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A obrigação de pensar
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A obrigação de pensar
O mínimo de memória histórica obriga a recordar que numa sociedade vertiginosa como a nossa, fazer-se de moderno tem vida curta. As últimas legislativas são exemplo disso
Em política foi-se estabelecendo a ideia de que o ato de transformar está em grande medida relacionado com a renovação dos quadros políticos dirigentes e também, de algum modo, com o seu rejuvenescimento.
Significa isto que o novo é necessariamente melhor que o velho, os jovens mais renovadores que os adultos e que é de maior confiança quem não tem nenhuma experiência política, em detrimento dos que têm um largo percurso feito nos caminhos da política?
Creio que a larga duração da crise social, económica e política a que estamos sujeitos, com um inevitável derrube das certezas, que pareciam até aí sustentadas em garantias indiscutíveis nas suas premissas, bem como o esfumar de inúmeras esperanças, provocou o nosso repúdio do conhecido e testado, e o preferirmos qualquer coisa desde que seja desconhecida e nova.
A lógica da moda, que torna tudo efémero e precário – também no caso da política –, produziu e sobrevalorizou um conjunto de fenómenos, de existência transitória, que caducaram ainda mesmo antes de se perceber ao que vinham.
É uma forma de fazer e de entender a política em que o valor principal é a novidade e o pior pecado consiste em ser parecido com o antigo.
O qualificativo de novo ou velho, em muitos casos, tornou-se o argumento político fundamental. Ora sabemos que isto não é verdade, e nem mais ou menos os desafios políticos que em todas as áreas da vida somos obrigados a resolver se reduzem a esta simplificação que, mesmo que não escrita em programa ou manifesto, é assumida como valor-padrão absoluto.
É neste contexto que aparecem as chamadas forças emergentes, renovadoras, cujo principal valor é a virgindade em política.
Nesses momentos, a nossa observação e reflexão não deve ser sobre o que parece tão sedutor e novo, mas em relação aos que se deixam seduzir por algo cujo principal valor é não terem passado, a sua indigência de programa e o seu discurso genérico.
Algo está a acontecer aos alicerces do sistema democrático e da própria perceção da razão de ser da prática política – e o medíocre comportamento dos políticos tradicionais não é estranho a isso – para que exista tanta gente disposta a abraçar um encontro às cegas, com o mais que previsível divórcio por falta de cumprimento de expectativas.
O mínimo de memória histórica obriga a recordar que, numa sociedade vertiginosa como a nossa, fazer--se de moderno tem vida curta. As últimas legislativas e a febre de microespasmos de organização que pululou, nos últimos três anos, na vida política portuguesa são disso bom exemplo.
Nesta sociedade onde nada se sustenta, onde o efémero e o vazio se estabelecem como valores e onde o flash, o sound bite, a passadeira e o disc jockey são as referências de uma decadência anunciada, o moderno não tem vida larga, convertendo-se em algo antigo, e o que parecia velho resiste e reaparece.
Na pressão e voragem de apresentar sempre coisas novas, acelera-se a caducidade de outras, e isto é válido e imposto tanto para brinquedos como para as políticas.
Se recordarmos as ofertas e promessas políticas dos últimos anos, vamos descobrir que desapareceram, ou estão a caminho disso, aqueles que até há pouco se apresentavam como a vanguarda política, moral ou económica.
O tempo castiga a vanguarda e trata mal os que unicamente se apresentam como modernos, muitas vezes com a soberba da arrogância por companhia. Por isso é aconselhável oferecer programas sustentados em valores reconhecíveis, visto que, se o eleitor pode apreciar o novo, não deixará também de se sentir seguro com a experiência e competência demonstrada.
Quem sabe, tratando-se de fenómenos políticos e sociais, se estamos num funeral ou num batismo, perante um ciclo ou uma tendência? Numa repetição, num volte-face da História?
No mundo da política tudo é, como dizia Raymond Aron, “antecipações que esperam o juízo do tempo”. Serão os outros, os do futuro, que terão uma melhor perspetiva que foi o verdadeiramente novo e o irremediavelmente velho numa época histórica anterior.
A intensidade dos nossos debates políticos obedece, em ultima instância, ao que vivemos num determinado momento histórico em que se está, por exemplo, pela ação de eleições, a redistribuir a autoridade política entre níveis de poder e governo, com competências diferentes, representações contestadas e identificações por vezes difíceis de ordenar.
Não é estranho que tudo isto produza perplexidade e desorientação, e que aconteça no meio de intenso debate em que jovens “revolucionários” deslizam para a direita e velhos “conservadores” abraçam movimentos de rutura.
