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O ‘Brexit’ e a Europa
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O ‘Brexit’ e a Europa
Sem o Reino Unido, com a França estatizada e enfraquecida perante uma Alemanha unida à volta da sua força comercial, não estou a ver outra forma de a UE sobreviver que não seja através de uma reforma das suas instituições.
O Reino Unido vota amanhã a sua permanência na União Europeia. O governo britânico alertou várias vezes para os prejuízos económicos caso a opção seja sair. As instituições europeias, e até Obama, repetiram-no vezes sem conta: as grandes empresas sairão de Londres, o investimento estrangeiro cairá e o Reino Unido levará anos para recuperar o que pode perder numa noite. Nas últimas semanas o aviso tornou-se ameaça e o efeito pode ser contrário ao pretendido. Afinal, estamos a falar dos britânicos que não gostam de ser ameaçados. Mas e a Europa?
A Europa pode perder muito mais do que o Reino Unido. É a história que nos diz. Nos mostra quando olhamos para o passado e deparamos com o caótico autoritarismo que grassou pela Europa fora quando a Inglaterra ou, num sentido mais alargado, o Reino Unido se afastou do Velho Continente, deixando-o à deriva com uma das suas maiores nações doente.
Como já referi numa outra crónica para este jornal a 25 de Maio último, as ondas de choque provadas pelo ‘Brexit’, com a ajuda de um bom resultado da coligação Unidos Podemos, já este domingo em Espanha, darão força aos governos dos países com contas públicas mais deficitárias nas suas negociações com Bruxelas. Qualquer cedência nessa matéria enfraquecerá o euro que é o maior sustentáculo da União. Pior que isso: dará força aos governos despesistas, facilitando a vida à classe política que favorece interesses à custa dos cidadãos.
E assim chegamos ao grande doente europeu que é a França. Uma França que perdeu o norte e que, sem o Reino Unido na Europa, ficaria entregue a si mesma, aos seus fantasmas e terrores. Os franceses sabem-no, estão confusos e no meio de um debate intelectual e político que esperam lhes mostre uma luz ao fundo do túnel.
Apesar do actual presidente ser socialista, e da Frente Nacional ser uma ameaça ao equilíbrio político da actual República, os últimos anos têm sido marcados por uma forte actividade intelectual por parte de autores que situam entre a direita francesa. Não me refiro apenas ao livro Le Suicide français, de Éric Zemmour, saído em Outubro de 2014 e que tem mais de 300 mil exemplares vendidos, mas também às intervenções de Alain Finkielkraut. Os dois são fortes críticos do Maio de 68 e da forma como esse movimento debilitou o Estado francês. Mas o mais importante é que estes autores estão a influenciar uma nova geração de intelectuais, nascidos depois de 1968, sob os efeitos desse movimento que o pretendem contrariar.
A França tem sido vista como um país irreformável, título que podia ostentar com orgulho quando de Bruxelas, ao invés de obrigações, fluía dinheiro para os países periféricos, o que se compensava através de um cuidado especial com Paris. Nesta segunda década do século, a unanimidade já era e os efeitos na paragem no tempo sentem-se nas cidades francesas. A França já não faz par com a Alemanha na Europa e uma saída do Reino Unido desequilibraria ainda mais essa discrepância.
Infelizmente o debate francês que referi em cima pode ter vindo tarde demais. Com as dificuldades financeiras, a crise dos refugiados, que os atentados islâmicos não ajudam, os tempos serão de radicalização. O êxito de Zemmour vem de ser mais mediático e legível que Finkielkraut, mas também de alertar para a decadência do Estado e a transformação da Frente Nacional num partido de esquerda que vai convencer o eleitor funcionário público que vota no partido socialista.
A tendência será, infelizmente, para uma valorização do papel do Estado com os entraves que tal política implicou no passado. Sem o Reino Unido, com a França estatizada e enfraquecida perante uma Alemanha unida à volta da sua força comercial, que foi um dos pilares para a sua unificação no século XIX, não estou a ver outra forma de a União Europeia sobreviver que não seja através de uma reforma das suas instituições. Em que sentido, é muito difícil, senão impossível, dizê-lo.
Tal como há semanas era difícil prever o ‘Brexit’, hoje é arriscado avançar com as suas consequências. Uma certeza a história nos mostra: a Europa pode perder mais que o Reino Unido.
