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O futuro do seguro
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O futuro do seguro
O setor segurador, como um todo, enfrenta desafios que extravasam as nossas fronteiras, são comuns a todos os mercados de todas as zonas geográficas do planeta. Falo do ambiente generalizado de baixas taxas de juro ou dos desafios provenientes das alterações climáticas. No entanto, existem cinco fatores com especial incidência sobre o mercado português que definem o atual momento.
I. Desde logo, as taxas de juro porque um ambiente como o que vivemos obriga as seguradoras a avaliar muito melhor os riscos que aceitam, para não se equivocarem na precificação - o termo brasileiro para pricing, que decidi adotar, em Portugal, para melhor compreensão. Aquilo que muitos seguradores faziam, e alguns (poucos) ainda fazem, o chamado cash-flow underwriting, isto é, a aceitação de riscos a condições de preço tecnicamente insuficientes, apostando que os investimentos cubram os prováveis défices... acabou! E quem o pratica está a perder dinheiro. Basta ver os balanços das seguradoras portuguesas nos últimos quatro ou cinco anos. Existe, ainda, o desafio imposto pelo regime de Solvência II, que obriga as seguradoras a conhecerem melhor os riscos que aceitam sob pena de os acionistas serem "chamados à pedra" e obrigados a repor capital. E todos sabemos que não é o melhor momento para o fazer, sobretudo quando o acionista é um banco em problemas!
II. O crescimento económico débil ou nulo não é exclusivo português, mas tem sido uma característica portuguesa. O setor segurador, em particular nos ramos não vida, tem um comportamento perfeitamente alinhado com o crescimento do PIB - não cresce há mais de uma década. As variações no ramo vida têm dependido das vicissitudes que a banca atravessa, tendo crescido ou diminuído consoante a política comercial dos bancos, os incentivos fiscais à poupança, as dificuldades económicas e as taxas de juro, que conduzem a outro tipo de produtos para a poupança.
III. A fraude sempre existiu, mas hoje assume formas refinadas e cada vez mais complexas. Ainda me lembro do tempo em que alguns se alegravam quando um concorrente era afetado por uma. Quem ainda hoje pense assim não deveria estar no setor segurador e a razão é simples: está tudo mais interligado. E menos fraude é igual a mais competitividade, logo, a preços mais baixos.
IV. As novas fronteiras de risco: o risco, a sua correta avaliação e a mencionada precificação são o ABC dos seguros. Existem os novos riscos com origem nas alterações climáticas e ainda os que têm origem nos avanços tecnológicos. Como precificar um carro autodirigido, por exemplo?
Não são só os taxistas que sofrem e se assustam com o aparecimento de novos modelos de negócio, como são a Uber ou a Cabify.
V. A tecnologia e a concorrência. A mediação de seguros enfrenta novos desafios que têm origem nas novas formas de concorrência, e as seguradoras não ficam à margem do tema. As plataformas tecnológicas que permitem formar grupos de consumidores de seguros (pool de interesses, peer to peer, ou P2P), que se autosseguram. Um modelo com muitas parecenças aos tradicionais modelos mutualistas. Acaba de nascer em Nova Iorque a primeira seguradora P2P do mundo, a Lemonade. Quem quer seguros destes? Pois, há cada vez mais consumidores a dizer que esse é o caminho do futuro!
Consumidores cada dia mais exigentes, mais informados, mais hábeis no manuseamento de tecnologias, a exigir do setor ofertas customizadas, fatos feitos à medida de cada um, da sua situação particular - familiar, financeira, etc.
É esta a realidade com que nos deparamos hoje e depararemos cada vez mais no futuro.
CEO da Liberty
14 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
José de Sousa
Diário de Notícias
I. Desde logo, as taxas de juro porque um ambiente como o que vivemos obriga as seguradoras a avaliar muito melhor os riscos que aceitam, para não se equivocarem na precificação - o termo brasileiro para pricing, que decidi adotar, em Portugal, para melhor compreensão. Aquilo que muitos seguradores faziam, e alguns (poucos) ainda fazem, o chamado cash-flow underwriting, isto é, a aceitação de riscos a condições de preço tecnicamente insuficientes, apostando que os investimentos cubram os prováveis défices... acabou! E quem o pratica está a perder dinheiro. Basta ver os balanços das seguradoras portuguesas nos últimos quatro ou cinco anos. Existe, ainda, o desafio imposto pelo regime de Solvência II, que obriga as seguradoras a conhecerem melhor os riscos que aceitam sob pena de os acionistas serem "chamados à pedra" e obrigados a repor capital. E todos sabemos que não é o melhor momento para o fazer, sobretudo quando o acionista é um banco em problemas!
II. O crescimento económico débil ou nulo não é exclusivo português, mas tem sido uma característica portuguesa. O setor segurador, em particular nos ramos não vida, tem um comportamento perfeitamente alinhado com o crescimento do PIB - não cresce há mais de uma década. As variações no ramo vida têm dependido das vicissitudes que a banca atravessa, tendo crescido ou diminuído consoante a política comercial dos bancos, os incentivos fiscais à poupança, as dificuldades económicas e as taxas de juro, que conduzem a outro tipo de produtos para a poupança.
III. A fraude sempre existiu, mas hoje assume formas refinadas e cada vez mais complexas. Ainda me lembro do tempo em que alguns se alegravam quando um concorrente era afetado por uma. Quem ainda hoje pense assim não deveria estar no setor segurador e a razão é simples: está tudo mais interligado. E menos fraude é igual a mais competitividade, logo, a preços mais baixos.
IV. As novas fronteiras de risco: o risco, a sua correta avaliação e a mencionada precificação são o ABC dos seguros. Existem os novos riscos com origem nas alterações climáticas e ainda os que têm origem nos avanços tecnológicos. Como precificar um carro autodirigido, por exemplo?
Não são só os taxistas que sofrem e se assustam com o aparecimento de novos modelos de negócio, como são a Uber ou a Cabify.
V. A tecnologia e a concorrência. A mediação de seguros enfrenta novos desafios que têm origem nas novas formas de concorrência, e as seguradoras não ficam à margem do tema. As plataformas tecnológicas que permitem formar grupos de consumidores de seguros (pool de interesses, peer to peer, ou P2P), que se autosseguram. Um modelo com muitas parecenças aos tradicionais modelos mutualistas. Acaba de nascer em Nova Iorque a primeira seguradora P2P do mundo, a Lemonade. Quem quer seguros destes? Pois, há cada vez mais consumidores a dizer que esse é o caminho do futuro!
Consumidores cada dia mais exigentes, mais informados, mais hábeis no manuseamento de tecnologias, a exigir do setor ofertas customizadas, fatos feitos à medida de cada um, da sua situação particular - familiar, financeira, etc.
É esta a realidade com que nos deparamos hoje e depararemos cada vez mais no futuro.
CEO da Liberty
14 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
José de Sousa
Diário de Notícias
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