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Costa no reverso do espelho
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Costa no reverso do espelho
Onde está o investimento que cria emprego, onde estão as oportunidades de novos mercados quando a produção não aumenta, onde está o défice quando a despesa não diminui e a receita já atingiu os seus limites?
As instituições, nomeadamente as políticas, merecem um respeito que deriva da sua legitimidade, quer constitucional, quer política, que as enquadram e lhes garantem o seu papel na arquitetura de interpretação e compreensão das vontades populares, determinação e ação para a concretização, não apenas do que prometeram, mas do que para além do quotidiano, integra a construção do futuro.
Significa tal que, aos governantes não basta assumir um mero compromisso eleitoral, mas que devem ser capazes de ir mais além do umbigo e que considerem as consequências futuras de cada decisão que tomam. Esta é a dimensão em que políticos se tornam estadistas. Poucos são – cada vez menos – os que alcançam este patamar, emparedados pela opressão pública, isto é, pela reação da comunicação social, por camaradas ou companheiros de partido, pressionados por interesses corporativos ou de outra natureza, enredados na teia da burocracia ou simplesmente da incapacidade ou do medo.
Outros há que enchem o peito de ar ignorando o que os rodeia, pintam o cenário de perfeito, esquecidos da realidade que os cerca e decidem em nome do povo, invocando os trabalhadores para fortalecer a sua posição.
Semana após semana temos assistido a um lento, mas inequívoco, evoluir. Semana após semana, uns ignorando e outros alertando, para riscos e cautelas a ter no processo decisório. Declarações, relatórios, análises, comentários, estudos e documentos são sempre insuficientes quando queremos evitar a realidade.
Dados de instituições oficiais, estatísticas, comunicações de entidades imparciais não são suficientes para criar um alerta ou deixar um aviso. Olhando olimpicamente por cima dos sorrisos dos assessores, esperam que um milagre ou uma alteração favorável modifique o cenário irrealista que contruíram e os levam, nos levam, a um beco sem saída.
Negarão a sua responsabilidade, responsabilizando outros. Assumiram o cumprimento dos seus compromissos, mesmo que tal antecipadamente nos conduza ao abismo. Reclamam a defesa da maioria, mesmo que não esclarecida e seguramente silenciosa, para justificar opções, métodos e resultados.
Assistimos a isto num passado recente. Tememos assistir de novo a uma ‘reprise’: ignorar os avisos da Comissão Europeia, deixar de lado as chamadas do FMI, insultar os que criticam, apelidando-os de parcialidade. Esta atitude seria ainda assim justificável, perante o sentimento do entusiamo popular ou dos agentes com responsabilidade.
O sentimento contudo é de desconfiança, popular e dos agentes que arriscam. Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Como é possível que repentinamente se possam fazer omeletes sem que os ovos sejam visíveis: onde está o investimento que cria emprego, onde estão as oportunidades de novos mercados quando a produção não aumenta, onde está o défice quando a despesa não diminui e a receita já atingiu os seus limites?
Com as promessas já feitas, de mais dinheiro, menos dívida, mais justiça social, de promoções, salários e oportunidades, seria de esperar um descolar nas sondagens dos partidos da maioria, principalmente do PS, o que não se confirma. Por esta altura esperar-se-ia um reconhecimento pelo trabalho feito ao fim de um semestre do Governo da maioria das esquerdas.
Tal não se verifica. Porque não obstante a mudança, instalou-se a desconfiança e o princípio da incerteza. Desconfiança que este ambiente recue rapidamente. Descrença que este prometer se possa manter por muito tempo. Incómodo perante um retrocesso, ou pior, um regresso ao pior dos momentos do final da década passada.
António Costa tem a consciência do caminho que trilha. Vive do outro do espelho que lhe reflete uma realidade difusa e confusa do que o rodeia. Acredita que num golpe de sorte, ou num golpe de asa, na 25ª hora, surja uma solução milagrosa um euromilhões internacional que resolva os problemas que ele não foi capaz de resolver. Mas isso não acontece. Não aconteceu na Grécia dos seus amigos do Syrisa, que ainda no âmbito do seu terceiro resgate aprovaram medidas de austeridade para além das suas linhas vermelhas e para além do que alguma vez o governo anterior teria tido coragem de propor.
