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Mensagem por Admin Sáb Jan 28, 2017 12:05 pm

Ainda era bebé quando foi retirado aos pais, por maus--tratos, mas andou nove anos a saltar entre instituições e casas de familiares, ao sabor das decisões dos tribunais, até poder ser adotado. O caso de Jorge teve um final feliz: houve quem o conhecesse e acolhesse, mesmo estando fora dos parâmetros que a maioria das famílias adotivas privilegia. Há muitas outras crianças, porém, que crescem e se tornam adultos sem conhecer o conforto de uma família, a possibilidade de serem adotadas atrasada por sucessivos recursos, arrependimentos, avanços e recuos. E, quanto mais tempo passa, menor a probabilidade de serem levadas para casa, de poderem voltar a ter estabilidade e retomar a infância como ela deve ser. E não é por falta de quem queira tomar conta delas: há em Portugal cerca de dois mil candidatos a adotar e 400 miúdos em situação de serem acolhidos. Mas muitos mais estão presos em processos burocráticos ou casos de justiça que demoram demasiado tempo a serem resolvidos. A decisão de retirar uma criança aos pais não pode ser tomada num repente. Há que avaliar cuidadosamente tudo quanto está em causa sem perder de vista a prioridade absoluta, que é garantir o bem-estar dela. Mas o cuidado não se mede em meses. É mesmo preciso levar anos a avaliar as soluções ditas naturais antes de se decidir que a adoção é o caminho certo? E serão realmente tios, avós ou primos, quando é preciso impor-lhe a decisão, as pessoas mais indicadas para assumir a responsabilidade? Está claro que laços de sangue não se transformam em laços afetivos e uma criança que não tem pais - seja porque os perdeu ou porque lhes foi retirada - precisa de ser muito mais acarinhada do que qualquer outra. Prolongar à força uma situação que está condenada à partida - implicando, para mais, o adiamento da possibilidade de ela ter uma estrutura familiar adequada - não faz sentido. Os miúdos têm de ser protegidos, sim, mas isso não se faz à custa de os segurar à margem por demasiado tempo. É nestes casos que a justiça tem de ser mais célere, garantindo o mais absoluto rigor na decisão. Para o bem de miúdos como o Jorge.

28 DE JANEIRO DE 2017
00:00
Joana Petiz
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