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O lado conspícuo da mão invisível
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O lado conspícuo da mão invisível
O que se infere da contratação de Durão Barroso é que o benefício do acesso privilegiado à informação é de tal forma lucrativo que, para a Goldman Sachs, é preferível a contratação de um “desbloqueador de acessos” do que de um especialista na matéria de facto.
Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, imortalizou a metáfora da “Mão Invisível”, base do liberalismo económico e do capitalismo. De forma simplista, a essência do conceito era o de que se cada agente económico procurasse maximizar o seu próprio interesse, existindo concorrência, então, a interação entre os diversos agentes acabaria por gerar uma determinada ordem, a dita “mão invisível”, que orientaria a economia e dispensaria a intervenção do Estado.
O problema da “mão invisível” surge quando determinadas “falhas” impedem o seu livre e correto funcionamento, como por exemplo, situações de monopólio, de bens públicos ou a existência de falhas (ou privilégios) de informação, que permitam uma situação de vantagem de um agente sobre os restantes.
É normal, e legítimo, as empresas “gladiarem-se” pelo recrutamento dos melhores profissionais nas respetivas áreas e funções. Dentro destas, tem ganho particular destaque a importância do fomento da rede de contactos, maximizando-se os benefícios do denominado networking. A classe política, por inerência das funções que desempenha e da influência que exerce, é um alvo particularmente apelativo, quando se trata do recrutamento de pessoas com capacidade “de” e “para” influenciar.
Pessoalmente, não tenho qualquer objeção ao recrutamento de políticos, seja para administradores, seja para consultores ou, simplesmente, para o desempenho de outra qualquer função dentro de uma organização. Também nada tenho contra o lobby, desde que legitimamente enquadrado, algo que Portugal tarda em regulamentar.
Qualquer político, principalmente os que passam pela liderança dos partidos, por cargos governativos ou outros de elevada exposição, querendo voltar à esfera privada, têm inevitavelmente ligações privilegiadas a inúmeras entidades e instituições – é de resto daqui que advém a sua força. Tal facto dificulta, sobremaneira, em termos de opinião pública, o seu regresso à atividade privada.
Tem-se falado, recorrentemente, na necessidade de estabelecimento de um alargado “período de nojo”. A verdade, porém, é que, tal como nas empresas, os políticos e governantes devem ocupar lugares de acordo com as suas valências curriculares e académicas. Assim sendo, inevitavelmente, terão relações com uma parte muito significativa das entidades passíveis de os contratar.
Deste modo, mais do que um “período de nojo”, o que verdadeiramente importa perceber é qual a racionalidade económica que está por detrás de uma determinada contratação e qual a proporcionalidade que existe entre o cargo e o curriculum vitae da pessoa a contratar. Tomando por base um exemplo recente, creio que é precisamente em relação a este aspeto, em particular, que é mais chocante a contratação de Durão Barroso – que, segundo consta, até cumpriu o designado período de nojo.
Que a Goldman Sachs queira contratar pessoas que lhe garantam determinados contactos e acessos e que lhes queira pagar um valor substancial por isso, parece-me aceitável (é um problema “deles”, como dirão muitos). Que esteja disposta a dar o lugar de Chairman a uma pessoa sem qualquer passado na área financeira, na administração executiva de qualquer banco ou até de uma qualquer empresa de dimensão relevante, convencendo-o, como o próprio afirma, que irá assegurar “os princípios da boa governação, responsabilidade e accountability”, desempenhando um “papel regulatório de controlar e confrontar o executivo com decisões internas”, já me parece bastante mais dúbio.
O que realmente se infere desta contratação é que o benefício do acesso privilegiado à informação é de tal forma lucrativo que, para a Goldman Sachs, é preferível a contratação de um “desbloqueador de acessos” do que de um especialista na matéria de facto, i.e., justifica-se, em função da rentabilidade, a subversão do modelo de negócio, que deixa de ser a gestão de ativos, passando a ser o da penetração em determinados circuitos, emergindo assim a mão, que “conspicuamente” deixa de ser invisível...
