Soluções para o país

A dureza do governo português no processo que procura dobrar a espinha aos gregos envergonha, da esquerda à direita, todos os que prezam a democracia. Cavaco e Passos Coelho colocaram o país como um colaboracionista judeu em campo de concentração.
 
Mas, em Portugal, o sentimento da maioria não é diferente de outros países subjugados (ou afectados na sua dignidade, como agora se diz). Poucos são os que olham com satisfação para o estado do país. Poucos são os que não entendem ser urgente o início de um processo de democratização, combate à corrupção, recuperação de soberania que significará, necessariamente, uma ruptura com os últimos 38 anos de governação. Sendo claro que isso deverá varrer com muitos dos actores da cena política actual é convicção de muitos que esse processo não se poderá fazer exclusivamente a partir de um partido – criado ou a criar – nem sem a participação do PCP. Quem o afirma não são apenas os militantes ou potenciais eleitores do PCP mas quem percebe, até pelo exemplo grego, que a alternativa política terá de ser erigida contra os ditames de uma UE construída entre socialistas e populares.
 
Condenado a viver longe dos principais meios de comunicação social, praticamente sem comentadores que lhe sejam próximos e com direito cíclico a momentos de ridicularização – mesmo nas questões europeias em que terá sido a força política que menos falhou nas previsões – não será irrelevante que o PCP esteja a adoptar uma estratégia equivalente à de muitos movimentos que derrubaram regimes na América Latina partindo para uma campanha de contactos metódica, directa, porta a porta, pessoa a pessoa para ouvir o que pensam. No próximo sábado, em Loures, esse processo terá um momento público de significativa importância no qual se discutirá as saídas para o país num quadro de gentes muito além do tradicional eleitorado comunista. 

Por Tiago Mota Saraiva
publicado em 23 Fev 2015 - 08:00
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