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Eleições à porta
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Eleições à porta
Vais ver depois das eleições europeias, responde Tito. Se vocês as ganharem, como se espera, a coligação começará a interrogar-se.
Tito Zagalo passou uma semana em Lisboa a rever família e amigos. Apanhou-me na segunda-feira de Páscoa em véspera de regresso aos EUA, onde continua a ensinar.
Disparou à queima-roupa: então o Governo vai-se livrar do FMI? Já não era sem tempo, nunca vi credores tão ansiosos por se libertarem de um devedor! Facilitam tudo, com o argumento de que os mercados estão a baixar o juro das emissões, mesmo sabendo a economia frágil e pronta a virar a qualquer sinal negativo, como a tensão na Ucrânia. Na verdade as exportações melhoraram e vão melhorar, graças à indústria automóvel, a única onde os sindicatos do PC não metem o pé e ao combustível refinado, apesar do seu fraco valor acrescentado. Mas não sei se reparaste nas reservas que um relatório do Banco de Portugal faz, sobre o suposto êxito das exportações. Estás a ser pessimista, meu caro Tito, não é só nesses sectores, retorqui inflamado de fervor, estamos a exportar mais vinho, azeite, calçado, frutos frescos e vegetais e até têxteis e leite para a China. As nossas PME da metalomecânica e das tecnologias da informação e comunicação (TIC) estão a progredir, a exportar e a gerar emprego qualificado. Até já se fala do turismo da saúde! Não contesto, responde Tito, mas isso são amendoins, pouco conta, não tivesse o Sócrates incentivado a nova unidade de Sines, a produção ampliada de pasta de papel, aguentado a indústria automóvel e criado a nova fileira das renováveis, estaríamos hoje bem pior. Infelizmente um ministro ignorante e desconfiado cancelou a fábrica de baterias para carros eléctricos. Estaríamos agora a exportar e a empregar mais gente. Não vale a pena chorar o leite derramado, o País é mesmo assim, retorqui complacente, nunca dispensa uma boa “viradeira”, sabemo-lo todos desde os tempos de Pombal.
Vi o primeiro-ministro numa pretensiosa entrevista televisiva e fiquei assustado com o homem, continuou Tito. Quando esperava que, em época de Ressureição ele fizesse inchar os nossos peitos, sai-me um discurso numérico, onde o Povo só compreendeu que o vão sugar com mais impostos. E depois, esta estratégia de destilar a maldade aos poucos, contra toda a teoria de que o mal deve ser declarado em uma só e violenta ocasião e o bem distribuído às pinguinhas! Isso só ajuda o teu partido a subir nas sondagens. Imagina que depois do mal todo declarado que faria o PS subir ao céu, vinha a seguir um período longo onde ele teria que se aguentar nos píncaros, tarefa bem mais difícil do que a de subir devagar, mas bem. O PS tem sorte, não apenas pela desconfiança do Povo no algoz, agravada pelas permanentes contradições do seu discurso que o transformam em mentiroso compulsivo aos olhos do Povo, como pelos sinais de desagregação que começam a ser visíveis na coligação. É por aí que tudo acabará, lembra-te de que o poder raramente se conquista, apanha-se, quando outros o perderam. Vir a Saúde anunciar impostos sobre alimentos pecaminosos e logo a seguir a Economia e a Agricultura negarem qualquer decisão, é mais que um mero desconcerto de opiniões, é sinal de que os parceiros já duvidam da valia do casamento. Ainda não foi desta, respondo assertivo, o Portas já veio aceitar a proposta, para que os arames continuem a segurar o molho de lenha: até elogiou o ministro da Saúde! E não te esqueças que a capacidade de gerar demagogia é ilimitada: agora até se anuncia que a electricidade vai baixar para um milhão e meio de Portugueses. Se já existem tarifas sociais há mais de dois anos, por que razão só agora se inicia a promoção da medida? Ora que pergunta, replica Tito, claro que por termos eleições à porta!
Vais ver depois das eleições europeias, responde Tito. Se vocês as ganharem, como se espera, a coligação começará a interrogar-se: valerá a pena a coligação, quando cada um, em separado, não teria perdido tanto? Meu menino prepara-te, se a vitória for de arrasar, podem até antecipar a ruptura, para conter o desgaste. Não, meu caro, não os conheces, retorqui, são mais teimosos que inteligentes e mais vaidosos que operativos. O Passos lutará até ao fim, mesmo quando tudo estiver perdido e só largará o poder quando for escorraçado pelos seus companheiros. E o Portas gosta tanto de ser ministro e é tão habilidoso no mortal de costas que lutará pelas comendas e prebendas e só no último minuto dirá que se enganou, disponibilizando-se para parceiro de nova valsa, se houver música. O destino está longe de marcado.
Mas, diz-me cá, tendes vós um programa alternativo? Ideias para reconstruir a economia? Propostas de modernização do Estado Social, para que ele se aguente e não tenhamos que dar razão ao Passos? Soluções para reformar o Estado e não apenas a burocracia? Ideias para negociar com os sindicatos a flexibilização laboral com segurança? Propostas para cessar as rendas nos sectores que as sugam e enfraquecem a economia? Como actuar na Europa? Que posição se deve ter perante os EUA e Canadá no contexto do futuro acordo de comércio e investimento? Que pensam os socialistas sobre o conflito na Ucrânia? Estariam dispostos a enviar tropas?
A conversa dava pano para mangas, mas ficámos por aqui. Adeus, Tito, até ao Verão!
25 de Abril e Adriano
Privei com Adriano Correia de Oliveira durante dez anos, até pouco antes da sua morte prematura, aos quarenta. Uma voz de privilégio, um talento na transformação da poesia portuguesa em canto, um amigo de enorme generosidade e dedicação, um empenhado militante de intervenção. A sua canção “O Senhor Morgado” sobre poema do Conde de Monsaraz, música de José Niza e orquestração de Rui Ressureição, dois amigos que também já nos deixaram, adapta-se extraordinariamente a este 25 de Abril, onde o País mais que nunca se dividiu. O poema de Monsaraz, apesar de retractar o Portugal rural e caciqueiro do século XIX, cantado de forma extraordinariamente irónica, ajusta-se aos tempos de hoje:
O Senhor Morgado vai no seu murzelo/ Todo empertigado/ É um gosto vê-lo/ Próspero, anafado/ Veste alentejana/ Calça de riscado/ Homem duma cana/ Vai como se ufana/ De ir tão bem montado/ E ela na janela/ Seja Deus louvado
O Senhor Morgado/ Vai nas próprias pernas/ Todo barbeado/ Tem palavras ternas/ Para cada lado/ Quando passa sente/ Que é temido e amado/ Fala a toda a gente/ Toca um insolente/ Sou um seu criado/ Eleições à porta/ Seja Deus louvado
O Senhor Morgado/ Vai na sege rica/ Todo repimpado/ Ai que bem lhe fica/ O chapéu armado/ A comenda ao peito/ O espadim ao lado/ Que homem tão perfeito/ Deputado eleito/ Muito bem votado
E ela na janela/ Eleições à porta/ Vai para o Te-Deum/ Seja Deus louvado
Lembrar Adriano e tantos que já partiram é a nossa lembrança dos valores de Abril.
Deputado do PS ao Parlamento Europeu
ANTÓNIO CORREIA DE CAMPOS 28/04/2014 - 00:29
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