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
José Carmo, Economista
Económico
Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, imortalizou a metáfora da “Mão Invisível”, base do liberalismo económico e do capitalismo. De forma simplista, a essência do conceito era o de que se cada agente económico procurasse maximizar o seu próprio interesse, existindo concorrência, então, a interação entre os diversos agentes acabaria por gerar uma determinada ordem, a dita “mão invisível”, que orientaria a economia e dispensaria a intervenção do Estado.
O problema da “mão invisível” surge quando determinadas “falhas” impedem o seu livre e correto funcionamento, como por exemplo, situações de monopólio, de bens públicos ou a existência de falhas (ou privilégios) de informação, que permitam uma situação de vantagem de um agente sobre os restantes.
É normal, e legítimo, as empresas “gladiarem-se” pelo recrutamento dos melhores profissionais nas respetivas áreas e funções. Dentro destas, tem ganho particular destaque a importância do fomento da rede de contactos, maximizando-se os benefícios do denominado networking. A classe política, por inerência das funções que desempenha e da influência que exerce, é um alvo particularmente apelativo, quando se trata do recrutamento de pessoas com capacidade “de” e “para” influenciar.
Pessoalmente, não tenho qualquer objeção ao recrutamento de políticos, seja para administradores, seja para consultores ou, simplesmente, para o desempenho de outra qualquer função dentro de uma organização. Também nada tenho contra o lobby, desde que legitimamente enquadrado, algo que Portugal tarda em regulamentar.
Qualquer político, principalmente os que passam pela liderança dos partidos, por cargos governativos ou outros de elevada exposição, querendo voltar à esfera privada, têm inevitavelmente ligações privilegiadas a inúmeras entidades e instituições – é de resto daqui que advém a sua força. Tal facto dificulta, sobremaneira, em termos de opinião pública, o seu regresso à atividade privada.
Tem-se falado, recorrentemente, na necessidade de estabelecimento de um alargado “período de nojo”. A verdade, porém, é que, tal como nas empresas, os políticos e governantes devem ocupar lugares de acordo com as suas valências curriculares e académicas. Assim sendo, inevitavelmente, terão relações com uma parte muito significativa das entidades passíveis de os contratar.
Deste modo, mais do que um “período de nojo”, o que verdadeiramente importa perceber é qual a racionalidade económica que está por detrás de uma determinada contratação e qual a proporcionalidade que existe entre o cargo e o curriculum vitae da pessoa a contratar. Tomando por base um exemplo recente, creio que é precisamente em relação a este aspeto, em particular, que é mais chocante a contratação de Durão Barroso – que, segundo consta, até cumpriu o designado período de nojo.
Que a Goldman Sachs queira contratar pessoas que lhe garantam determinados contactos e acessos e que lhes queira pagar um valor substancial por isso, parece-me aceitável (é um problema “deles”, como dirão muitos). Que esteja disposta a dar o lugar de Chairman a uma pessoa sem qualquer passado na área financeira, na administração executiva de qualquer banco ou até de uma qualquer empresa de dimensão relevante, convencendo-o, como o próprio afirma, que irá assegurar “os princípios da boa governação, responsabilidade e accountability”, desempenhando um “papel regulatório de controlar e confrontar o executivo com decisões internas”, já me parece bastante mais dúbio.
O que realmente se infere desta contratação é que o benefício do acesso privilegiado à informação é de tal forma lucrativo que, para a Goldman Sachs, é preferível a contratação de um “desbloqueador de acessos” do que de um especialista na matéria de facto, i.e., justifica-se, em função da rentabilidade, a subversão do modelo de negócio, que deixa de ser a gestão de ativos, passando a ser o da penetração em determinados circuitos, emergindo assim a mão, que “conspicuamente” deixa de ser invisível...
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
José Carmo, Economista
Económico
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