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O excedente da estagnação da Europa
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O excedente da estagnação da Europa
Enquanto o resto do mundo recupera da Grande Recessão de 2008-2009, a Europa está a estagnar. As previsões de crescimento na Zona Euro apontam para um crescimento de 1,7% no próximo ano. O que é que pode ser feito em relação a isto?
Uma solução é enfraquecer o euro. No início de Julho, o director executivo da Airbus pediu uma acção drástica, isto é, de reduzir o valor do euro face ao dólar em cerca de 10%, dos "loucos" 1,35 dólares para entre os 1,20 e 1,25 dólares. O Banco Central Europeu (BCE) cortou a sua taxa de depósitos de 0 para -0,1%, cobrando efectivamente aos bancos para manter o dinheiro no Banco Central. Mas estas medidas tiveram pouco efeito no mercado cambial.
Isto deve-se, sobretudo, ao facto de nada estar a ser feito para impulsionar a procura agregada. O Reino Unido, os Estados Unidos da América e o Japão aumentaram as suas ofertas de moeda para animar as suas economias, com a desvalorização da moeda a tornar-se parte do mecanismo de recuperação. O presidente do BCE, Mario Draghi, frequentemente insinua um "quantitative easing" – em Junho, repetiu que, "se for necessário, vamos actuar rapidamente como mais flexibilização da política monetária". Mas a sua eterna falta de compromisso assemelha-se à de Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra, que um antigo membro do Governo britânico comparou a um "namorado pouco confiável".
Mas a inércia do BCE não é totalmente responsabilidade da apreciação da taxa de câmbio do euro. O padrão de desequilíbrios da conta corrente por toda a Zona Euro desempenha também um papel de relevo.
O excedente da conta corrente da Alemanha – o maior da área do euro – não é um fenómeno novo. Existiu desde a década de 1980, caindo apenas durante a reunificação, quando o investimento intensivo em construção na Alemanha de Leste mais do que absorveu as poupanças do país. O excedente externo cresceu especialmente rápido desde o início da década de 2000. Actualmente, continua próximo do nível anterior à crise de 2007 nos 7,4% do PIB.
Contudo, actualmente, os países que antes sofriam de défices estão a caminhar na direcção de excedentes, o que significa que a conta corrente da Zona Euro está cada vez mais positiva. De facto, espera-se que o superávit seja de 2,25% do PIB este ano e no próximo. A Zona Euro está a poupar mais do que a investir, ou o equivalente, exportando mais do que importando. Isto está a fortalecer a sua moeda.
Em Outubro de 2013, o Tesouro norte-americano apontou o dedo aos excedentes estruturais da Alemanha como sendo a fonte dos males da Europa. O argumento era que se um país tem um excedente, outro tem de ter um défice porque o excesso de poupanças/exportações do superávit do país tem de ser absorvido por outro país com investimento, consumo ou importações.
Se o país que tem excedente não toma medidas para reduzir o seu superávit – por exemplo através do investimento doméstico e consumo –, a única maneira para o país com défice reduzi-lo é através de um corte no seu próprio investimento e consumo. Mas isto iria ter como resultado um "mau" equilíbrio, alcançado pela estagnação.
Algo deste género aconteceu na Zona Euro. A Alemanha reteve o seu "bom" excedente, enquanto os países mediterrâneos reduziram os seus défices através de um corte no investimento, consumo e importações. A taxa de desemprego na Grécia atingiu quase os 27%, em Espanha está quase tal elevada como na Grécia e Portugal enfrenta uma crise bancária.
Em Novembro de 2013, Paul Krugman escreveu que "o falhanço da Alemanha em ajustar ampliou os custos da austeridade". Apesar de ser "inevitável que a Espanha enfrentasse anos difíceis à medida que ia aprendendo a viver com os seus meios", argumentou Krugman, "o imobilismo germânico contribuiu para a dor espanhola".
Mas a Alemanha rejeitou esta lógica. O seu actual excedente da conta corrente era a recompensa pelo seu trabalho árduo. De acordo com o ministro das Finanças alemão, o excedente "não é motivo de preocupação nem para a Alemanha, nem para a Zona Euro, nem para a economia mundial". Dado que não era necessária nenhuma "correcção", cabia aos países com défices apertarem o cinto.
John Maynard Keynes apontou a consequência deflacionaria desta atitude em 1941. Países deficitários com taxas de câmbio fixas (como é o caso da Zona Euro) são obrigados a cortar os seus gastos, enquanto os países com excedentes não têm pressão idêntica para aumentar as suas despesas. A proposta de Keynes para solucionar este problema era um sistema internacional de pagamentos que exigisse um ajustamento simétrico tanto aos países com défices como com excedentes. Superavits e défices persistentes seriam taxados com uma taxa progressiva. O seu plano foi rejeitado.
Os países credores podem sempre ajudar os devedores investindo os seus excedentes lá. A Alemanha está disponível para faze-lo em princípio, mas insiste que a austeridade tem de estar em primeiro lugar. O problema é que a estagnação arruína as perspectivas de investimento.
A China mostrou que um ajustamento voluntário por parte de um país com excedentes é possível. Até recentemente, o problema dos desequilíbrios mundiais estavam centrados no excedente bilateral da China com os EUA. A China utilizou o seu excesso de poupanças para comprar obrigações do Tesouro norte-americano, o que fez com que as taxas de juro fossem reduzidas e permitiu que os custos de endividamento fossem baixos, o que possibilitou aos Estados Unidos ter um grande défice da conta corrente. Porém, as taxas de juro baixas impulsionaram a bolha imobiliária que rebentou em 2007 e que conduziu directamente à crise financeira de 2008.
Desde então a China desenvolveu grandes esforços para reduzir o seu excedente externo. Em 2007 atingiu o pico, situando-se em 10,1% do PIB, sendo que o seu excedente era maior que o germânico. No final de 2013, o excedente externo situava-se em 2% do PIB.
Porque estava a China disposta a ajustar enquanto a Alemanha não? Talvez a diferença substancial resida no facto que a Alemanha tem uma influência política sobre os países com défices, com os quais tem relações comerciais. A Alemanha efectivamente consegue impor a austeridade sobre os seus vizinhos.
Isto levanta uma questão importante em relação à legitimidade da austeridade. Os seus principais defensores são os credores, que têm muito a ganhar (em relação à alternativa de aumentar os salários domésticos e perdoar dívidas). Os conflitos entre credores e devedores sempre foram a essência da política monetária e a persistência da austeridade estabeleceu as bases para uma nova revolução dos devedores.
Por isso, temos de confiar em Draghi e na flexibilização monetária para salvar o euro da Alemanha. O dinheiro vai ter de cair do helicóptero proverbial antes que a Alemanha mostre qualquer inclinação para reduzir o seu excedente.
Robert Skidelsky, membro da British House of Lords, é professor emérito de Economia Política da Universidade de Warwick.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
06 Agosto 2014, 19:05 por Robert Skidelsky
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