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A geopolítica do desespero
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A geopolítica do desespero
A geopolítica do desespero representa para a Europa um perigo maior do que o Estado Islâmico.
Esqueçamos todas as teorias clássicas desde Ratzel, Mahan, Mackinder e Spykman. O momento é dum outro tipo de geopolítica. Mais difuso e disperso, mais difícil de equacionar e de entender, assente nas pessoas e sem objectivos de poder político ou expansionista. Vivemos na era da geopolítica do desespero e este é um momento sem qualquer precedente histórico.
Baseada no objectivo único de sobrevivência, assistimos a uma invasão massiva de gente que foge aos cenários de guerra. Não são imigrantes (ou migrantes como é mais simples chamá-los) pois que não escolhem partir dos seus países mas sim deslocados, empurrados por guerras que o Ocidente na generalidade e a Europa por completa omissão, alimentaram.
Sem uma política nem uma segurança comuns, constantemente adiadas e relegadas para segundo plano, a (des) União foi a reboque dos Estados Unidos na sua política externa de alianças desfeitas no Médio Oriente, sem se ter dado conta da sua posição geopolítica e geoestratégica particular que a colocaria, sobretudo os países do Sul, numa situação melindrosa face aos conflitos nos países Árabes.
Aceitou, sem qualquer relutância, a deposição dos antigos aliados Americanos, Hussein e Khadaffi, embora muitas e conceituadas vozes, tivessem alertado para o perigo de implosão que isso acarretaria. Falaram mais alto os interesses económicos das indústrias de armamento primeiro e de construção depois.
Na Síria ninguém sabe o que realmente se passa, quem é o mau da fita e que papel joga hoje nesse tabuleiro o presidente Bashar e o E.I.
Alheios a estes jogos de poder estão milhões de seres humanos que lutam por sobreviver e procuram uma saída dos palcos de guerra, que não entendem nem procuram entender. O seu objectivo é apenas um: salvar-se e salvar a sua família. Haverá algo mais legítimo?
Face a isto, tudo arriscam! Ficar significa morrer. Partir é um risco assumido pelo desespero de quem nada tem a perder.
A Itália e a Grécia vinham alertando para este drama desde o início da década! A União decidiu relativizar o risco, minimizar a importância deste drama humano, responder com as usuais medidas palacianas e inoperantes.
E ei-los aí em barcos insufláveis às portas da Europa, à mercê de traficantes sem escrúpulos e de políticas sem conteúdo.
A geopolítica do desespero representa para a Europa um perigo maior do que o Estado Islâmico.
Agora já não há tempo para políticas e estratégias eleitoralistas e de faz de conta!!!
Impõe-se que a União pense e aja “fora da caixa política” a que se acomodou e assuma esta realidade simples: não é possível a integração destas vagas que não cessam de chegar!
A insistência nesta política levará a conflitos sociais cada vez mais graves, abrindo portas à proliferação de movimentos xenófobos um pouco por toda a parte e resultará, em última instância, no estabelecimento de campos de refugiados instalados dentro da Europa com todas as consequências já conhecidas.
Situações excepcionais exigem coragem e soluções excepcionais.
A criação dum Estado Santuário Temporário, com estruturas sociais próprias,- educação, saúde …- onde estas populações possam criar uma estabilidade que lhes confira dignidade e capacidade e autonomia económicas, com moeda própria, sob a protecção duma força de segurança europeia, pode ser uma (talvez a única) hipótese.
Tal situação foi em tempos posta em prática em África, com resultados, se não óptimos, pelo menos dignos de poderem ser replicados.
Paralelamente há que envidar esforços claros e firmes numa política externa concertada junto dos países em guerra.
Mas enquanto se continuar a olhar este drama com o choque de quem observa de longe e se mantiver o clássico politicamente correcto, baseado em organizações e agências de pomposos nomes e missões definidas no papel, estaremos apenas a ser cúmplices deste genocídio.