Façamos as nossas opções, mas conscientes de que o futuro pode dar--nos razão ou desmentir-nos em absoluto. Então talvez possamos ver o que há de novo no antigo e de velho no moderno, o que há de oportunismo e de oportunidade, como resiste o que existe e de que forma é capaz de se adaptar às novas realidades e circunstâncias.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras
11/02/2016
Artur Pereira
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Em política foi-se estabelecendo a ideia de que o ato de transformar está em grande medida relacionado com a renovação dos quadros políticos dirigentes e também, de algum modo, com o seu rejuvenescimento.
Significa isto que o novo é necessariamente melhor que o velho, os jovens mais renovadores que os adultos e que é de maior confiança quem não tem nenhuma experiência política, em detrimento dos que têm um largo percurso feito nos caminhos da política?
Creio que a larga duração da crise social, económica e política a que estamos sujeitos, com um inevitável derrube das certezas, que pareciam até aí sustentadas em garantias indiscutíveis nas suas premissas, bem como o esfumar de inúmeras esperanças, provocou o nosso repúdio do conhecido e testado, e o preferirmos qualquer coisa desde que seja desconhecida e nova.
A lógica da moda, que torna tudo efémero e precário – também no caso da política –, produziu e sobrevalorizou um conjunto de fenómenos, de existência transitória, que caducaram ainda mesmo antes de se perceber ao que vinham.
É uma forma de fazer e de entender a política em que o valor principal é a novidade e o pior pecado consiste em ser parecido com o antigo.
O qualificativo de novo ou velho, em muitos casos, tornou-se o argumento político fundamental. Ora sabemos que isto não é verdade, e nem mais ou menos os desafios políticos que em todas as áreas da vida somos obrigados a resolver se reduzem a esta simplificação que, mesmo que não escrita em programa ou manifesto, é assumida como valor-padrão absoluto.
É neste contexto que aparecem as chamadas forças emergentes, renovadoras, cujo principal valor é a virgindade em política.
Nesses momentos, a nossa observação e reflexão não deve ser sobre o que parece tão sedutor e novo, mas em relação aos que se deixam seduzir por algo cujo principal valor é não terem passado, a sua indigência de programa e o seu discurso genérico.
Algo está a acontecer aos alicerces do sistema democrático e da própria perceção da razão de ser da prática política – e o medíocre comportamento dos políticos tradicionais não é estranho a isso – para que exista tanta gente disposta a abraçar um encontro às cegas, com o mais que previsível divórcio por falta de cumprimento de expectativas.
O mínimo de memória histórica obriga a recordar que, numa sociedade vertiginosa como a nossa, fazer--se de moderno tem vida curta. As últimas legislativas e a febre de microespasmos de organização que pululou, nos últimos três anos, na vida política portuguesa são disso bom exemplo.
Nesta sociedade onde nada se sustenta, onde o efémero e o vazio se estabelecem como valores e onde o flash, o sound bite, a passadeira e o disc jockey são as referências de uma decadência anunciada, o moderno não tem vida larga, convertendo-se em algo antigo, e o que parecia velho resiste e reaparece.
Na pressão e voragem de apresentar sempre coisas novas, acelera-se a caducidade de outras, e isto é válido e imposto tanto para brinquedos como para as políticas.
Se recordarmos as ofertas e promessas políticas dos últimos anos, vamos descobrir que desapareceram, ou estão a caminho disso, aqueles que até há pouco se apresentavam como a vanguarda política, moral ou económica.
O tempo castiga a vanguarda e trata mal os que unicamente se apresentam como modernos, muitas vezes com a soberba da arrogância por companhia. Por isso é aconselhável oferecer programas sustentados em valores reconhecíveis, visto que, se o eleitor pode apreciar o novo, não deixará também de se sentir seguro com a experiência e competência demonstrada.
Quem sabe, tratando-se de fenómenos políticos e sociais, se estamos num funeral ou num batismo, perante um ciclo ou uma tendência? Numa repetição, num volte-face da História?
No mundo da política tudo é, como dizia Raymond Aron, “antecipações que esperam o juízo do tempo”. Serão os outros, os do futuro, que terão uma melhor perspetiva que foi o verdadeiramente novo e o irremediavelmente velho numa época histórica anterior.
A intensidade dos nossos debates políticos obedece, em ultima instância, ao que vivemos num determinado momento histórico em que se está, por exemplo, pela ação de eleições, a redistribuir a autoridade política entre níveis de poder e governo, com competências diferentes, representações contestadas e identificações por vezes difíceis de ordenar.
Não é estranho que tudo isto produza perplexidade e desorientação, e que aconteça no meio de intenso debate em que jovens “revolucionários” deslizam para a direita e velhos “conservadores” abraçam movimentos de rutura.
Façamos as nossas opções, mas conscientes de que o futuro pode dar--nos razão ou desmentir-nos em absoluto. Então talvez possamos ver o que há de novo no antigo e de velho no moderno, o que há de oportunismo e de oportunidade, como resiste o que existe e de que forma é capaz de se adaptar às novas realidades e circunstâncias.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras
11/02/2016
Artur Pereira
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
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