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Estará o nosso futuro económico atrás de nós?
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Estará o nosso futuro económico atrás de nós?
Os avanços tecnológicos vão criar ventos com proporções de um furacão para as economias mais avançadas do mundo.
Com a economia global ainda a recuperar da crise económica de 2008, a preocupação com o futuro - especialmente das economias avançadas - está a intensificar-se. O meu colega da Northwestern University, Robert J. Gordon, capta o sentimento de muitos economistas, argumentando no seu recente livro "The Rise and Fall of American Growth" que as grandes inovações que aumentaram a produtividade no último século e meio não podem ser igualadas. Se for verdade, as economias avançadas devem esperar um crescimento lento e estagnação nos próximos anos. Mas será o futuro assim tão sombrio?
Provavelmente não. De facto, reinou o pessimismo nas perspectivas dos economistas durante vários séculos. Em 1830, o historiador britânico Thomas Macaulay observou que "em todas as épocas têm ocorrido melhorias progressivas; e ninguém parece contar com qualquer melhoria na próxima geração. Porque é que as pessoas não esperam nada "além de deterioração?", perguntou ele.
Rapidamente, a perspectiva de Macaulay foi confirmada com o surgimento da era dos caminhos-de-ferro. Avanços transformadores no aço, produtos químicos, electricidade e engenharia vieram logo a seguir.
Quando se trata do nosso futuro tecnológico, eu esperaria um resultado semelhante. Na verdade, chegaria ao ponto de dizer: "Ainda não vimos nada". Os avanços tecnológicos vão criar ventos com proporções de um furacão para as economias mais avançadas do mundo.
O meu optimismo não se baseia numa fé generalizada no futuro, mas na forma como a ciência (ou "conhecimento proposicional") e a tecnologia ("conhecimento prescritivo") se apoiam mutuamente. Tal como avanços científicos podem facilitar a inovação tecnológica, os avanços tecnológicos permitem a descoberta científica, que impulsiona mais mudanças tecnológicas. Por outras palavras, há um circuito de retorno positivo entre o progresso científico e tecnológico.
A história da tecnologia está cheia de exemplos deste circuito de retorno. A revolução científica do século XVII foi possibilitada, em parte, por novas ferramentas tecnologicamente avançadas, como telescópios, barómetros e bombas de vácuo. Não se pode falar do surgimento da teoria dos germes na década de 1870 sem mencionar as anteriores melhorias no microscópio. As técnicas de cristalografia de raios-X utilizadas por Rosalind Franklin foram fundamentais para a descoberta da estrutura do ADN, bem como para descobertas que levaram a mais de 20 prémios Nobel.
Os instrumentos disponíveis para a ciência, hoje em dia, incluem versões modernas de ferramentas antigas que teriam sido inimagináveis vinte anos antes. Telescópios foram disparados para o espaço e conectados a computadores de alta capacidade de adaptação óptica, para revelar um universo bastante diferente do que os seres humanos alguma vez imaginaram. Em 2014, os criadores do microscópio Betzig-Hell receberam o Prémio Nobel por superarem um obstáculo que havia sido considerado insuperável, trazendo a microscopia óptica para a nanodimensão.
Se isso não é suficiente para anular o pessimismo tecnológico, consideremos os instrumentos revolucionários e ferramentas que surgiram nos últimos anos - dispositivos com que nem sonhávamos umas décadas antes. Comece com o computador. Os economistas têm feito grandes esforços para avaliar o impacto dos computadores na produção de bens e serviços, e para medir a sua contribuição para a produtividade. Mas nenhuma dessas análises pode explicar adequadamente os inúmeros benefícios e oportunidades que os computadores criaram para a investigação científica.
Não há laboratório no mundo que não confie neles. O termo in silico conquistou o seu lugar ao lado de in vivo e in vitro em trabalhos experimentais. E novos campos, como a "física computacional" e a "biologia computacional" surgiram ex nihilo. De acordo com a Lei de Moore, os avanços na computação científica continuarão a acelerar durante muitos anos, devido ao advento da computação quântica.
Outra ferramenta nova é o laser. Quando os primeiros lasers apareceram, eram quase uma invenção em busca de uma aplicação. Hoje em dia, são quase tão omnipresentes como os computadores, com usos diários aparentemente mundanos que vão da digitalização de documentos à oftalmologia.
