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A lição de moral de Rui Rio
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A lição de moral de Rui Rio
Aquilo que os políticos definem como bom jornalismo costuma ser o jornalismo que lhes dá jeito. Antes o “mau jornalismo” de que Rui Rio se queixa.
Rui Rio queixou-se na semana passada que a comunicação social portuguesa divulga "demasiadas notícias sem verdade, rigor, isenção e independência".
O ex-autarca da Invicta defendeu ainda que, no nosso país, a "prioridade da comunicação social é tudo menos social". Rui Rio tem razão em exigir um jornalismo mais verdadeiro, rigoroso, isento e independente. No entanto, os políticos portugueses, da Esquerda à Direita, têm uma importante quota parte de responsabilidade nos problemas que Rui Rio identifica. Em primeiro lugar, os jornalistas, como quaisquer outros profissionais, erram amiúde. É verdade. Mas errariam muito menos se os políticos e os dirigentes de organismos públicos não colocassem tantos entraves ao seu trabalho, dificultando o escrutínio de assuntos que dizem respeito a todos os cidadãos. Por exemplo, se cumprissem as leis da República que os obrigam a permitir o livre acesso dos jornalistas aos documentos administrativos. Ou se levantassem o espesso véu que, com frequência, cobre os grandes negócios a cargo do Estado. Senão vejamos: para além de um círculo restrito, alguém conhece os valores exactos das ofertas de compra do Novo Banco?
E o que dizer das estratégias de comunicação governamentais que, não raramente e independementemente dos partidos que estão no poder, consistem sobretudo na manipulação da informação e no condicionamento do trabalho dos jornalistas?
Este condicionamento vai desde os obstáculos simples, como não responder às questões de alguma imprensa, a outros mais maldosos: por exemplo, negar o acesso à informação que deveria ser tornada pública e depois passá-la a conta gotas, devidamente filtrada e "trabalhada", a jornalistas "amigos". Essas estratégias de comunicação, que poderão ser aceitáveis em instituições privadas mas jamais em entidades públicas, são há longos anos uma prática comum em Portugal. Se Rui Rio quer dar lições de moral sobre o estado do jornalismo, talvez fosse boa ideia pregar primeiro aos membros da sua própria casta.
Por outro lado, aquilo que a maioria dos políticos define como "bom jornalismo" costuma ser, invariavelmente, o jornalismo que lhes dá jeito. É o jornalismo que depende de "fontes oficiais" e faz de conta que tudo o resto não existe. É o jornalismo que pede licença para investigar e fazer o seu trabalho. É o jornalismo dito "responsável" e que, a pretexto de um alegado "sentido de Estado", faz questão de permanecer temente ao poder, simpático para quem manda (quem quer que seja) e hostil para os que recusam fazer parte da manada. É o jornalismo dos eleitos que se acham parte do mundo dos ministros e dos CEO, assumindo com orgulho o papel de caixas de ressonância do Poder. Perante isto, antes o tal "mau jornalismo" de que Rui Rio se queixa.
00:05 h
Filipe Alves
filipe.alves@economico.pt
Económico
Rui Rio queixou-se na semana passada que a comunicação social portuguesa divulga "demasiadas notícias sem verdade, rigor, isenção e independência".
O ex-autarca da Invicta defendeu ainda que, no nosso país, a "prioridade da comunicação social é tudo menos social". Rui Rio tem razão em exigir um jornalismo mais verdadeiro, rigoroso, isento e independente. No entanto, os políticos portugueses, da Esquerda à Direita, têm uma importante quota parte de responsabilidade nos problemas que Rui Rio identifica. Em primeiro lugar, os jornalistas, como quaisquer outros profissionais, erram amiúde. É verdade. Mas errariam muito menos se os políticos e os dirigentes de organismos públicos não colocassem tantos entraves ao seu trabalho, dificultando o escrutínio de assuntos que dizem respeito a todos os cidadãos. Por exemplo, se cumprissem as leis da República que os obrigam a permitir o livre acesso dos jornalistas aos documentos administrativos. Ou se levantassem o espesso véu que, com frequência, cobre os grandes negócios a cargo do Estado. Senão vejamos: para além de um círculo restrito, alguém conhece os valores exactos das ofertas de compra do Novo Banco?
E o que dizer das estratégias de comunicação governamentais que, não raramente e independementemente dos partidos que estão no poder, consistem sobretudo na manipulação da informação e no condicionamento do trabalho dos jornalistas?
Este condicionamento vai desde os obstáculos simples, como não responder às questões de alguma imprensa, a outros mais maldosos: por exemplo, negar o acesso à informação que deveria ser tornada pública e depois passá-la a conta gotas, devidamente filtrada e "trabalhada", a jornalistas "amigos". Essas estratégias de comunicação, que poderão ser aceitáveis em instituições privadas mas jamais em entidades públicas, são há longos anos uma prática comum em Portugal. Se Rui Rio quer dar lições de moral sobre o estado do jornalismo, talvez fosse boa ideia pregar primeiro aos membros da sua própria casta.
Por outro lado, aquilo que a maioria dos políticos define como "bom jornalismo" costuma ser, invariavelmente, o jornalismo que lhes dá jeito. É o jornalismo que depende de "fontes oficiais" e faz de conta que tudo o resto não existe. É o jornalismo que pede licença para investigar e fazer o seu trabalho. É o jornalismo dito "responsável" e que, a pretexto de um alegado "sentido de Estado", faz questão de permanecer temente ao poder, simpático para quem manda (quem quer que seja) e hostil para os que recusam fazer parte da manada. É o jornalismo dos eleitos que se acham parte do mundo dos ministros e dos CEO, assumindo com orgulho o papel de caixas de ressonância do Poder. Perante isto, antes o tal "mau jornalismo" de que Rui Rio se queixa.
00:05 h
Filipe Alves
filipe.alves@economico.pt
Económico
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