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Levar os Portugueses a sério
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Levar os Portugueses a sério
Todos os grandes movimentos de massas – religiosos, políticos, comerciais – são, afinal, o resultado da adesão emocional ao poder de uma única palavra que consubstancia uma ideia, uma promessa, um benefício emocional pessoal.
Este país antigo não se soube e, em boa parte, não se quis inovar. Não criou um consenso, uma nova identidade mobilizadora do coletivo português, não definiu uma estratégia, uma função, uma especialidade, no "concerto das nações" que orientasse o investimento e o desenvolvimento económico para a produção e exportação de bens transaccionáveis.
Projetar uma estratégia a médio prazo é o objetivo do documento “222 medidas para Levar Portugal a Sério” agora votado pelo Grupo Parlamentar do PSD. O documento defende a consolidação de crescimento económico sustentável, combate às desigualdades sociais e territoriais, e reforço das qualificações dos portugueses. É um documento positivo, destacando-se designadamente o fomento de uma estrutura produtiva baseada na adoção de novas tecnologias, empreendedorismo e atividades de crescimento rápido e dirigidas ao mercado global, fiscalidade e legislação amigas do investimento e da assunção de risco empresarial, ensino ajustado às necessidades concretas da economia.
Falta ao documento o elemento emocional, consubstanciado numa frase ou palavra. Todos os grandes movimentos de massas – religiosos, políticos, comerciais – são, afinal, o resultado da adesão emocional ao poder de uma única palavra que consubstancia uma ideia, uma promessa, um benefício emocional pessoal, seja ele na terra ou outra vida feliz algures. A importância da palavra (logos, do grego “palavra/verbo”) é recorrente no Velho e Novo Testamentos: “No princípio era a Palavra (logos), e a Palavra estava com Deus, e Deus era a Palavra” (João 1:1). “Diz a palavra e o meu servo será salvo” (Lucas 7:7). O slogan da IBM foi em tempos a palavra Think e o de Barack Obama foi Change (a visão), completada por “Yes, we can” (a missão).
Há muitas décadas, verifiquei através de estudos de opinião que “Portugal” é uma noção difusa e abstrata para muitos portugueses. Pouco terá mudado desde então. Um hino, uma bandeira, um lugar no mapa são símbolos de prestígio duvidoso e de utilidade prática nula. Para muitos milhões a realidade resume-se na palavra escassez – de muitas coisas necessárias a uma vida mais próspera e digna da família. Tem razão o documento em realçar a família como “o núcleo central da nossa sociedade”, mas essa ideia não surge transposta para o título.
Embora todo o documento esteja centrado nas pessoas, “Levar Portugal a sério” não parece ser uma expressão mobilizadora. Além disso, o documento situa Portugal e os portugueses em planos diferentes: “Portugal, as pessoas, as empresas, as instituições, todos sabem que podem contar connosco.” A meu ver, trata-se de um vício do discurso político: o acento tónico é colocado em “Portugal” e não nos “Portugueses”.
Os slogans de várias campanhas políticas revelam que, em geral, as campanhas ganhadoras colocaram a ênfase na palavra “portugueses” e não na palavra “Portugal”. Marcelo Rebelo de Sousa, e outros antes dele, embora sem usar a palavra “portugueses”, referiu-se-lhes implicitamente: “Juntos por Portugal”. É, na verdade, um slogan reminiscente do de Obama: eu nada conseguirei sem o vosso apoio. Se no título das medidas em vez de “Portugal” estivesse “Portugueses”, o alcance seria muito mais poderoso e profundo: iria direto à dignidade das pessoas.
As palavras chave continuam a ser Família e Educação. Portugal é, afinal, a comunidade de pessoas que compõem cada uma das famílias portuguesas. Pessoas que precisam de ser mais bem preparadas para enfrentar o desafio de um mundo difícil de compreender e em acelerada transformação.
