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O verdadeiro reaccionário
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O verdadeiro reaccionário
Nelson Rodrigues foi sempre profunda e radicalmente anticomunista. E isto no tempo em que a URSS era o farol da civilização, Fidel e Guevara o "ai jesus" do progressismo mundial e o marxismo o perfume de toda a intelectualidade ocidental.
Nelson Rodrigues (1912-1980) é hoje considerado um dos grandes da literatura brasileira. Pela sua dramaturgia e pelas suas crónicas jornalísticas ganhou pedestal. Mas nem sempre foi assim. Não pelos méritos ou deméritos da sua escrita, mas pelas suas convicções políticas. Sempre foi profunda e radicalmente anticomunista. E isto no tempo em que a URSS era o farol da civilização, Fidel e Guevara o "ai jesus" do progressismo mundial e o marxismo o perfume de toda a intelectualidade ocidental.
Nesses tempos, Nelson defendeu Getúlio Vargas e entendia que as forças armadas haveriam de salvar o Brasil. Foi um dos poucos intelectuais que apoiou a ditadura militar brasileira (1964-1985). Mas, ao mesmo tempo, foi um dos escritores com mais obras proibidas e censuradas. Para não falar da trágica circunstância de ter visto um dos seus filhos, militante comunista e adepto da luta armada, preso e torturado pela ditadura militar nos anos 70. Apesar disso, a intelectualidade de esquerda sempre o considerou indigno de participar do olimpo da cultura, como se, para aceder a esse mesmo olimpo, necessitasse das credenciais que só o marxismo confere.
Daí que, provocatório e implacável, Nelson Rodrigues não perdesse a oportunidade de flagelar essa mesma esquerda. Em 1958, numa das inúmeras ocorrências de saúde que o deixaram às portas da morte, foi questionado por um jornalista sobre quais seriam as suas últimas palavras antes de morrer. Não se sabe se Nelson achou a pergunta uma piada de necrotério e quis provocar a redacção do jornal: "Você promete que publica?". E como o jornalista disse que sim, retorquiu – "Então anota: 'Que besta graduada era o Carlos Marx!'".
Mais tarde escreveu as suas memórias, que vieram a ser publicadas num diário do Rio. Compiladas em livro deu-lhes o título de "O Reaccionário". E explicou o seu anticomunismo: "Sou democrata. Mas o sujeito não pode dizer ‘sou democrata’ sem o ridículo inevitável, porque falar em democracia hoje em qualquer parte do mundo fica engraçado. Você pega o comunista, ele se diz democrata tranquilamente, desafiando o tecto que devia cair em cima dele".
Numa entrevista com Otto Lara Resende, em 1977, este pergunta acerca do seu reaccionarismo: "reaccionário é o que se salva". E precisa: "reaccionária é a URSS! Eu sou um libertário". No fim da vida, Nelson Rodrigues deixou finalmente de ser o "maldito". E como escreve Ruy Castro, na excepcional biografia que sobre ele publicou – O Anjo Pornográfico, Companhia das Letras, 1993 –, só estava ameaçado de se transformar naquilo que toda a vida havia combatido: "ser uma unanimidade".
00:05 h
Ricardo Leite Pinto, Professor da Universidade Lusíada
Económico
Nelson Rodrigues (1912-1980) é hoje considerado um dos grandes da literatura brasileira. Pela sua dramaturgia e pelas suas crónicas jornalísticas ganhou pedestal. Mas nem sempre foi assim. Não pelos méritos ou deméritos da sua escrita, mas pelas suas convicções políticas. Sempre foi profunda e radicalmente anticomunista. E isto no tempo em que a URSS era o farol da civilização, Fidel e Guevara o "ai jesus" do progressismo mundial e o marxismo o perfume de toda a intelectualidade ocidental.
Nesses tempos, Nelson defendeu Getúlio Vargas e entendia que as forças armadas haveriam de salvar o Brasil. Foi um dos poucos intelectuais que apoiou a ditadura militar brasileira (1964-1985). Mas, ao mesmo tempo, foi um dos escritores com mais obras proibidas e censuradas. Para não falar da trágica circunstância de ter visto um dos seus filhos, militante comunista e adepto da luta armada, preso e torturado pela ditadura militar nos anos 70. Apesar disso, a intelectualidade de esquerda sempre o considerou indigno de participar do olimpo da cultura, como se, para aceder a esse mesmo olimpo, necessitasse das credenciais que só o marxismo confere.
Daí que, provocatório e implacável, Nelson Rodrigues não perdesse a oportunidade de flagelar essa mesma esquerda. Em 1958, numa das inúmeras ocorrências de saúde que o deixaram às portas da morte, foi questionado por um jornalista sobre quais seriam as suas últimas palavras antes de morrer. Não se sabe se Nelson achou a pergunta uma piada de necrotério e quis provocar a redacção do jornal: "Você promete que publica?". E como o jornalista disse que sim, retorquiu – "Então anota: 'Que besta graduada era o Carlos Marx!'".
Mais tarde escreveu as suas memórias, que vieram a ser publicadas num diário do Rio. Compiladas em livro deu-lhes o título de "O Reaccionário". E explicou o seu anticomunismo: "Sou democrata. Mas o sujeito não pode dizer ‘sou democrata’ sem o ridículo inevitável, porque falar em democracia hoje em qualquer parte do mundo fica engraçado. Você pega o comunista, ele se diz democrata tranquilamente, desafiando o tecto que devia cair em cima dele".
Numa entrevista com Otto Lara Resende, em 1977, este pergunta acerca do seu reaccionarismo: "reaccionário é o que se salva". E precisa: "reaccionária é a URSS! Eu sou um libertário". No fim da vida, Nelson Rodrigues deixou finalmente de ser o "maldito". E como escreve Ruy Castro, na excepcional biografia que sobre ele publicou – O Anjo Pornográfico, Companhia das Letras, 1993 –, só estava ameaçado de se transformar naquilo que toda a vida havia combatido: "ser uma unanimidade".
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Ricardo Leite Pinto, Professor da Universidade Lusíada
Económico
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