Presidente do Sindicato dos Funcionários do SEF e professora universitária
MANUELA NIZA RIBEIRO
04/09/2015 - 05:05
Público
Esqueçamos todas as teorias clássicas desde Ratzel, Mahan, Mackinder e Spykman. O momento é dum outro tipo de geopolítica. Mais difuso e disperso, mais difícil de equacionar e de entender, assente nas pessoas e sem objectivos de poder político ou expansionista. Vivemos na era da geopolítica do desespero e este é um momento sem qualquer precedente histórico.
Baseada no objectivo único de sobrevivência, assistimos a uma invasão massiva de gente que foge aos cenários de guerra. Não são imigrantes (ou migrantes como é mais simples chamá-los) pois que não escolhem partir dos seus países mas sim deslocados, empurrados por guerras que o Ocidente na generalidade e a Europa por completa omissão, alimentaram.
Sem uma política nem uma segurança comuns, constantemente adiadas e relegadas para segundo plano, a (des) União foi a reboque dos Estados Unidos na sua política externa de alianças desfeitas no Médio Oriente, sem se ter dado conta da sua posição geopolítica e geoestratégica particular que a colocaria, sobretudo os países do Sul, numa situação melindrosa face aos conflitos nos países Árabes.
Aceitou, sem qualquer relutância, a deposição dos antigos aliados Americanos, Hussein e Khadaffi, embora muitas e conceituadas vozes, tivessem alertado para o perigo de implosão que isso acarretaria. Falaram mais alto os interesses económicos das indústrias de armamento primeiro e de construção depois.
Na Síria ninguém sabe o que realmente se passa, quem é o mau da fita e que papel joga hoje nesse tabuleiro o presidente Bashar e o E.I.
Alheios a estes jogos de poder estão milhões de seres humanos que lutam por sobreviver e procuram uma saída dos palcos de guerra, que não entendem nem procuram entender. O seu objectivo é apenas um: salvar-se e salvar a sua família. Haverá algo mais legítimo?
Face a isto, tudo arriscam! Ficar significa morrer. Partir é um risco assumido pelo desespero de quem nada tem a perder.
A Itália e a Grécia vinham alertando para este drama desde o início da década! A União decidiu relativizar o risco, minimizar a importância deste drama humano, responder com as usuais medidas palacianas e inoperantes.
E ei-los aí em barcos insufláveis às portas da Europa, à mercê de traficantes sem escrúpulos e de políticas sem conteúdo.
A geopolítica do desespero representa para a Europa um perigo maior do que o Estado Islâmico.
Agora já não há tempo para políticas e estratégias eleitoralistas e de faz de conta!!!
Impõe-se que a União pense e aja “fora da caixa política” a que se acomodou e assuma esta realidade simples: não é possível a integração destas vagas que não cessam de chegar!
A insistência nesta política levará a conflitos sociais cada vez mais graves, abrindo portas à proliferação de movimentos xenófobos um pouco por toda a parte e resultará, em última instância, no estabelecimento de campos de refugiados instalados dentro da Europa com todas as consequências já conhecidas.
Situações excepcionais exigem coragem e soluções excepcionais.
A criação dum Estado Santuário Temporário, com estruturas sociais próprias,- educação, saúde …- onde estas populações possam criar uma estabilidade que lhes confira dignidade e capacidade e autonomia económicas, com moeda própria, sob a protecção duma força de segurança europeia, pode ser uma (talvez a única) hipótese.
Tal situação foi em tempos posta em prática em África, com resultados, se não óptimos, pelo menos dignos de poderem ser replicados.
Paralelamente há que envidar esforços claros e firmes numa política externa concertada junto dos países em guerra.
Mas enquanto se continuar a olhar este drama com o choque de quem observa de longe e se mantiver o clássico politicamente correcto, baseado em organizações e agências de pomposos nomes e missões definidas no papel, estaremos apenas a ser cúmplices deste genocídio.
Presidente do Sindicato dos Funcionários do SEF e professora universitária
MANUELA NIZA RIBEIRO
04/09/2015 - 05:05
Público
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