António Guterres defendia como primeiro-ministro e agora defende para os refugiados, que os portugueses precisam de mais e melhor educação. Em particular, educação profissional. Em 1947, o historiador António José Saraiva escreveu num pequeno livro com o título “A Escola – Problema Central da Nação”: “a aprendizagem faz-se não verbalmente mas pelo treino e a experiência”. 70 anos depois ainda se discute se o modelo de ensino alemão é bom ou mau.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
Nuno Cintra Torres, Investigador e Professor Universitário
Económico
Este país antigo não se soube e, em boa parte, não se quis inovar. Não criou um consenso, uma nova identidade mobilizadora do coletivo português, não definiu uma estratégia, uma função, uma especialidade, no "concerto das nações" que orientasse o investimento e o desenvolvimento económico para a produção e exportação de bens transaccionáveis.
Projetar uma estratégia a médio prazo é o objetivo do documento “222 medidas para Levar Portugal a Sério” agora votado pelo Grupo Parlamentar do PSD. O documento defende a consolidação de crescimento económico sustentável, combate às desigualdades sociais e territoriais, e reforço das qualificações dos portugueses. É um documento positivo, destacando-se designadamente o fomento de uma estrutura produtiva baseada na adoção de novas tecnologias, empreendedorismo e atividades de crescimento rápido e dirigidas ao mercado global, fiscalidade e legislação amigas do investimento e da assunção de risco empresarial, ensino ajustado às necessidades concretas da economia.
Falta ao documento o elemento emocional, consubstanciado numa frase ou palavra. Todos os grandes movimentos de massas – religiosos, políticos, comerciais – são, afinal, o resultado da adesão emocional ao poder de uma única palavra que consubstancia uma ideia, uma promessa, um benefício emocional pessoal, seja ele na terra ou outra vida feliz algures. A importância da palavra (logos, do grego “palavra/verbo”) é recorrente no Velho e Novo Testamentos: “No princípio era a Palavra (logos), e a Palavra estava com Deus, e Deus era a Palavra” (João 1:1). “Diz a palavra e o meu servo será salvo” (Lucas 7:7). O slogan da IBM foi em tempos a palavra Think e o de Barack Obama foi Change (a visão), completada por “Yes, we can” (a missão).
Há muitas décadas, verifiquei através de estudos de opinião que “Portugal” é uma noção difusa e abstrata para muitos portugueses. Pouco terá mudado desde então. Um hino, uma bandeira, um lugar no mapa são símbolos de prestígio duvidoso e de utilidade prática nula. Para muitos milhões a realidade resume-se na palavra escassez – de muitas coisas necessárias a uma vida mais próspera e digna da família. Tem razão o documento em realçar a família como “o núcleo central da nossa sociedade”, mas essa ideia não surge transposta para o título.
Embora todo o documento esteja centrado nas pessoas, “Levar Portugal a sério” não parece ser uma expressão mobilizadora. Além disso, o documento situa Portugal e os portugueses em planos diferentes: “Portugal, as pessoas, as empresas, as instituições, todos sabem que podem contar connosco.” A meu ver, trata-se de um vício do discurso político: o acento tónico é colocado em “Portugal” e não nos “Portugueses”.
Os slogans de várias campanhas políticas revelam que, em geral, as campanhas ganhadoras colocaram a ênfase na palavra “portugueses” e não na palavra “Portugal”. Marcelo Rebelo de Sousa, e outros antes dele, embora sem usar a palavra “portugueses”, referiu-se-lhes implicitamente: “Juntos por Portugal”. É, na verdade, um slogan reminiscente do de Obama: eu nada conseguirei sem o vosso apoio. Se no título das medidas em vez de “Portugal” estivesse “Portugueses”, o alcance seria muito mais poderoso e profundo: iria direto à dignidade das pessoas.
As palavras chave continuam a ser Família e Educação. Portugal é, afinal, a comunidade de pessoas que compõem cada uma das famílias portuguesas. Pessoas que precisam de ser mais bem preparadas para enfrentar o desafio de um mundo difícil de compreender e em acelerada transformação.
António Guterres defendia como primeiro-ministro e agora defende para os refugiados, que os portugueses precisam de mais e melhor educação. Em particular, educação profissional. Em 1947, o historiador António José Saraiva escreveu num pequeno livro com o título “A Escola – Problema Central da Nação”: “a aprendizagem faz-se não verbalmente mas pelo treino e a experiência”. 70 anos depois ainda se discute se o modelo de ensino alemão é bom ou mau.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
Nuno Cintra Torres, Investigador e Professor Universitário
Económico
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