00:05 h
André Abrantes Amaral, Advogado
Económico
O Reino Unido vota amanhã a sua permanência na União Europeia. O governo britânico alertou várias vezes para os prejuízos económicos caso a opção seja sair. As instituições europeias, e até Obama, repetiram-no vezes sem conta: as grandes empresas sairão de Londres, o investimento estrangeiro cairá e o Reino Unido levará anos para recuperar o que pode perder numa noite. Nas últimas semanas o aviso tornou-se ameaça e o efeito pode ser contrário ao pretendido. Afinal, estamos a falar dos britânicos que não gostam de ser ameaçados. Mas e a Europa?
A Europa pode perder muito mais do que o Reino Unido. É a história que nos diz. Nos mostra quando olhamos para o passado e deparamos com o caótico autoritarismo que grassou pela Europa fora quando a Inglaterra ou, num sentido mais alargado, o Reino Unido se afastou do Velho Continente, deixando-o à deriva com uma das suas maiores nações doente.
Como já referi numa outra crónica para este jornal a 25 de Maio último, as ondas de choque provadas pelo ‘Brexit’, com a ajuda de um bom resultado da coligação Unidos Podemos, já este domingo em Espanha, darão força aos governos dos países com contas públicas mais deficitárias nas suas negociações com Bruxelas. Qualquer cedência nessa matéria enfraquecerá o euro que é o maior sustentáculo da União. Pior que isso: dará força aos governos despesistas, facilitando a vida à classe política que favorece interesses à custa dos cidadãos.
E assim chegamos ao grande doente europeu que é a França. Uma França que perdeu o norte e que, sem o Reino Unido na Europa, ficaria entregue a si mesma, aos seus fantasmas e terrores. Os franceses sabem-no, estão confusos e no meio de um debate intelectual e político que esperam lhes mostre uma luz ao fundo do túnel.
Apesar do actual presidente ser socialista, e da Frente Nacional ser uma ameaça ao equilíbrio político da actual República, os últimos anos têm sido marcados por uma forte actividade intelectual por parte de autores que situam entre a direita francesa. Não me refiro apenas ao livro Le Suicide français, de Éric Zemmour, saído em Outubro de 2014 e que tem mais de 300 mil exemplares vendidos, mas também às intervenções de Alain Finkielkraut. Os dois são fortes críticos do Maio de 68 e da forma como esse movimento debilitou o Estado francês. Mas o mais importante é que estes autores estão a influenciar uma nova geração de intelectuais, nascidos depois de 1968, sob os efeitos desse movimento que o pretendem contrariar.
A França tem sido vista como um país irreformável, título que podia ostentar com orgulho quando de Bruxelas, ao invés de obrigações, fluía dinheiro para os países periféricos, o que se compensava através de um cuidado especial com Paris. Nesta segunda década do século, a unanimidade já era e os efeitos na paragem no tempo sentem-se nas cidades francesas. A França já não faz par com a Alemanha na Europa e uma saída do Reino Unido desequilibraria ainda mais essa discrepância.
Infelizmente o debate francês que referi em cima pode ter vindo tarde demais. Com as dificuldades financeiras, a crise dos refugiados, que os atentados islâmicos não ajudam, os tempos serão de radicalização. O êxito de Zemmour vem de ser mais mediático e legível que Finkielkraut, mas também de alertar para a decadência do Estado e a transformação da Frente Nacional num partido de esquerda que vai convencer o eleitor funcionário público que vota no partido socialista.
A tendência será, infelizmente, para uma valorização do papel do Estado com os entraves que tal política implicou no passado. Sem o Reino Unido, com a França estatizada e enfraquecida perante uma Alemanha unida à volta da sua força comercial, que foi um dos pilares para a sua unificação no século XIX, não estou a ver outra forma de a União Europeia sobreviver que não seja através de uma reforma das suas instituições. Em que sentido, é muito difícil, senão impossível, dizê-lo.
Tal como há semanas era difícil prever o ‘Brexit’, hoje é arriscado avançar com as suas consequências. Uma certeza a história nos mostra: a Europa pode perder mais que o Reino Unido.
00:05 h
André Abrantes Amaral, Advogado
Económico
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