O leque de áreas de investigação que agora dependem de lasers não é menos amplo, abrangendo toda as áreas da biologia, química, genética e astronomia. O LIBS (espectroscopia de ruptura induzida por laser) é essencial para a análise de proteínas da qual depende tanta investigação em bioquímica molecular. Recentemente, os lasers permitiram a confirmação da existência de ondas gravitacionais - um Santo Graal da física.
Outra inovação tecnológica que está a transformar a ciência é a ferramenta de edição de genoma CRISPR Cas9. O sequenciamento de genomas já é um processo rápido e relativamente barato. O seu custo caiu de 10 milhões de dólares por genoma, em 2007, para menos de 1.000 dólares hoje em dia.
O CRISPR Cas9 leva esta tecnologia para um novo nível, verdadeiramente revolucionário, na medida em que permite aos cientistas editar e manipular o genoma humano. Embora essa ideia seja motivo de reflexão para algumas pessoas, as potenciais aplicações benéficas da tecnologia - como permitir que culturas essenciais resistam às alterações climáticas e à salinização da água - não podem ser sobrestimadas.
Além disso, a digitalização reduziu substancialmente os custos de acesso aos investigadores. Todas as investigações dependem do acesso ao conhecimento existente; todos nós estamos sobre os ombros de gigantes (e até mesmo de figuras de tamanho médio) que vieram antes de nós. Recombinamos as suas descobertas, ideias e inovações de formas inovadoras - às vezes revolucionárias. Mas, até recentemente, aprender o que precisávamos de saber para inventar inovações científicas e tecnológicas exigia muito mais trabalho, com incontáveis horas passadas a vasculhar bibliotecas e volumes de enciclopédias.
Hoje em dia, os investigadores podem encontrar agulhas nanoscópicas em palheiros de informação do tamanho de Montana. Podem aceder a mega-bancos de dados, onde podem encontrar padrões e regularidades empíricas. O taxonomista do século XVIII Carl Linnaeus ficaria invejoso.
O nosso conhecimento científico está a avançar, levando a inúmeras aplicações novas. Não há dúvida de que a tecnologia irá avançar também, em dezenas de áreas esperadas e inesperadas. Trará crescimento económico, mas talvez não do tipo que iremos registar se continuarmos a depender dos nossos padrões ultrapassados para a contabilidade da riqueza nacional.
Joel Mokyr é professor de Economia e História na Northwestern University.
Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
Joel Mokyr
25 de Dezembro de 2016 às 20:00
Negócios
Com a economia global ainda a recuperar da crise económica de 2008, a preocupação com o futuro - especialmente das economias avançadas - está a intensificar-se. O meu colega da Northwestern University, Robert J. Gordon, capta o sentimento de muitos economistas, argumentando no seu recente livro "The Rise and Fall of American Growth" que as grandes inovações que aumentaram a produtividade no último século e meio não podem ser igualadas. Se for verdade, as economias avançadas devem esperar um crescimento lento e estagnação nos próximos anos. Mas será o futuro assim tão sombrio?
Provavelmente não. De facto, reinou o pessimismo nas perspectivas dos economistas durante vários séculos. Em 1830, o historiador britânico Thomas Macaulay observou que "em todas as épocas têm ocorrido melhorias progressivas; e ninguém parece contar com qualquer melhoria na próxima geração. Porque é que as pessoas não esperam nada "além de deterioração?", perguntou ele.
Rapidamente, a perspectiva de Macaulay foi confirmada com o surgimento da era dos caminhos-de-ferro. Avanços transformadores no aço, produtos químicos, electricidade e engenharia vieram logo a seguir.
Quando se trata do nosso futuro tecnológico, eu esperaria um resultado semelhante. Na verdade, chegaria ao ponto de dizer: "Ainda não vimos nada". Os avanços tecnológicos vão criar ventos com proporções de um furacão para as economias mais avançadas do mundo.
O meu optimismo não se baseia numa fé generalizada no futuro, mas na forma como a ciência (ou "conhecimento proposicional") e a tecnologia ("conhecimento prescritivo") se apoiam mutuamente. Tal como avanços científicos podem facilitar a inovação tecnológica, os avanços tecnológicos permitem a descoberta científica, que impulsiona mais mudanças tecnológicas. Por outras palavras, há um circuito de retorno positivo entre o progresso científico e tecnológico.
