Sines – Badajoz: o maior corredor de mercadorias está a nascer

É o maior projeto que a Infraestruturas de Portugal se prepara para coordenar até 2021 e é aquele que propiciará a maior extensão de linhas novas construídas em Portugal desde a 1ª metade do século XX. O grande projeto Sines – Badajoz chega finalmente à sua fase de execução e já este ano arrancam as obras entre Évora e Elvas.

Se o troço Évora – Elvas já estava perfeitamente definido – tem inclusivamente financiamento comunitário já garantido e projetos de execução em curso – o mesmo não se pode dizer da linha Sines – Grândola, agora confirmada. O projeto, direto descendente dos planos de infraestruturas do Estado Novo, verá finalmente a luz do dia e será a pedra angular na estratégia de expansão terrestre da área de influência do porto de Sines, ajudando ao mesmo tempo a potenciar de igual modo o porto de Setúbal e, caso venha a ver a luz do dia, o novo terminal de contentores da Margem Sul do Tejo.

Ao todo, 110 quilómetros novos verão a luz do dia, a maioria dos quais em direção à raia alentejana e já com financiamento garantido. Entre Évora e Elvas será possível viajar a uma velocidade até 200 km/h segundo informações recolhidas e os comboios de mercadorias contarão com rampas suaves permitindo a uma locomotiva de tipo 4700 da CP Carga rebocar 1.600 toneladas. Évora e Elvas ficarão separadas por cerca de 30 minutos, o que poderá permitir comboios entre Lisboa e Elvas em cerca de duas horas – com a linha de alta velocidade em finalização do lado espanhol, será possível utilizar esta linha para ligar Lisboa e Madrid em cinco horas.

Entre Évora e Elvas haverão 2 a 3 estações técnicas para cruzamentos e ultrapassagens, permitindo compatibilizar os diversos tráfegos previstos. Junto a Elvas, uma concordância permitirá aos comboios, sem inversão, tomarem tanto o sentido de Elvas e Portalegre, como acederem a Badajoz. Entre Elvas e Badajoz a linha do Leste será renovada e eletrificada, recebendo os mesmos equipamentos de sinalização e segurança ETCS.

De Évora a Bombel, será aproveitada a linha integralmente renovada em 2011, e entre Bombel e Poceirão a linha atual será renovada e duplicada, permitindo assim aumentar a capacidade disponibilizada num troço já hoje em dia bastante saturado. A velocidade de ponta será elevada para 200 km/h. Idêntica duplicação deverá ocorrer entre a ribeira da Marateca e a estação do Pinheiro, já na linha do Sul.


Por fim, nascerá uma nova linha entre as estações técnicas de Grândola Norte e da Raquete, junto à zona industrial de Sines, com 1 a 2 estações técnicas e que possibilitará aos comboios evitar as rampas de Azinheira dos Barros e Cumiadas, esta última na atual linha de Sines e que limita uma locomotiva 4700 a apenas 1.040 toneladas, a principal limitação à produtividade dos comboios de mercadorias. Pela nova linha e continuando até ao Poceirão, estas locomotivas poderão rebocar 1.400 toneladas sozinhas, um aumento de 35% na produtividade e que se repercutirá de forma muito relevante nos custos unitários de transportes propostos pela ferrovia. O incremento de capacidade que esta solução induz não é desprezável, já que passará a existir uma virtual via dupla entre Sines e o Poceirão, usando a nova linha de Sines, a velha linha de Sines, a variante de Alcácer e a linha do Sul.

Ao todo, entre Sines e Badajoz serão poupadas mais de três horas de trajeto para comboios de mercadorias, o aumento da tonelagem por locomotiva será de 1040 para mais de 1400 toneladas, serão poupados mais de 150 quilómetros de percurso e será usada apenas tracção elétrica em vez da combinação elétrica + diesel.

Ao mesmo tempo, o porto de Setúbal, Lisboa e o novo terminal de contentores da Margem Sul do Tejo terão à disposição uma ligação de altas performances em direção a Espanha, onde estes portos têm já uma presença relevante e cujo crescimento está hoje dependente da melhoria da competitividade das ligações ferroviárias.

13 FEVEREIRO, 2016
Portugal Ferroviário