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Em defesa de Pedro Arroja poder ofender
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Em defesa de Pedro Arroja poder ofender
Há cinco meses, Pedro Arroja, economista e especialista em dizer coisas, estando a falar num canal televisivo, disse umas coisas da boca para fora, uma grosseria. Na verdade, antes de bolçá-la, Arroja começou por dizer para microfone e câmara: "Aqui entre nós que ninguém nos ouve..."
Desde logo, um provável ofendido: o Porto Canal. Sendo uma estação regional, com maior suscetibilidade para se sentir ofendida. Há no "aqui entre nós que ninguém nos ouve" uma sugestão de fracas audiências e, até, uma denúncia de haver no estúdio material deficiente (no caso, o microfone). Mas, ao que parece, o Porto Canal não ligou nenhuma ao seu convidado.
E, no entanto - é essa a notícia - o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) abriu um inquérito ao que foi dito naquela noite. No fim do inquérito, Pedro Arroja poderá ser levado a tribunal. Entretanto, cinco deputadas e uma eurodeputada do Bloco de Esquerda, arroladas como testemunhas, foram autorizadas pelo Parlamento a depor. Não foram as deputadas que apresentaram queixa, mas a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. As deputadas, porém, aprovam o processo, já que pode servir de exemplo, como disse uma das deputadas, Mariana Mortágua, aos jornais.
E é sobre isso que também eu quero dizer umas coisas. Como, aliás, eu disse outras, quando a, agora célebre, noite em que ninguém ouvia se tornou célebre. Publiquei, então, uma crónica em que desanquei em Arroja, com palavras (como se deve quando se responde a palavras). Tendo ele dito, quando falava de dirigentes bloquistas: "As meninas do Bloco de Esquerda, as esganiçadas...", mostrei que ele errou.
Recorrendo às três bloquistas que conheço, de ouvido (que é a forma de captar o ganido), afirmei que nenhuma esganiça. A Catarina Martins, por sinal, a voz mais clara e harmónica da política portuguesa, ouve-se cada palavra que diz. Marisa Matias tem até voz de baixa frequência, nos antípodas do esganiçar, com aquela disfonia a que chamamos rouquidão, perigosamente (mas é lá com ela) perto do falar das tias de Cascais. E, sobre Mariana Mortágua, adverti que só a ouvira em televisão, o que é mau para quem a quer ouvir, pois ela é daquelas pessoas que roubam as câmaras e prendem-nos o olhar. Mas, fazendo esforço, já a ouvi, e tem um falar baixo, ciciado.
Esganiçadas as do BE? Pedro Arroja tinha o direito de as achar esganiçadas e dizê-lo. Embora, concluí, ele devesse ser prudente para não se enganar tanto em público. Mais grave foi a frase que ele disse logo a seguir à já referida introdução "aqui entre nós que ninguém nos ouve..." Arroja pigarreou, pôs o seu ar ainda mais de dizer coisas. E disse: "Eu não queria nenhuma daquelas mulheres, já tenho pensado, eu não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada. Nem dada!"
Foi isso que me levou a escrever que as frases eram de carroceiro, o ar com que as disse, de azeiteiro, e o conjunto daquilo tudo uma ordinarice. Porque respeitei e respeito como iguais as mulheres da minha vida, aquele "eu não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada" faria Pedro Arroja ouvir de mim, estivesse eu naquele estúdio e com a cabeça fria, as mesmas palavras que depois escrevi. E sem antes pigarrear, ajeitar os botões de punho e mostrar as unhas pintadas.
Dito isto, ele talvez vá agora a tribunal por ter dito o que disse. E é esta recente evolução que me faz voltar ao assunto. E, desta vez, em defesa inequívoca de Pedro Arroja. As palavras, mesmo as erradas, precisam duma liberdade que não podemos dar aos factos errados. As palavras são ambíguas e voláteis (vejam como eu, em linhas lá em cima, dei o Porto Canal como ofendido)... E é por essa condição que a democracia, desde os atenienses ao Bill of Rights inglês e à Declaração dos Direitos do Homem, deu especial atenção ao direito de falar. Este é a mãe da liberdade.
A liberdade de falar, claro, não é total. Há abusos sobre mais fracos, cuja prática, em factos, pode ser incentivada pela palavra. Mas essas são exceções, a serem consideradas sempre na defesa da liberdade de expressão. Pedro Arroja tem, tem mesmo, direito de ofender as deputadas. E estas têm o direito de se sentir ofendidas. E mesmo que elas considerem que as palavras dele precisam de ser castigadas para servir de exemplo, não devem recorrer aos tribunais para o calar.
