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Mapa ideológico do nacionalismo português contemporâneo
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Mapa ideológico do nacionalismo português contemporâneo
Na polémica com Jaime Nogueira Pinto, a comunicação social pôs toda a extrema-direita “no mesmo saco”. Na verdade, é possível caracterizar pelo menos quatro tendências do nacionalismo contemporâneo português
O affair Jaime Nogueira Pinto – Universidade Nova envolveu vários sujeitos nacionalistas: a Nova Portugalidade (NP), organizadora do evento de 7 de Março, os identitários que, no próprio dia, contestaram a Associação Académica na FCSH, o Partido Nacional Renovador (PNR), que convocou uma manifestação à porta da Universidade para 21 de Março.
Na polémica, a comunicação social e as redes sociais demonstraram alguma dificuldade compreensível em diferenciar grupos nas margens da arena político-cultural portuguesa e acabaram por encaixá-los numa extrema-direita ideológica e organizativamente homogénea.
Esta homogeneidade não existe e é possível caracterizar pelo menos quatro tendências do nacionalismo contemporâneo português, em particular no que diz respeito ao conceito de identidade nacional.
A primeira tendência é o nacionalismo de Portugal universal, inscrito na tradição imperial pré-Estado Novo. Na década de 80, essa tendência consubstanciou-se na Nova Monarquia e reaparece, hoje, na NP. Essa reconhece o regime deposto como derradeiro defensor do projeto pluricontinental, mas assume, também, as críticas ao colonialismo vindas de alguns intelectuais monárquicos dos anos 60. Vê Portugal como uma comunidade de destino, cimentada pela língua, cultura e história, perfeitamente compatível com a pluralidade geográfica, étnica e religiosa do espaço lusófono. Não procura a refundação do Império, mas a centralidade do espaço lusófono, facilitando, por exemplo, a obtenção da nacionalidade portuguesa aos que o compõem.
A segunda tendência é o nacionalismo cívico do PNR. Essa vive, hoje, uma fase de clarificação da identidade nacional defendida, após uma longa indefinição devida à origem do partido em 1999 onde convergiram sensibilidades diferentes: do integralismo católico salazarista ao racialismo skinhead. A predileção pelos temas migratórios e a hegemonia skinhead na militância de base caracterizaram, por longo tempo, o PNR como um partido etno-nacionalista. Com o afastamento dos neonazis em 2007, o partido enveredou por um nacionalismo cívico, que reivindica o cariz europeu e católico de Portugal contemporâneo e reconhece uma certa pluralidade étnica consequência da epopeia expansionista. Isso não impede, contudo, de contrapor o jus soli à expansão universalista da nacionalidade e contrastar novas migrações extraeuropeias, principalmente islâmicas.
A terceira tendência é a identitária. Em Portugal, surge no princípio do século XXI na esteira dos congéneres movimentos franceses e da teorização de Guillaume Faye. Essa não apresenta nenhum saudosismo para a expansão colonial que considera um parêntese definitivamente fechado. Reconhece como inevitáveis os vestígios do Império no corpo nacional, mas privilegia a identidade autóctone pré-imperial dentro da variedade etno-cultural europeia. Assim, preocupa-se principalmente com o impacto demográfico e cultural das migrações extraeuropeias na identidade do Continente. É particularmente difusa nas redes sociais, entre grupos autónomos e associações cívicas como a Portugueses Primeiro.
A quarta tendência é a biológico-racial. Postula uma identidade portuguesa branca, ocidental, depurada de qualquer vestígio extraeuropeu, étnico e religioso, rejeitando, nalguns casos, até o judeu-cristianismo. Considera o antigo Império um acidente histórico indesejável pelos perigos de diluição da minoria branca na esmagadora maioria extraeuropeia. Em Portugal, remonta a meados dos anos 80 com a influência do movimento skinhead anglo-saxónico na nova geração portuguesa órfã da extrema-direita desertificada entre o fim do Estado Novo e a consolidação democrática. Essa tendência está, hoje, em franco declínio pelas repetidas repressões judiciais sofridas desde a década de 90, mais por questões criminais que políticas.
Longe de ser compartimentos ideológicos estanques, estas tendências representam, contudo, mundivisões irredutíveis a um único patrão interpretativo.
