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Mensagem por Admin Dom Set 20, 2015 9:02 pm

Portugal já consome quase tanta energia de fontes renováveis como do petróleo. Problema: 80% do crude é importado

Portugal é tão sensível ao crude quanto a China. Consumo vale 3,8% Ng4705820
Produção de petróleo em Saskatchewan, Canadá
REUTERS/Dan Riedlhuber

Para o bem e para o mal, Portugal ainda é um país relativamente dependente (importador líquido) do petróleo e consome por ano um valor equivalente a 3,8% do produto interno bruto (PIB), tanto quanto a China ou a Lituânia, indicam cálculos do Dinheiro Vivo com base em números da petrolífera BP e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para o mal, pode-se recordar o choque de preços em 2008 (o contrato de Brent atingiu um pico de 144 euros por barril no início de julho), empurrando o país para uma das maiores recessões da história moderna num ambiente globalmente volátil, sobretudo na banca e nos mercados financeiros. Em 2011 e 2012, surgiriam réplicas deste movimento especulativo, que estragariam ainda mais a economia, corriam já o ajustamento e a austeridade do governo e da troika.

Para o bem, há o exemplo deste ano. A economia portuguesa, que entretanto começou a crescer devagar, está a beneficiar da descida pronunciada dos preços internacionais da matéria-prima, apesar da depreciação do euro, que retira poder de compra (os barris de petróleo são negociados em dólares).

Segundo dados da Fed de Saint Louis, EUA, o preço médio diário desde início do ano (até esta semana) já vai em 55,8 dólares por barril, quase metade da média diária do ano passado, que ficou em 99 dólares. Em euros, a queda também é grande: de 74,5 euros por barril (média diária de 2014) para 50 euros (média desde início de 2015).

Se Portugal exporta muito petróleo (a Galp é, justamente, um dos trunfos da força exportadora do país), como é que a desvalorização do crude (que come o valor vendido) ajuda a economia? Via consumo, custos de transporte mais baixos e menor carga sobre as empresas, designadamente as indústrias mais intensivas no uso de combustíveis e eletricidade. Isso faz baixar os preços (do produtor ao consumidor), induz artificialmente mais competitividade.

Nas contas públicas o efeito também é benigno por via do impulso sobre o consumo (Estado consegue cobrar mais impostos) e com menos despesa (ver texto em baixo).

Tivesse o país mais investimento (privado ou público) e reparado o esvaziamento da capacidade produtiva dos últimos anos e esta conjuntura, que deve ser temporária, teria ainda resultados mais favoráveis.

Os grandes números ajudam a explicar o que está em jogo. Portugal é um consumidor relativo de petróleo médio em termos mundiais. A fatura do consumo (em dólares, 2014) pesa tanto cá quanto na China (os tais 3,8% do PIB).
Os consumidores mais emancipados são Suíça (1,1% do produto), Dinamarca e Noruega (ambos com 1,7%). A Noruega é um dos grandes produtores mundiais, o que dilui o peso do seu consumo.

Do lado oposto, estão os países mais sensíveis ao crude. Os maiores consumidores (também em proporção do PIB) são Arábia Saudita (15,3%) e Singapura (14,9%).

Portugal tem conseguido reduzir a um bom ritmo a dependência das energias fósseis, mas continua a ter de importar a maior parte da energia de que necessita. A dependência é "elevada".

Segundo o Ministério do Ambiente e Energia, "em termos da estrutura de importação, em euros, verifica-se que a nossa dependência externa, no que se refere aos produtos de petróleo, ainda continua elevada, na ordem dos 80% (-2,3 pontos percentuais em relação a 2013)". Desses 80%, os produtos mais importantes são "outros componentes" (34%) e gasóleos (18%).

"Em 2014, o saldo importador de produtos energéticos [importações menos exportações] cifrou-se em 5,7 mil milhões de euros", diz o ministério, o que ainda assim "representa uma melhoria de 8,4% relativamente ao valor de 2013 (6,2 mil milhões de euros). Portugal está a conseguir importar menos energia e como os preços também estão a cair, a fatura externa cai de forma significativa.

E isto é para continuar? Para Rabah Arezki e Akito Matsumoto, dois peritos em matérias-primas do FMI, "é mais provável termos uma era de preços muito mais baixos do que no passado recente".

Elencam vários fatores que concorrem para essa ideia: "A decisão da OPEP em manter o nível de produção", "a forte produção de petróleo shale [xisto] nos EUA" e a "grande capacidade de produção resultando dos investimentos já realizados". Tudo isto contribui para "um excesso de oferta sem precedentes".

Do lado da procura, os analistas destacam "o abrandamento dos mercados emergentes e das economias avançadas".

Por Luís Reis Ribeiro
18/09/2015 | 23:30 |  Dinheiro Vivo
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