Se Pedro Arroja tem a má importância que precisa de servir de exemplo, Mariana Mortágua devia propor-lhe um debate depois das tolices dele. A derrota do engomadinho por uma mulher seria a melhor das lições.
26 DE MARÇO DE 2016
00:15
Ferreira Fernandes
Diário de Notícias
Desde logo, um provável ofendido: o Porto Canal. Sendo uma estação regional, com maior suscetibilidade para se sentir ofendida. Há no "aqui entre nós que ninguém nos ouve" uma sugestão de fracas audiências e, até, uma denúncia de haver no estúdio material deficiente (no caso, o microfone). Mas, ao que parece, o Porto Canal não ligou nenhuma ao seu convidado.
E, no entanto - é essa a notícia - o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) abriu um inquérito ao que foi dito naquela noite. No fim do inquérito, Pedro Arroja poderá ser levado a tribunal. Entretanto, cinco deputadas e uma eurodeputada do Bloco de Esquerda, arroladas como testemunhas, foram autorizadas pelo Parlamento a depor. Não foram as deputadas que apresentaram queixa, mas a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. As deputadas, porém, aprovam o processo, já que pode servir de exemplo, como disse uma das deputadas, Mariana Mortágua, aos jornais.
E é sobre isso que também eu quero dizer umas coisas. Como, aliás, eu disse outras, quando a, agora célebre, noite em que ninguém ouvia se tornou célebre. Publiquei, então, uma crónica em que desanquei em Arroja, com palavras (como se deve quando se responde a palavras). Tendo ele dito, quando falava de dirigentes bloquistas: "As meninas do Bloco de Esquerda, as esganiçadas...", mostrei que ele errou.
Recorrendo às três bloquistas que conheço, de ouvido (que é a forma de captar o ganido), afirmei que nenhuma esganiça. A Catarina Martins, por sinal, a voz mais clara e harmónica da política portuguesa, ouve-se cada palavra que diz. Marisa Matias tem até voz de baixa frequência, nos antípodas do esganiçar, com aquela disfonia a que chamamos rouquidão, perigosamente (mas é lá com ela) perto do falar das tias de Cascais. E, sobre Mariana Mortágua, adverti que só a ouvira em televisão, o que é mau para quem a quer ouvir, pois ela é daquelas pessoas que roubam as câmaras e prendem-nos o olhar. Mas, fazendo esforço, já a ouvi, e tem um falar baixo, ciciado.
Esganiçadas as do BE? Pedro Arroja tinha o direito de as achar esganiçadas e dizê-lo. Embora, concluí, ele devesse ser prudente para não se enganar tanto em público. Mais grave foi a frase que ele disse logo a seguir à já referida introdução "aqui entre nós que ninguém nos ouve..." Arroja pigarreou, pôs o seu ar ainda mais de dizer coisas. E disse: "Eu não queria nenhuma daquelas mulheres, já tenho pensado, eu não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada. Nem dada!"
Foi isso que me levou a escrever que as frases eram de carroceiro, o ar com que as disse, de azeiteiro, e o conjunto daquilo tudo uma ordinarice. Porque respeitei e respeito como iguais as mulheres da minha vida, aquele "eu não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada" faria Pedro Arroja ouvir de mim, estivesse eu naquele estúdio e com a cabeça fria, as mesmas palavras que depois escrevi. E sem antes pigarrear, ajeitar os botões de punho e mostrar as unhas pintadas.
Dito isto, ele talvez vá agora a tribunal por ter dito o que disse. E é esta recente evolução que me faz voltar ao assunto. E, desta vez, em defesa inequívoca de Pedro Arroja. As palavras, mesmo as erradas, precisam duma liberdade que não podemos dar aos factos errados. As palavras são ambíguas e voláteis (vejam como eu, em linhas lá em cima, dei o Porto Canal como ofendido)... E é por essa condição que a democracia, desde os atenienses ao Bill of Rights inglês e à Declaração dos Direitos do Homem, deu especial atenção ao direito de falar. Este é a mãe da liberdade.
A liberdade de falar, claro, não é total. Há abusos sobre mais fracos, cuja prática, em factos, pode ser incentivada pela palavra. Mas essas são exceções, a serem consideradas sempre na defesa da liberdade de expressão. Pedro Arroja tem, tem mesmo, direito de ofender as deputadas. E estas têm o direito de se sentir ofendidas. E mesmo que elas considerem que as palavras dele precisam de ser castigadas para servir de exemplo, não devem recorrer aos tribunais para o calar.
Se Pedro Arroja tem a má importância que precisa de servir de exemplo, Mariana Mortágua devia propor-lhe um debate depois das tolices dele. A derrota do engomadinho por uma mulher seria a melhor das lições.
26 DE MARÇO DE 2016
00:15
Ferreira Fernandes
Diário de Notícias
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