Mais dia, menos dia, este Governo tem de olhar para a realidade de frente e não através do espelho, ou mesmo do vidro dos gabinetes. O país não é um filme e os espelhos embaciam a realidade. A responsabilidade não pode ficar sem paternidade ou maternidade. O país não é uma barriga de aluguer.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
António Rodrigues, Advogado
Económico
As instituições, nomeadamente as políticas, merecem um respeito que deriva da sua legitimidade, quer constitucional, quer política, que as enquadram e lhes garantem o seu papel na arquitetura de interpretação e compreensão das vontades populares, determinação e ação para a concretização, não apenas do que prometeram, mas do que para além do quotidiano, integra a construção do futuro.
Significa tal que, aos governantes não basta assumir um mero compromisso eleitoral, mas que devem ser capazes de ir mais além do umbigo e que considerem as consequências futuras de cada decisão que tomam. Esta é a dimensão em que políticos se tornam estadistas. Poucos são – cada vez menos – os que alcançam este patamar, emparedados pela opressão pública, isto é, pela reação da comunicação social, por camaradas ou companheiros de partido, pressionados por interesses corporativos ou de outra natureza, enredados na teia da burocracia ou simplesmente da incapacidade ou do medo.
Outros há que enchem o peito de ar ignorando o que os rodeia, pintam o cenário de perfeito, esquecidos da realidade que os cerca e decidem em nome do povo, invocando os trabalhadores para fortalecer a sua posição.
Semana após semana temos assistido a um lento, mas inequívoco, evoluir. Semana após semana, uns ignorando e outros alertando, para riscos e cautelas a ter no processo decisório. Declarações, relatórios, análises, comentários, estudos e documentos são sempre insuficientes quando queremos evitar a realidade.
Dados de instituições oficiais, estatísticas, comunicações de entidades imparciais não são suficientes para criar um alerta ou deixar um aviso. Olhando olimpicamente por cima dos sorrisos dos assessores, esperam que um milagre ou uma alteração favorável modifique o cenário irrealista que contruíram e os levam, nos levam, a um beco sem saída.
Negarão a sua responsabilidade, responsabilizando outros. Assumiram o cumprimento dos seus compromissos, mesmo que tal antecipadamente nos conduza ao abismo. Reclamam a defesa da maioria, mesmo que não esclarecida e seguramente silenciosa, para justificar opções, métodos e resultados.
Assistimos a isto num passado recente. Tememos assistir de novo a uma ‘reprise’: ignorar os avisos da Comissão Europeia, deixar de lado as chamadas do FMI, insultar os que criticam, apelidando-os de parcialidade. Esta atitude seria ainda assim justificável, perante o sentimento do entusiamo popular ou dos agentes com responsabilidade.
O sentimento contudo é de desconfiança, popular e dos agentes que arriscam. Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Como é possível que repentinamente se possam fazer omeletes sem que os ovos sejam visíveis: onde está o investimento que cria emprego, onde estão as oportunidades de novos mercados quando a produção não aumenta, onde está o défice quando a despesa não diminui e a receita já atingiu os seus limites?
Com as promessas já feitas, de mais dinheiro, menos dívida, mais justiça social, de promoções, salários e oportunidades, seria de esperar um descolar nas sondagens dos partidos da maioria, principalmente do PS, o que não se confirma. Por esta altura esperar-se-ia um reconhecimento pelo trabalho feito ao fim de um semestre do Governo da maioria das esquerdas.
Tal não se verifica. Porque não obstante a mudança, instalou-se a desconfiança e o princípio da incerteza. Desconfiança que este ambiente recue rapidamente. Descrença que este prometer se possa manter por muito tempo. Incómodo perante um retrocesso, ou pior, um regresso ao pior dos momentos do final da década passada.
António Costa tem a consciência do caminho que trilha. Vive do outro do espelho que lhe reflete uma realidade difusa e confusa do que o rodeia. Acredita que num golpe de sorte, ou num golpe de asa, na 25ª hora, surja uma solução milagrosa um euromilhões internacional que resolva os problemas que ele não foi capaz de resolver. Mas isso não acontece. Não aconteceu na Grécia dos seus amigos do Syrisa, que ainda no âmbito do seu terceiro resgate aprovaram medidas de austeridade para além das suas linhas vermelhas e para além do que alguma vez o governo anterior teria tido coragem de propor.
Mais dia, menos dia, este Governo tem de olhar para a realidade de frente e não através do espelho, ou mesmo do vidro dos gabinetes. O país não é um filme e os espelhos embaciam a realidade. A responsabilidade não pode ficar sem paternidade ou maternidade. O país não é uma barriga de aluguer.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
António Rodrigues, Advogado
Económico
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