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Uma mudança necessária
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Uma mudança necessária
Mascarados de um profissionalismo empreendedor, medraram então fenómenos de carreirismo agressivo e implacável
1. A corporativização da sociedade não aconteceu apenas ou sobretudo na área da justiça. Quando iniciei funções de magistrado era vulgar encontrar à mesa do café juízes, procuradores, advogados, arquitectos, engenheiros, professores de liceu, enfim, um conjunto variado de pessoas com formação e interesses diferentes que entre si discutiam os assuntos do país e da cidade: a vida. Com o decorrer dos tempos, o núcleo foi-se estreitando, juntando-se juristas de um lado e os outros profissionais de outro. Depois desertaram os advogados e as mesas das magistraturas também se fragmentaram.
A redução desse convívio traduziu-se naturalmente no empobrecimento da capacidade de analisar criticamente e com diferentes pontos de observação os fenómenos sociais que cada um tinha de abordar. A linguagem das diferentes agremiações afunilou-se e empobreceu, dificultando ainda mais a compreensão dos problemas e a possibilidade de formular enunciados coerentes para os resolver. É verdade que, quase simultaneamente, se começou a apregoar a vantagem tecnocrática da constituição de equipas pluridisciplinares para tratar problemas e procurar soluções coordenadas para eles. Contudo, as aproximações à realidade por parte dos sectores que as compunham eram já diversas e a dificuldade mútua na decifração das gramáticas de cada um era crescente.
2. Um dos factores do encerramento das pessoas em nichos profissionais estanques teve porventura a ver com o definhamento de ideias e acções generosas que antes muitos delineavam conjuntamente para assegurar um futuro melhor para todos.
Adormecida a militância social, procuraram alguns, através da profissionalização intensiva da vida, manter a febre do activismo anterior, superar a carência de perspectivas globais que os moveram e, de alguma maneira, iludir a pulverização do companheirismo que os suportara. Daí resultou um progressivo e geral enquistamento corporativo e egoísmos vários: uns de natureza colectiva, outros despudoradamente individualistas. Mascarados de um profissionalismo empreendedor, medraram então fenómenos de carreirismo agressivo e implacável e – a diferentes níveis sociais – tomadas de poder em serviços e instituições.
Discursos enigmáticos e interesseiros passaram a ocultar respostas ensimesmadas para a vida de cada um, mas que nada tinham a ver na verdade com as soluções dos problemas sociais que encenavam abordar. Os que se recusaram a colaborar nesse admirável mundo novo afastaram-se (ou foram afastados), o que permitiu que os trepadores sem escrúpulos singrassem e se estabelecessem.
Hoje pagamos todos o preço dessa deriva.
3. Na justiça, tal mudança de atitude social teve também consequências. Permitiu, por exemplo, firmar a percepção pública de um afinal inexistente partido de justiceiros, do qual, todavia, logo alguns, demagógica e interesseiramente, reivindicaram uma mistificadora liderança.
Engrossaram a voz, criaram cumplicidades e misturaram, não por acaso, identidades e papéis que nada têm a ver com o quotidiano, regular e sereno exercício da justiça. Disso muito beneficiaram os que realmente têm razões para temer o poder da lei.
4. Recuperar socialmente um paradigma de serviço despojado e em prol do bem comum exige pois uma ruptura e uma mudança.
Na justiça, como no resto da sociedade, há que começar desde logo pela disposição de arejar, sem medo, o universo algo mesquinho das corporações e de igrejinhas em que a quiseram encerrar.
Jurista
Escreve à terça-feira
Por António Cluny
publicado em 17 Mar 2015 - 09:24
Jornal i
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