Inferências - Barreiro entre «As 10 cidades mais feias de Portugal» «Espelho meu, espelho meu, diz-me, há cidade mais feia que eu?»

Isto de «cidade feia» é o mesmo que «cidade dormitório» que muitas teimam em considerar que somos, ignorando que somos uma terra com vida própria e dinâmicas intensas.

Acho estranho, muito estranho, esta escolha do Barreiro para o tal prémio da «cidade mais feia, e exemplo de «urbanismo desenfreado e a falta de planeamento», mais a mais, quando o dito site, não aponta, para além daquela ideia, quais os conceitos e critérios de avaliação.

Um site «Vortexmag», escolheu as 10 cidades que considera serem as «mais feias de Portugal», para serem votadas, entre elas está o Barreiro.

Refere-se que se pretende “alertar a consciência para urbanismo desenfreado e a falta de planeamento”.

A primeira coisa que me ocorreu foram as palavras de Augusto Cabrita que dizia: “O prólogo da minha “volta” de todos os dias é exercitar o olhar através da janela..e, mal ensaio os meus primeiros golpes de vista, sinto que ganhei o mais belo prémio do mundo! Tenho Tejo à minha frente!”

De facto, uma cidade que tem o Tejo à sua frente, com a mas bela «varanda» sobre Lisboa, como pode ser considerada uma das mais feias de Portugal?

E, por acaso no dito site, a fotografia escolhida para ilustrar, esta «cidade feia», como exemplo de “urbanismo desenfreado e a falta de planeamento”, é da zona do Barreiro Velho.

Uma zona que cresceu simétrica ao rio, que até, tem um enquadramento urbanístico para se defender das influências do vento norte predominantes.

E, se as zonas velhas das cidades são referência para alertar as consciências sobre o “urbanismo desenfreado e a falta de planeamento”, existiriam muitas cidades feias, por esse mundo fora, ou talvez não, dado que esse urbanismo corresponde a realidades epocais. Imaginem considerar Alfama como um exemplo de “urbanismo desenfreado e a falta de planeamento”. 

E, neste caso, até recordei, uma intervenção do historiador António Camarão, que caracteriza o desenvolvimento urbano do Barreiro, tendo como enquadramento as fabricas de cortiça, contribuindo para a evolução de um tecido urbano, ligando a fábrica à vila.

Depois, tivemos a implantação das fábricas da CUF, que em gerou, por exemplo, um Bairro Operário, que bem podia ser classificado como património europeu.

Ou ainda, os Bairros na zona do Alto do Seixalinho, e, também zonas de «ilhas», o Bairro das Palmeiras.

Mas, nos anos 70, assistimos ao crescimento urbano, esse sim, um verdadeiro exemplo de «urbanismo desenfreado e a falta de planeamento”, que, afinal, foi muito superado e, pouco a pouco, tem vindo a ser requalificado.

Mas, o Barreiro, tem exemplo de planeamento urbano que foram «casos de estudo», por exemplo nos anos 80, estou a lembrar a Urbanização da Cidade Sol.

Escolher o Barreiro, como «cidade feia» para exemplo de «urbanismo desenfreado e a falta de planeamento» é de alguém que não conhece, de certeza esta terra.

Porque neste caso até podiam ter escolhido, Lisboa, onde existem zonas como , por exemplo, as envolventes ao Estádio de Alvalade, Estádio da Luz e outras áreas de Lisboa.

Mas, aprendi de há muito, com Giovanni Pico della Mirandola, que só se ama aquilo que se conhece. E para falar do Barreiro como cidade feia, é mesmo, de quem não conhece os nossos recantos. A nossa Alburrica. O Nosso Tejo. O nosso Coina – e aquela intervenção do POLIS. A Mata da Machada e sapal do Rio Coina. O nosso «Central Parque», como dizia Augusto Cabrita, no centro da cidade. A Telha. A Copacana. A Barra a Barra. O património ferroviário, pena não seja devidamente salvaguardado. 

Isto de «cidade feia» é o mesmo que «cidade dormitório» que muitas teimam em considerar que somos, ignorando que somos uma terra com vida própria e dinâmicas intensas.

Podiam bem escolher outro exemplo. Sei, e estou consciente, já o escrevi várias vezes, que o Barreiro, carece de um plano de revitalização e requalificação urbana, que contribua para gerar novas dinâmicas de cidade, em diversos pontos da cidade e no concelho.

Um concelho que cada vez mais, nesse processo de revitalização tem que fazer prevalecer e estimular o conceito «concelho cidade». Desenvolvendo nichos de negócio e cidadania. 

Sei que existe vontade e esforço nesse sentido por parte de técnicos da autarquia e de políticos.

Certamente, não foi por mero acaso que o Barreiro conquistou o Prémio IHRU 2015 na área de Reabilitação de Espaço Público, pelas excelentes intervenções no espaço de Alburrica.

E já que falamos de prémios recordar que o edificio da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro foi galardoado comp Prémio «International Architecture Award 2007».

É, por, por tudo isto que acho estranho, muito estranho, esta escolha do Barreiro para o tal prémio da «cidade mais feia, e exemplo de «urbanismo desenfreado e a falta de planeamento», mais a mais, quando o dito site, não aponta, para além daquela ideia, quais os conceitos e critérios de avaliação.

Fiquei surpreendido, mas acho que a solução vai ser do estilo: “espelho meu, espelho meu, diz-me,há cidade mais feia do que eu?».

Olhem, visitem-nos, conheçam-nos e depois…podem fazer as vossas opções! 

António Sousa Pereira

http://www.vortexmag.net/as-10-cidades-mais-feias-de-portugal

05.01.2016 - 21:06
ROSTOS.pt

A nota é a lista - Amadora, Loures, Agualva-Cacém, Barreiro, Póvoa de Santa Iria, Odivelas, Sacavém, Valongo, Costa de Caparica e Matosinhos e nas regiões metropolitanas de Porto e Lisboa o top 10 de cidades mais feias de Portugal. Dissemos em Barreiro era o melhor a considerado para a Sines?