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O assalto ao poder
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O assalto ao poder
O BE está a urdir a teia destinada à transformação da esquerda que pretende concretizar nas próximas eleições
Enquanto aumentam os receios, que a lucidez impõe, de que o “plano” - ou “os planos” - nos hemisférios orçamentais e financeiros do actual governo pode(m) não conduzir ao almejado “virar de página” em relação à austeridade dos credores que salvaguardaram a bancarrota iminente, há uma escalada evidente do “plano” do Bloco de Esquerda. Não há como esconder - a influência sobre o poder e a contingência de o agarrar transforma e converte. O BE assumiu-se - a resistência já foi, o crescimento é agora, o futuro só pode ser radioso. Para isso, faz crescer a pressão sobre o PS - com o risco de soçobrar a maioria parlamentar que liga o PS à máquina -, numa espécie de marcação mista ao homem e à zona tendo em vista, na fórmula adoptada pelo partido, “formar maiorias de transformação à esquerda”. Este é o decisivo movimento político da actualidade: o xadrez com que Catarina Martins e os seus vão enleando António Costa e os seus.
É por demais claro que o BE de hoje aspira a absorver o PCP concentrado no ontem, como expediente imprescindível para engolir algo do eleitorado mais à esquerda. Quando fala do “compromisso de recuperação de rendimentos” (naturalmente das bolsas de eleitores que pode cativar), o objectivo é evidente. Quando acena com a “travagem do empobrecimento” e a impossibilidade de “nova carga fiscal”, a agenda não está escondida. Quando se perfila numa exigência de “renegociar a dívida pública” e “realizar uma intervenção sistémica sobre a banca privada, assumindo o controlo público”, os eixos são obnubilar as marcas de diferenciação do PC e colocar sob escrutínio a utilidade de Jerónimo. Quando se luta contra a “chantagem europeia”, o intento de absorção dos colegas do lado nas bancadas parlamentares é mais do que assertivo. Quando se exige a “reposição dos direitos laborais” e o “combate assertivo à precariedade”, os lemas não são só seus mas admitem-se que podem ser - como prova o namoro com a GCTP, à vista desarmada, no desfile do 1.º de Maio. Nota-se o raciocínio de base: é possível e verosímil que em novas eleições o PS só precise do BE para formar maioria. Para isso é preciso que o BE cresça mais um pouco, o PC entre em astenia e o PS não cresça demasiado (mas fique acima do PSD). Essa é a combinação de factores que está na cabeça dos mentores (unidos depois das desavenças das diferentes tendências de 2014) do novo BE, o BE de poder. Que até já engole sapos e “planos de estabilidade” para chegar à meta desejada: novas eleições antes que a maioria dos eleitores se aperceba do fundamental e eleições que tragam a legitimidade formal que 2015 não trouxe.
Por agora, a campanha eleitoral em curso do governo e dos seus apoiantes (feita também de novos experimentalismos nos mais diversos sectores) está ao serviço dessa redefinição da esquerda. A argamassa do poder impede que se corte o cordão umbilical da maioria parlamentar mas todas as peças dessa maioria sabem que nada será como antes. Se as finanças derrapam e se voltou a abusar do crédito para a “tesouraria”, se há programas escondidos de restrição, se o crescimento económico pretendido é uma miragem, se os impostos sobem, se os postos de trabalho se evaporam na comparação, se o investimento mirrou, nada disso interessa ao discurso dominante, em especial para os bloquistas da ambição. Enquanto Costa anda de bicicleta nos Açores com a pestana encoberta e Jerónimo se engasga nos microfones, o BE faz a teia. Está em busca de um novo resgate para o país. O seu.
Professor de Direito da Universidadede Coimbra.
Jurisconsultor
Escreve à quinta-feira
05/05/2016
Ricardo Costa
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Enquanto aumentam os receios, que a lucidez impõe, de que o “plano” - ou “os planos” - nos hemisférios orçamentais e financeiros do actual governo pode(m) não conduzir ao almejado “virar de página” em relação à austeridade dos credores que salvaguardaram a bancarrota iminente, há uma escalada evidente do “plano” do Bloco de Esquerda. Não há como esconder - a influência sobre o poder e a contingência de o agarrar transforma e converte. O BE assumiu-se - a resistência já foi, o crescimento é agora, o futuro só pode ser radioso. Para isso, faz crescer a pressão sobre o PS - com o risco de soçobrar a maioria parlamentar que liga o PS à máquina -, numa espécie de marcação mista ao homem e à zona tendo em vista, na fórmula adoptada pelo partido, “formar maiorias de transformação à esquerda”. Este é o decisivo movimento político da actualidade: o xadrez com que Catarina Martins e os seus vão enleando António Costa e os seus.
É por demais claro que o BE de hoje aspira a absorver o PCP concentrado no ontem, como expediente imprescindível para engolir algo do eleitorado mais à esquerda. Quando fala do “compromisso de recuperação de rendimentos” (naturalmente das bolsas de eleitores que pode cativar), o objectivo é evidente. Quando acena com a “travagem do empobrecimento” e a impossibilidade de “nova carga fiscal”, a agenda não está escondida. Quando se perfila numa exigência de “renegociar a dívida pública” e “realizar uma intervenção sistémica sobre a banca privada, assumindo o controlo público”, os eixos são obnubilar as marcas de diferenciação do PC e colocar sob escrutínio a utilidade de Jerónimo. Quando se luta contra a “chantagem europeia”, o intento de absorção dos colegas do lado nas bancadas parlamentares é mais do que assertivo. Quando se exige a “reposição dos direitos laborais” e o “combate assertivo à precariedade”, os lemas não são só seus mas admitem-se que podem ser - como prova o namoro com a GCTP, à vista desarmada, no desfile do 1.º de Maio. Nota-se o raciocínio de base: é possível e verosímil que em novas eleições o PS só precise do BE para formar maioria. Para isso é preciso que o BE cresça mais um pouco, o PC entre em astenia e o PS não cresça demasiado (mas fique acima do PSD). Essa é a combinação de factores que está na cabeça dos mentores (unidos depois das desavenças das diferentes tendências de 2014) do novo BE, o BE de poder. Que até já engole sapos e “planos de estabilidade” para chegar à meta desejada: novas eleições antes que a maioria dos eleitores se aperceba do fundamental e eleições que tragam a legitimidade formal que 2015 não trouxe.
Por agora, a campanha eleitoral em curso do governo e dos seus apoiantes (feita também de novos experimentalismos nos mais diversos sectores) está ao serviço dessa redefinição da esquerda. A argamassa do poder impede que se corte o cordão umbilical da maioria parlamentar mas todas as peças dessa maioria sabem que nada será como antes. Se as finanças derrapam e se voltou a abusar do crédito para a “tesouraria”, se há programas escondidos de restrição, se o crescimento económico pretendido é uma miragem, se os impostos sobem, se os postos de trabalho se evaporam na comparação, se o investimento mirrou, nada disso interessa ao discurso dominante, em especial para os bloquistas da ambição. Enquanto Costa anda de bicicleta nos Açores com a pestana encoberta e Jerónimo se engasga nos microfones, o BE faz a teia. Está em busca de um novo resgate para o país. O seu.
Professor de Direito da Universidadede Coimbra.
Jurisconsultor
Escreve à quinta-feira
05/05/2016
Ricardo Costa
opiniao@newsplex.pt
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