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O novo confronto mundial
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O novo confronto mundial
O grande confronto, hoje, dá-se entre regimes abertos e liberais, de um lado, e regimes fechados e autocráticos, do outro.
No próximo dia 16 de Abril realiza-se na Turquia um referendo sobre uma lei que dará a Erdogan vastos poderes. Caso vença o referendo, o Presidente turco passará a chefiar o governo, desaparecendo o primeiro-ministro, como acontece nos Estados Unidos. Com algumas importantes diferenças: Erdogan poderá controlar a justiça, incluindo o Tribunal Constitucional, e será autorizado a governar por decreto, ultrapassando o Parlamento.
Será, assim, reforçada a deriva autoritária na Turquia, onde milhares estão presos por motivos políticos, incluindo dezenas de jornalistas. E foram ali realizadas purgas gigantescas nas forças armadas, no sistema judiciário, na educação e na polícia. O motivo – ou o pretexto – foi uma aparente revolução abortada em Julho.
Ganhar este referendo explica, em parte, os insultos que Erdogan dirigiu à Alemanha e sobretudo à Holanda, por terem impedido comícios no seu território com a participação de políticos turcos – como, aliás, fizeram outros países europeus. Porquê tanta violência verbal? Talvez sejam provocações para preparar um corte com os aliados ocidentais – uma sério problema para a NATO, a que a Turquia ainda pertence.
Acirrando este conflito, Erdogan visa também obter os votos dos emigrantes turcos no referendo e ajudar as forças anti-imigrantes e anti-UE em vários países europeus. Parece paradoxal, mas não é.
Aproximação Erdogan-Putin
Existe, agora, um claro alinhamento entre os políticos autoritários, favoráveis à chamada “democracia iliberal”, hostis à integração europeia e à democracia liberal. Erdogan aproxima-se de Putin; a Turquia comprou à Rússia mísseis antiaéreos e antimísseis, que antes eram fornecidos por países ocidentais.
Erdogan, que está a islamizar o seu país, apoia Putin no esforço para enfraquecer as democracias liberais do Ocidente. Em parte por se ter frustrado a prometida integração da Turquia na UE; e porventura, também, porque o islâmico Erdogan aposta vir a liderar um grupo significativo de países árabes e muçulmanos opondo-se aos “infiéis” ocidentais. Países onde, falhada a primavera árabe, predominam as autocracias.
Da parte de Putin não existe propriamente ideologia antidemocrática, mas a exploração de um profundo ressentimento da população russa por ter visto o seu país passar de superpotência no tempo do comunismo para uma mera potência regional, economicamente fraca (sobretudo quando, como agora, o preço do petróleo está baixo). Terá também havido, aí, algum descuido da parte ocidental, que no alargamento da NATO e da UE não teve em devida conta a sensibilidade russa ao cerco.
É o que explica o apoio, incluindo financeiro, que Moscovo actualmente presta aos partidos xenófobos e eurocépticos da Europa. No tempo da União Soviética esta contava com aliados na Europa ocidental – os partidos comunistas, em Itália e França sobretudo; agora Putin cultiva os seus amigos xenófobos e eurocépticos na UE.
Trump do lado iliberal
E os Estados Unidos, como se situam neste conflito? Os EUA estão divididos. Mas é indubitável que Trump e quem o apoia não apreciam a democracia liberal. O Presidente americano, que julgava ter o poder quase absoluto de um CEO empresarial, já começou a perceber que há limites democráticos internos e não gosta deles. E vê a imprensa livre, indispensável à democracia, como seu inimigo principal. Na economia Trump promove o proteccionismo, a rejeição de acordos multilaterais e a hostilidade ao imigrante. Não surpreendem, assim, as curiosas ligações de Trump e seus colaboradores à Rússia de Putin.
O grande confronto actual é, pois, entre sociedades abertas e liberais, de uma parte, e sociedades autoritárias e fechadas, da outra. A novidade é ver os americanos – ou boa parte deles – do outro lado da barricada, combatendo valores democráticos e uma ordem internacional que os EUA ajudaram a construir depois da II Guerra Mundial. Infelizmente, também a UE conta entre os seus membros países cujos governantes defendem a “democracia iliberal”, como a Hungria e a Polónia.
Mas o regime de Trump poderá não durar muito. Como sempre, quando os demagogos chegam ao poder enfraquecem, porque não conseguem concretizar muito do que prometeram. Vejam-se os problemas decorrentes de acabar com o Obamacare: 24 milhões de americanos poderão ficar privados de seguro de saúde. Há congressistas republicanos que não apreciam essa possibilidade, receando pela sua próxima reeleição.
18 mar, 2017
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
Rádio Renascença
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