Investigador de pós-doutoramento
Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL)
20/03/2017
Riccardo Marchi
Cronista
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
O affair Jaime Nogueira Pinto – Universidade Nova envolveu vários sujeitos nacionalistas: a Nova Portugalidade (NP), organizadora do evento de 7 de Março, os identitários que, no próprio dia, contestaram a Associação Académica na FCSH, o Partido Nacional Renovador (PNR), que convocou uma manifestação à porta da Universidade para 21 de Março.
Na polémica, a comunicação social e as redes sociais demonstraram alguma dificuldade compreensível em diferenciar grupos nas margens da arena político-cultural portuguesa e acabaram por encaixá-los numa extrema-direita ideológica e organizativamente homogénea.
Esta homogeneidade não existe e é possível caracterizar pelo menos quatro tendências do nacionalismo contemporâneo português, em particular no que diz respeito ao conceito de identidade nacional.
A primeira tendência é o nacionalismo de Portugal universal, inscrito na tradição imperial pré-Estado Novo. Na década de 80, essa tendência consubstanciou-se na Nova Monarquia e reaparece, hoje, na NP. Essa reconhece o regime deposto como derradeiro defensor do projeto pluricontinental, mas assume, também, as críticas ao colonialismo vindas de alguns intelectuais monárquicos dos anos 60. Vê Portugal como uma comunidade de destino, cimentada pela língua, cultura e história, perfeitamente compatível com a pluralidade geográfica, étnica e religiosa do espaço lusófono. Não procura a refundação do Império, mas a centralidade do espaço lusófono, facilitando, por exemplo, a obtenção da nacionalidade portuguesa aos que o compõem.
A segunda tendência é o nacionalismo cívico do PNR. Essa vive, hoje, uma fase de clarificação da identidade nacional defendida, após uma longa indefinição devida à origem do partido em 1999 onde convergiram sensibilidades diferentes: do integralismo católico salazarista ao racialismo skinhead. A predileção pelos temas migratórios e a hegemonia skinhead na militância de base caracterizaram, por longo tempo, o PNR como um partido etno-nacionalista. Com o afastamento dos neonazis em 2007, o partido enveredou por um nacionalismo cívico, que reivindica o cariz europeu e católico de Portugal contemporâneo e reconhece uma certa pluralidade étnica consequência da epopeia expansionista. Isso não impede, contudo, de contrapor o jus soli à expansão universalista da nacionalidade e contrastar novas migrações extraeuropeias, principalmente islâmicas.
A terceira tendência é a identitária. Em Portugal, surge no princípio do século XXI na esteira dos congéneres movimentos franceses e da teorização de Guillaume Faye. Essa não apresenta nenhum saudosismo para a expansão colonial que considera um parêntese definitivamente fechado. Reconhece como inevitáveis os vestígios do Império no corpo nacional, mas privilegia a identidade autóctone pré-imperial dentro da variedade etno-cultural europeia. Assim, preocupa-se principalmente com o impacto demográfico e cultural das migrações extraeuropeias na identidade do Continente. É particularmente difusa nas redes sociais, entre grupos autónomos e associações cívicas como a Portugueses Primeiro.
A quarta tendência é a biológico-racial. Postula uma identidade portuguesa branca, ocidental, depurada de qualquer vestígio extraeuropeu, étnico e religioso, rejeitando, nalguns casos, até o judeu-cristianismo. Considera o antigo Império um acidente histórico indesejável pelos perigos de diluição da minoria branca na esmagadora maioria extraeuropeia. Em Portugal, remonta a meados dos anos 80 com a influência do movimento skinhead anglo-saxónico na nova geração portuguesa órfã da extrema-direita desertificada entre o fim do Estado Novo e a consolidação democrática. Essa tendência está, hoje, em franco declínio pelas repetidas repressões judiciais sofridas desde a década de 90, mais por questões criminais que políticas.
Longe de ser compartimentos ideológicos estanques, estas tendências representam, contudo, mundivisões irredutíveis a um único patrão interpretativo.
Investigador de pós-doutoramento
Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL)
20/03/2017
Riccardo Marchi
Cronista
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
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