Cristina Alves (Portline): «As novas regulações mudarão o shipping»

O Centro de Congressos do Estoril recebeu, nos últimos dois dias, a II Grande Conferência Blue Economy, organizada pelo Jornal da Economia do Mar e que analisou e debateu de forma produtiva os vários setores ligados ao mar português. E a Revista CARGO associou-se ao evento como ‘media partner’, valorizando assim o trabalho de um parceiro de comunicação que partilha um dos nossos grandes desígnios: a valorização do mar!

O segundo dia do evento foi aquele que trouxe os temas que mais interessam ao nosso leitor, ligados ao transporte marítimo e ao setor portuário. O dia começou então com o painel ‘Os desafios do Transporte Marítimo’, que contou com a presença, enquanto oradores, de Cristina Alves (diretora-geral da Portline), Alexander Panagopulos (presidente da Arista Shipping), Isabem Moura Ramos (diretora da ShortSea Portugal) e Robert Lorenz-Mayer (presidente da EISAP) – sendo moderado por Jorge d’Almeida.


Cristina Alves: «As novas regulações mudarão o shipping»

A diretora-geral da Portline foi a primeira a falar sobre a sua visão da realidade atual do shipping, de um ponto de vista do armador. E, sobre um setor que enfrenta dificuldades claras de excesso de oferta de capacidade face à procura existente, Cristina Alves foi clara: «Há muitos navios no mar».

A representante do armador português lembrou o período de muitas construções de novos navios – demasiadas e de grande dimensão – entre 2011 e 2015, acrescentando que, hoje, o setor enfrenta um grave problema operacional que reside no facto do mercado não pagar «sequer os custos operacionais do navio».

«E isto é uma bola de neve, o problema comercial traz um problema técnico», salienta ainda Cristina Alves, justificando a afirmação com o facto de os armadores, para reduzir custos, cortarem em três pontos importantes: na tripulação, na manutenção e na reparação. «E os problemas técnicos trazem depois também problemas operacionais», concluiu, terminando a analogia da bola de neve.

Outro problema identificado por Cristina Alves na realidade atual dos armadores prende-se com a desvalorização dos seus ativos. «Os armadores devem mais aos bancos e aos investidores do que o valor atual dos seus navios», lembrou a responsável da Portline, salientando que «mesmo que venda toda a frota, ainda fica a dever dinheiro».

Na sua interessantíssima intervenção, Cristina Alves falou ainda da questão das novas regulações que se têm introduzido no setor – e mais se introduzirão no futuro a breve prazo. E não teve dúvidas em afirmar que «serão as novas regulações que ditarão o futuro e que mudarão o shipping».

Grande parte das regulações que estão a ser introduzidas no setor pretendem uma menor poluição do meio ambiente, nomeadamente das águas e do ar. E Cristina Alves realçou o exemplo da nova regulação relativa ao ‘Ballast Water Treatment’, sobre o qual os armadores apenas sabem que será exigido «já para 2017» mas não sabem ainda os valores e níveis exigidos ao certo – o que Cristina Alves considerou, em tom irónico, como «muito engraçado».

Cristina Alves mostrou-se claramente a favor da regulação que vá ao encontro da «redução de emissões de CO2 ou de enxofre». Porém, lembrou que «para uma empresa de shipping é importante perceber que 2020 é já ao virar da esquina, são pouco mais de 3 anos». 

E as mudanças afiguram-se como verdadeiramente desafiantes para os armadores: «Meter um ‘scrubber’ num navio novo custa 1 milhão mas meter num navio já em operação custa mais do que isso… E nós temos 12 navios».

11/11/2016
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