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Mensagem por Admin Qui Set 15, 2016 1:16 pm

A alternativa da “direita” tem de ser algo diverso de um ideário de espera pelo desastre

O mês de setembro está em curso e o Diabo esperado não está a aparecer. Claro que ele anda por aí. A economia não cresce (ou “abranda”, como agora se diz), o investimento privado não surge, o investimento público está proibido e os fundos europeus a conta-gotas, o petróleo já não ajuda, os países importadores estão no vermelho, a contabilidade com o exterior ressente-se, os empresários estão receosos, o aumento dos rendimentos não chega para tudo nem para a vontade de gastar. De todo o modo, as metas do défice orçamental vão ser cumpridas e o desemprego (mesmo que escondido na sazonalidade e na precariedade) desce como quantitativo - e o Diabo não gosta de irromper nestas condições. Vai esperar sentado, mesmo em cima da bomba--relógio. Enquanto aguarda, parece que só há uma de duas: o falhanço completo do caminho do governo - que seria plasmado num qualquer plano de assistência externa, seja em que modalidade fosse - ou a resistência no trajeto enquanto se invocam objetivos atingidos em parte. Resistência acoplada pela acomodação social e pela omissão dos conflituantes de serviço. Até ao dia em que a Europa nos diga que as regras que impõe (ou suaviza) não estão na linha. Ou o BCE se converta ou as notações de risco se alterem. Será que apenas temos essa dicotomia, assente em navegação à vista? Caminhamos para onde? Apenas e só para um caminho estreito onde nova austeridade será recuperada? Ou podemos olhar para a frente e ver uma luz com esperança?

No meio das questões que assaltam a espuma dos dias está a ideologia. Há que trazê-la novamente para o discurso político, ainda que com fórmulas, propostas e medidas que as pessoas compreendam e em que se revejam, mesmo que seja preciso retificar os velhos manuais. Há que olhar para os protagonistas a quem poderemos confiar o poder e a gestão das nossas vidas e das nossas expectativas e ver um pouco mais do que apenas e só cenários de catástrofe, esquemas eleitorais e sound bites para as ocasiões. Um pensamento não pode ser feito à base das deformações dos adversários, do desastre dos oponentes e de estados de alma (ainda que bondosos e idóneos) de circunstância. 

Mesmo que espartilhados e condicionados pela “dívida” e pela “estagnação”, ainda estou convencido de que as lideranças são os motores de esperança coletiva. Mas lideranças sem o mínimo de ideologia - e aspiração a traduzi-la em ações políticas, económicas, sociais e culturais - estão condenadas a definhar. É a ideologia que acaba sempre por ser o expediente básico para a persuasão e para a dominação. E, sejamos claros, essa ideologia é que tem de ser a alternativa. Pela positiva. Pela diferença. Pela credibilidade. Pela plausibilidade. Pelo rejuvenescimento geracional. Pelo dinamismo. Pela clareza. 

Se Passos e Cristas querem mudar de assento, não podem estar à espera que o Diabo se levante. Ele é relutante em anunciar desgraças. Levantar-se-á apenas se o dilúvio surgir. A “direita” tem de esquecer o passado e reprogramar o ideário, explicando-o com outras folhas e outras personagens no seu próprio trilho. Seria, aliás, a melhor forma de honrar muitos dos fundadores e figuras carismáticas dos seus partidos. Como Barbosa de Melo, que tanto fez, como tantos outros, pela democracia. Desapareceu agora (também dos corredores e salas da faculdade onde tanto gostava de o rever) um político da velha escola, um jurista de eleição e, acima de tudo, um homem que merece homenagem. Um homem que sempre se honrou na luta por uma ideologia.

15/09/2016
Ricardo Costa 
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