Revisão da matéria dada!

Comecei a trabalhar na Região oficialmente em 78 e por essa altura, 4 anos após o 25 Abril, haviam na Madeira, muitas iniciativas na área da Saúde, com a implementação do Serviço Médico à Periferia, nos Centros, com grande apoio á população - até aí, faziam-se consultas com os médicos residentes nas freguesias, onde os havia - ... os chamados “João Semana” ... e tive a sorte do meu pai ser um deles. Que muito faziam á excepção de milagres! 

 Nessa altura, havia famílias organizadas, que residiam em família, em ambiente familiar, onde se podia encontrar o pai, a mãe, os filhos, os avós, o cão, o gato, o periquito, as galinhas,... ás vezes também o porco, ... o chamado, porco da Festa! Conseguiam-se tratar sem grandes problemas, muitas doenças agudas e crónicas, em casa, porque havia apoio ... da família. Agora não - as pessoas já não vivem em família - conheço montes de velhotes que vivem sós, ou com a companhia de outros velhotes, e que na prática, não conseguem ajudar-se uns aos outros. Ainda outros, não própriamente velhotes, vivem numa casa ... quando não estão no local de trabalho - casa essa, que está portanto, vazia o dia inteiro. Só está habitada quando os miúdos vêm da escola e os pais do trabalho! Certo? Se alguém adoece numa destas casas, não existe apoio algum e não podendo permanecer em casa nestas circunstâncias,  têm de ir para um hospital, ... ou para outra casa onde exista apoio, ou então, fica alguém de baixa para apoio na doença. Certo? Assim sendo, explica-se muito do excesso na frequência aos serviços de urgência! 

Também se explica alguns dos conflitos na saúde, nos internamentos, nas altas problemáticas,  ... pelos contratempos nas “novas” famílias - que não conseguem permanecer como tal! E assim se explica também muitos gastos na saúde! Em tudo, inclusivé no excesso de baixas! 

Quando leio comentários sobre a Saúde Regional - por pessoas que julgam conhecer a nossa ou outras - comentários sobre os descontos que fazem ou já fizeram ... considerando serem suficientes para pagar essa Saúde, penso que, alguém tem de explicar em números, quanto custa, na verdade, a nossa Saúde! Sabem que uma bica custa 60 ou 70 cêntimos ... com a excepção dos aeroportos! Mas não sabem quanto custa uma análise de sangue ou de urina - aquelas que se fazem por rotina ... e de borla, 3 ou 4 vezes por ano, sem necessidade! Alguém sabe quanto seria, se tivesse de as pagar? Perguntem num laboratório... e escrevam num papel ... para nunca esquecerem! E quanto custam as cirurgias, os internamentos, os tratamentos para os enfartes, etc, etc ?

Gasta-se dinheiro com o desporto, políticamente criticado, nos seus valores , ... parece que mais tarde, entra algum como imposto, mas, o problema, não está no que se gasta - apoiar o exercício físico organizado é investir no futuro e na Saúde. O problema é que, o desporto que recebe apoios, tem de estar organizado, ter os seguros em dia, realizar os exames médicos, avaliar devidamente os seus atletas, as suas capacidades, ... e não, fazer exames em “vão de escada” ... quando os fazem, ... e depois recorrer aos serviços públicos - mais uma vez, de borla - para salvar o mal que sempre acontece, ... que não estava previsto, porque ninguém preveniu! Porque nem sabia como prevenir! 

Gostava de conhecer os números da Saúde relativos á actividade desportiva, traumatológica, cardiológica e também da fisioterapia de reabilitação, para poder concluir com segurança, que não se faz a prevenção devida e  gasta-se muito dinheiro do Estado com ela - desnecessáriamente. Organizar, serve para poupar, que, em sectores dispendiosos como a Saúde, ainda é mais importante. Na Saúde desportiva e já agora, na Saúde do trabalho, nestas duas, o Estado pode e deve controlar as actuações, porque, aqui, existem exames  de avaliação obrigatórios. Que, sendo mal realizados tornam-se, ridículos, mal aceites e injustificados! Se tem de se fazer, faça-se bem feito - com “feed-backs” reais e verdadeiros . Todos ficam a ganhar, ... se os serviços de Saúde forem rigorosos, nos seus devidos parâmetros!

A Região debate-se com algumas dificuldades na Saúde, idênticas ao continente nacional e agravadas pela insularidade, acessos e dívidas herdadas ...! O resto são: maus hábitos, deixar para amanhã, remediar sem prevenir e ainda mais outros factores ou vícios ... tão nossos conhecidos.  Técnicos temos, instalações temos, qualidade e vontade também temos! Falta mais organização, que tem de ser programada, instalada e activada. E já agora e também, pagar, o justo e o merecido! Se tivermos um hospital novo, será sempre melhor, mas vamos continuar a ter infecções hospitalares, porque “os bichos” estarão lá, ... porque estão em toda a parte e ainda mais quando se juntam doentes e doenças. A estatística portuguesa mostra que: dois em cada três não lava as mãos quando vai á casa de banho! Aí estão os  maus hábitos e os problemas, que não são culpa de ninguém...senão dos tais 66%!

Comentem o que sabem e conhecem, porque tudo o que acontece deve ter uma razão, que por vezes se desconhece!

José Manuel Morna Ramos Médico
Diário de Notícias da Madeira 
Segunda, 23 de Maio de 2016