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Mensagem por Admin Ter Mar 21, 2017 12:04 pm

A área suscetível de desertificação tem vindo a alastrar no nosso país, correspondendo a 58% do território, particularmente no Algarve. Alterações climáticas, solos depauperados, baixo nível de matéria orgânica, escassez e fraca capacidade de retenção de água, implicam baixas produtividades, abandono e incêndios rurais. Este é o ciclo que, se não for contrariado, nos trará um deserto para dentro de portas.

A "luta contra a desertificação" passou a ser critério de elegibilidade em 20% das medidas do atual Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020) quando no ciclo anterior representava apenas 5%, o que é um indicador relevante de sensibilidade. Os instrumentos de política agrícola reagem, essencialmente nas medidas florestais e agroambientais. Mas este critério ainda está de todo ausente nos apoios à competitividade agrícola. O que deverá ser corrigido no futuro? A desertificação afeta sistemas agrários diversos, mesmo os mais intensivos. Por curiosidade, este é um dos riscos maiores da área de regadio do Alqueva, onde a pegada hídrica deverá correr em paralelo com a pegada de carbono para evitar a degradação dos solos.

O estímulo a sistemas agroflorestais multifuncionais, como o montado de sobro e azinho, com uma forte componente animal, e a requalificação de vastas manchas de pinhal no Sul do país, reincorporando no solo os sobrantes das desramações e desbastes, e a instalação de pastagens biodiversas, são boas práticas que poderão mitigar os riscos de desertificação. Recuperar o capital natural e produzido é o primeiro passo no sentido do combate que é preciso fazer.

Mas este não é simplesmente um problema ambiental e económico, agravando-se com o despovoamento dos territórios. Qualquer estratégia de luta contra a desertificação deverá ter em conta a necessidade de recuperação do capital social e humano de vastas zonas rurais do país. A economia colaborativa e as novas formas de trabalho abrem horizontes a estes territórios.

Na verdade, ter mais informação e conhecimento sobre estes fenómenos é crucial. Existem atualmente oportunidades extraordinárias em matéria de criação e gestão de dados, em fonte aberta. Qualquer território pode ser estudado de forma remota e multidisciplinar. É preciso apenas que a recolha de dados seja consequente e disponibilizada a todos. Daí ser muito importante desenvolver o Observatório da Desertificação, numa perspetiva de rede de laboratórios vivos de âmbito regional.

O triângulo Nordeste Algarvio, serra do Caldeirão e serra de Mértola é extremamente afectado pelos fenómenos da desertificação e do despovoamento. A concretização de um Mestrado em Gestão Sustentável dos Espaços Rurais, lecionada em Alcoutim pela Universidade do Algarve, a candidatura a um Grupo Operacional do PDR2020, para inovar na requalificação do pinhal instalado no Nordeste Algarvio, são elementos fundamentais para este trabalho. Além disso, a Comunidade Intermunicipal do Algarve está a avançar com o Plano Intermunicipal de Alterações Climáticas, em que esta é matéria nuclear. Está aqui criado o caldo de organização para se avançar com o Observatório da Desertificação.

Miguel Freitas Primeiro secretário da Comunidade Intermunicipal do Algarve - AMAL

21 DE MARÇO DE 2017
00:00
Miguel Freitas
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