A história da tecnologia está cheia de exemplos deste circuito de retorno. A revolução científica do século XVII foi possibilitada, em parte, por novas ferramentas tecnologicamente avançadas, como telescópios, barómetros e bombas de vácuo. Não se pode falar do surgimento da teoria dos germes na década de 1870 sem mencionar as anteriores melhorias no microscópio. As técnicas de cristalografia de raios-X utilizadas por Rosalind Franklin foram fundamentais para a descoberta da estrutura do ADN, bem como para descobertas que levaram a mais de 20 prémios Nobel.
Os instrumentos disponíveis para a ciência, hoje em dia, incluem versões modernas de ferramentas antigas que teriam sido inimagináveis vinte anos antes. Telescópios foram disparados para o espaço e conectados a computadores de alta capacidade de adaptação óptica, para revelar um universo bastante diferente do que os seres humanos alguma vez imaginaram. Em 2014, os criadores do microscópio Betzig-Hell receberam o Prémio Nobel por superarem um obstáculo que havia sido considerado insuperável, trazendo a microscopia óptica para a nanodimensão.
Se isso não é suficiente para anular o pessimismo tecnológico, consideremos os instrumentos revolucionários e ferramentas que surgiram nos últimos anos - dispositivos com que nem sonhávamos umas décadas antes. Comece com o computador. Os economistas têm feito grandes esforços para avaliar o impacto dos computadores na produção de bens e serviços, e para medir a sua contribuição para a produtividade. Mas nenhuma dessas análises pode explicar adequadamente os inúmeros benefícios e oportunidades que os computadores criaram para a investigação científica.
Não há laboratório no mundo que não confie neles. O termo in silico conquistou o seu lugar ao lado de in vivo e in vitro em trabalhos experimentais. E novos campos, como a "física computacional" e a "biologia computacional" surgiram ex nihilo. De acordo com a Lei de Moore, os avanços na computação científica continuarão a acelerar durante muitos anos, devido ao advento da computação quântica.
Outra ferramenta nova é o laser. Quando os primeiros lasers apareceram, eram quase uma invenção em busca de uma aplicação. Hoje em dia, são quase tão omnipresentes como os computadores, com usos diários aparentemente mundanos que vão da digitalização de documentos à oftalmologia.
O leque de áreas de investigação que agora dependem de lasers não é menos amplo, abrangendo toda as áreas da biologia, química, genética e astronomia. O LIBS (espectroscopia de ruptura induzida por laser) é essencial para a análise de proteínas da qual depende tanta investigação em bioquímica molecular. Recentemente, os lasers permitiram a confirmação da existência de ondas gravitacionais - um Santo Graal da física.
Outra inovação tecnológica que está a transformar a ciência é a ferramenta de edição de genoma CRISPR Cas9. O sequenciamento de genomas já é um processo rápido e relativamente barato. O seu custo caiu de 10 milhões de dólares por genoma, em 2007, para menos de 1.000 dólares hoje em dia.
O CRISPR Cas9 leva esta tecnologia para um novo nível, verdadeiramente revolucionário, na medida em que permite aos cientistas editar e manipular o genoma humano. Embora essa ideia seja motivo de reflexão para algumas pessoas, as potenciais aplicações benéficas da tecnologia - como permitir que culturas essenciais resistam às alterações climáticas e à salinização da água - não podem ser sobrestimadas.
Além disso, a digitalização reduziu substancialmente os custos de acesso aos investigadores. Todas as investigações dependem do acesso ao conhecimento existente; todos nós estamos sobre os ombros de gigantes (e até mesmo de figuras de tamanho médio) que vieram antes de nós. Recombinamos as suas descobertas, ideias e inovações de formas inovadoras - às vezes revolucionárias. Mas, até recentemente, aprender o que precisávamos de saber para inventar inovações científicas e tecnológicas exigia muito mais trabalho, com incontáveis horas passadas a vasculhar bibliotecas e volumes de enciclopédias.
Hoje em dia, os investigadores podem encontrar agulhas nanoscópicas em palheiros de informação do tamanho de Montana. Podem aceder a mega-bancos de dados, onde podem encontrar padrões e regularidades empíricas. O taxonomista do século XVIII Carl Linnaeus ficaria invejoso.
O nosso conhecimento científico está a avançar, levando a inúmeras aplicações novas. Não há dúvida de que a tecnologia irá avançar também, em dezenas de áreas esperadas e inesperadas. Trará crescimento económico, mas talvez não do tipo que iremos registar se continuarmos a depender dos nossos padrões ultrapassados para a contabilidade da riqueza nacional.
Joel Mokyr é professor de Economia e História na Northwestern University.
Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
Joel Mokyr
25 de Dezembro de 2016 às 20:00
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