelicidade, caso contrário é melhor mesmo distância. Na prática são muitas vezes pessoas comuns, sociáveis e mesmo amorosas, o pior são as contrariedades a noção de que às vezes o mundo vira ao contrário e por um qualquer azar, escolhe sempre os mesmos iluminados, reis e rainhas que trespassam o espelho mágico dos dramáticos contos infantis.
Resiliência, capacidade para reagir às adversidades, aprender e evoluir é uma característica que não se desenvolveu, encolhem-se face aos problemas não assumindo qualquer responsabilidade no caminho que os circunda. Como está muito na moda hoje em dia referir, intoxicam-se a si próprias bem antes de intoxicar os outros. Dizem-se autónomos e auto-suficientes mas a dependência, fragmentada de um passado não resolvido, emerge na vida adulta como uma eterna dependência, construída na sua ausência.
É no umbigo que tudo começa, na ligação e no corte de um cordão que nos lança à vida, desarmados, perdidos e assustados, forçados a saltar de um paraíso absoluto que desejaríamos eternizar. Há sempre alguém à espera, a aguardar a chegada, alguém que nos força a abrir as goelas e gritar o desconforto de começar. A partir daí a dependência empurra para a autonomia e a mão que segura e protege é a mesma que larga no abismo e, dependendo das circunstâncias, amortece a queda. Nem todas as mãos são firmes.
Ninguém é verdadeiramente autónomo se não teve o privilégio de usufruir de uma boa dependência. Ninguém cresce saudável se não sentir o conforto e a genuína protecção que ampara o presente e possibilita o futuro.
A história afectiva pode ser tenebrosa se quem cuida nunca se sentiu cuidado aguardando nos objectos do seu amor a correspondência desajustada das suas remotas necessidades. Assim muitas vezes constroem-se gerações onde em rede de necessidades se impossibilita a autonomia. Há sempre uma dependência deslocada, fora do sítio e fora do tempo, exprimida no corpo e na alma de cada um, investida no outro em forma de culpa e raiva.
O que estas pessoas precisam é de espaço afectivo, “colo”, tanto quanto for necessário para acalmar a dor da ausência e permitir a reconstrução. Voltar à infância impedida e atravessa-la com apoio como quem aprende a andar de bicicleta, primeiro as rodinhas, a mão no selim e enfim o empurrãozinho para o primeiro tombo, seguido de arranhões e choro de frustração. Uma caminhada exploratória das competências que até então não tinham espaço para se exprimirem, uma semente sem terra e água seca antes de germinar.
A psicoterapia é uma porta, uma possibilidade, um caminho de recuperação para a vida, uma oportunidade. Aceitá-la é uma opção, o redesenho de uma nova história que permite que a relação pessoal e todas as outras envolventes possam enfim ser vividas na autonomia, conquistada através de uma dependência sã, a verdadeira liberdade.
Partir o espelho, matar a bruxa e quebrar o feitiço, é o desafio, ao resto chama-se crescer.
Manuela Parente Psicóloga
Diário de Notícias da Madeira
Sábado, 4 de Junho de 2016
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